Andando pela floresta, o monge se prepara para acampar e descansar de sua interminável caminhada pela iluminação e libertação de sua alma, sempre atribulada...Ele se assenta e contempla a escuridão por um tempo antes de acender sua fogueira, pois os homens devem sempre dar valor a luz que receberam e temer sempre as trevas...Antes de se alimentar ele espera para sentir realmente fome, pois somente conhecendo de nossas necessidades podemos, podemos nos prover do que realmente precisamos...O tempo segue e ele não adormece, espera a chegar também suas necessidades ao limite para então aceita-las. O homem deve fazer a sua parte para então ter sua recompensa digna e necessária, somente isso.
Cansado ele se recosta em uma árvore de onde próximo fez a fogueira, pois também servia de um bom abrigo, acantonado em uma manta recoberto por lona de couro curtido e parafinado dorme seguro e quente, em meio a escuridão do mundo...Como poderia dormir tranquilamente se não confiasse seu espírito no fogo, e no local onde escolheu para se deitar? E como escolher com tal tranquilidade se sua alma tivesse duvidas do percurso que trilhava, se achando perdida? Quem trilha na certeza por mais que digam nunca esta perdido, pois segue o caminho da tradição, e eles sempre levam a algum lugar de seu interesse.
Eram horas altas quando o monge escuta e sente algo se aproximar, ele se acomoda melhor no recosto da árvore para ver e receber melhor seus visitantes, afinal pelo barulho que faziam eram mais de uma pessoa. De dentro das sombras vieram três velhas, com mantos negros, sacolas e cajados e pediram para compartilhar o o fogo, eo monge gentilmente aceitou.
- Donde vens monge, que busca nesse canto escuro onde só as trevas dominam, mesmo durante o dia ? Perguntou uma das velhas.
- Meu caminho se faz a cada manha em busca da iluminação, senhora, e tudo o que necessito eu encontro nesse meu caminho, para chegar a tal!
- Quer dizer que nós nos tornamos momento de sua iluminação, quando chegamos a ti em seu caminho? Isso nos lisonjeia muito. não é meninas? - Comenta outra velha as outras riem freneticamente...
- Por ventura acho que sim, todos temos algo a oferecer mesmo que seja o que a nosso olhos rejeitamos, de princípio - aquelas palavras calam as velhas e elas o encaram fixamente.
- Monge, entenda, somos bruxas e muito malignas, essa floresta é nossa desde tempos imemoriais e tudo nos pertence, e aquilo que ainda assim não nos pertencer, nos tomamos e é por isso que viemos a ti, o que tem para nós, além de sua vida medíocre? - A conversa se tornou coisa séria mesmo, dessa vez.
- Poderia dar-lhes um pouco de fé e também uma chance de viverem em paz, que tal?
As bruxas, se entreolharam, cada qual afinando os seus olhos negros e cada qual também respondeu a altura e disse uma:
- Eu tenho por nome Vaidade pois sou assim e não me deixaria rebaixar à piedade pueril de um mendicante, por isso não me agrada a tua oferta fugaz!
- Eu tomo por nome Orgulho e sou a maior e grande entre as três, acima de mim nada pode ser e não será a tua piedade que me porá abaixo do que é meu e só meu!
- E u tenho por nome Maldade, e das três represento seus espíritos. Com a maldade seduzo tudo e a todos colocando até irmão contra irmão, filhos contra pais...A paz nunca me foi bem vista, por isso mesmo que não me satisfaz sua oferta medíocre!
Todas gritavam e caçoavam do monge pelas oferta tão vazia aos seus olhos, sem brilho do ouro ou prata..Então elas evocaram as criaturas mais medonhas da escuridão, que só de olhar causavam asco e terror os olhos mortais...Mas, ainda passivo e sentado, sem se alertar ou sequer assustar continuava o monge, esperando pelo seu terrível fim!
- Sim, monge, e agora quais suas últimas palavras? -retruca a Maldade talvez a pior delas.
- Que eu tentei, não procurei o conflito e não lutarei contra algo que me foi negado, a própria morte, pois é essa minha peregrinação em busca de uma boa morte e se forem vocês que me acolherão nisso, so tenho a agradecer!
As bruxas um tanto curiosas pararam por um momento e repensaram, quem procuraria a morte e se essa lhe fosse negada , seria por uma força muito maior que a de um simples monge, mas a Maldade como sempre ansiosa de ver sangue dos outros escorrer levantou sua adaga que escondia na ponta de cajado e se lança como fera a deslanchar o primeiro golpe...Contudo sua mão é parada em pleno ar por algo invisível e muito forte...
- Vê minha senhora, essa é a razão de eu pedir a paz,não para mim, mas para vós, e seguirem ainda vivas, mas já é muito tarde pois atiçaram a dona desse brinquedo irônico, e ela é muito ciumena com o que brinca.
Em um jato de ar quente, a mão da Maldade é decepada de um só golpe até então invisível e as outras bruxas se encolhem quando a voz sai de dentro do vento, e da mais profunda e escura noite...
- Quem ousa a mexer com o monge, mexe comigo pois serei a única a lhe arrancar a vida no momento certo e ninguém mais!!!
E de um rodamoinho de vento e fumaça negra saíram mil cortes que desmembraram num instante as três bruxas e botaram pra correr toda a catrefa de bichos ruins que as toscas nas piroscas resolveran invocar, agora o monge teria uma nova convidada e ela como gostava de brincar, trouxe seu joguinho de chá, sentou-se e lhe serviu, após tamanho desmonte de cena de terror, como se nada houvesse ocorrido. De pele alva e olhos tão negros quando a noite, a senhora morte e menina sapeca, mas também ciumenta de seus brinquedos preferidos, e com um largo sorriso branco diz:
-Então Mooshradoom, com prefere o chá, com muito, pouco ou nenhum açucar?
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