Após 3 dias de suplicio no hospital, Joel entrou cansado para dentro de sua casa e sua mulher nem perguntou muito pois a notícia, por aquelas bandas corre adoidado pelo vento da fofoca...Era tarde e ele preparou um lanche e após um banho Joel queria apenas de saber em dormir para pensar melhor noutro dia.
Naquele mesmo dia o padre vai apressado para Silveira, contar da morte terrível de Manoel, mas como o homem era dono de um jornal já sabia a tempos disso.
- Estou curioso com essa morte, afinal o Manoel era inofensivo e não fazia mal a ninguém, então com que razão matariam um homem a pancada numa trilha antiga e arrastariam o homem para uma estrada para ser encontrado? Isso não faz sentido! - disse o padre coçando a cabeça, como se isso o ajudasse a pensar melhor, para Silveira.
- Padre, só por especulação: A primeira poderia ser que ele também viu algo demais e resolveram calar sua boca de vez...
- Mas então por que não esconder o corpo e deixar á amostra?
- Temos a segunda, que seria deixar um recado bem claro a alguém, mas que motivo teriam contra o Manoel? O homem vivia mais no mundo da lua, do que na nossa realidade.
- Bom, partindo daí...Qual seria o seu mundo, no que ele acreditava? Talvez o que ele tenha descoberto, tenha perturbado o sossego de quem não queria ser visto nisso tudo, o quer que seja!
- Olha, todos sabiam de sua fixação no tesouro do roubo do trem pagador que se deu a muitos anos por perto dessas bandas...Mas como sabemos todos isso é uma lenda local, que já tirou o sossego de muito gente um tanto fora da casinha...
- Mas se a lenda for de um pouco verdadeira...Lembre-se Silveira de que dentro de uma lenda algo aconteceu para que se desse existência dessa...Talvez Manoel tenha chegado muito perto de algo ou até mesmo encontrado algo...
- Ou ALGO tenha encontrado Manoel !- Complementa Silveira , com seus instinto de jornalista a toda!
Amanheceu e Joel se levanta em silencio, muito mais sombrio do que o habitual... Pouco fala com a esposa e ela entende ou pelo menos tenta entender o que Joel esta sentindo naquele momento.
Joel se manda para a delegacia e chama seus capangas.
- Olha não quero saber de onde vocês vão conseguir, apenas eu quero que me tragam o velho mapa de minas dessas bandas, mas não chamem a atenção da prefeitura, inventem que seja para a investigação do crime do Manoel...Ou sei lá...E nenhuma pergunta a mais que isso certo?
- Certo chefe, deixe isso com a gente! Não vamos te decepcionar- disse Antão apressado em agradar o patrão.
Eles se retiram em busca de solucionar a sua missão o mais rápido possível e sem fazer nenhum estardalhaço, enquanto Joel fica sozinho na delegacia com seus pensamentos...Tudo aquilo era muito estranho e fantasioso e se ele não visse as provas com seus próprios olhos, ele não acreditaria num pio que se amigo Manoel deu antes de morrer.
- Joel- ele disse- você de todos é o meu maior bem, você antes de todos aqueles estúpidos da cidade acreditou em meus sonhos em minha busca e por causa disso hoje eu lhe deixo o meu tesouro, o que saiu de meus sonhos de minha busca...
- A muito tempo eu buscava pelo tesouro perdido do trem pagador...E minhas buscas não terminavam pois eu sempre procurava por ouro ou qualquer outra coisa palpável, até pedras preciosas que viessem junto desse ouro tão falado...Um dia eu estava andando pelas terras do Pedro Mogés e encontrei um velho ermitão morando no meio daquelas matas e parei pra tirar um dedo de prosa pois o tempo e nem minhas pistas estavam me ajudando mesmo...Eles me contou que viveu desde menino por aquelas bandas, e conseguiu até conhecer o tal Pedro Móges, enfim o homem também sabia da história do trem pagador, e ele deu risadas quando lhe perguntei se ele havia encontrado o ouro perdido. ele me disse que estava enganado em procurar algo e que deveria procurar alguém e aí eu não entendi, fiquei completamente perdido e aturdido com aquelas palavras.
Ele me disse que era um garoto quando ele entrou no trem pagador quando ele parou para abastecer a sua água das caldeiras..e dentro dele, o ermitão viu muita coisa, mesas bancos e malas, mas nenhum
dinheiro...Dentro do vagão de valores havia apenas uma menina sentada brincando com uns bichinhos de metal, e ele estranhou e perguntou para ela, se havia algum tesouro por aquele trem e ela respondeu que sim, e mais: disse que era ela o tesouro!
De momento nem mesmo o garoto que escutou aquilo também entendeu alguma coisa e ela continuou a afirmar que era ela, e para ele ter certeza ela pegou um pedacinho de vidro que estava no chão e furou a pontinha do dedo indicador e com outra mão ela pegou um besourinho que estava no chão e pingou seu sangue no inseto...E ele me disse com todas as palavras que o besouro se transformou em ouro puro como os bichinhos que ela brincava...Depois disso ela quis brincar com ele e saíram de lá por um tempo, andaram pela vila em que pararam...Nisso aparece dois homenzarrões e a pegaram á força e a clocaram de volta no vagão do ouro...Naquele tempo o garoto não tinha nenhuma maldade e sentiu que devia ajudar a sua amiga e então num lance de bom rapaz ele entrou clandestinamente no trem esperou que os homenzarrões saíssem de lá do vagão, quando foram comer alguma coisa de certo no vagão restaurante e a menina ficou sozinha brincando com os bichinhos dela...
Ele disse que ia tira-la de lá e simplesmente assim o fez! Puxou o cordão de emergência, o trem parou repentinamente e quando era seguro eles saltaram pela janela e de lá se mandaram mata adentro...Escapando com o que seria até o hoje o maior tesouro da história...Claro que os donos daquela menina não poderiam na época colocar tudo a perder contando a verdade publicamente , daí inventaram a história do bendito assalto ao trem pagador, para escaparem ilesos enquanto procuravam a menina, com seu toque e sangue especial.
Por anos viveram juntos o garoto e a menina, discretamente é claro, pois ele fugiu de casa e ficou muito melhor que o lar de maus tratos em que viva...E sabe o que era mais curioso, meu amigo, amenina não crescia de maneira igual a dele, era muito mais lento seu envelhecimento...A medida de que ele ficava mais velho a menina nem se coçava na idade...
O menino se sentiu com isso uma de irmão mais velho, que se elevou a sentimento de pai, pela idade e depois pelo de avô...Curioso né?
Então e aí vem o melhor da história meu amigo, naquela época Pedro Mogés estava muito fraco e velho e gostou de minha prosa e de meu interesse no tesouro perdido e me levou no esconderijo dele mostrando muita coisa de lá...Mostrou a caverna onde ele fez o que pode para parecer uma casa, um lar...Mostrou umas fotos dele com a menina jovem e depois de velho, era impressionante Joel, parecia tudo um sonho irreal!
Então ele me mostrou a menina! Sim ela ainda tava viva e como na foto pouco mudara, talvez o cabelo um pouco mais comprido...Eu estava aturdido, no mínimo! Pedro Mogés lhe disse que teria de viajar por um longo tempo e depois um dia voltaria, mas que deixaria eu o "titio Manoel cuidando dela...Ele simplesmente disse isso e na inocência, de uma criança ela simplesmente aceitou feliz e contente, que não ficaria mais sozinha tanto tempo assim...
Quando estava nos deixando o homem falou que sentia uma doença terrível corroendo seus ossos e sabia que não ia mais voltar e esperava que pelo menos a tratasse bem sabendo do segredo dela e mais ainda, ele me disse que com o passar dos anos ele aprendeu dois tipos dela prover o ouro, através do sangue e com amor ou através do sofrimento e da dor e que com o tempo ela era que nem passarinho, criava asas e se ia embora, contudo ainda não foi seu tempo...Ele dizia para não ser ganancioso e poderia viver tranquilamente ao lado da menina.
Por algum tempo eu tentei juro que tentei ser gentil, a muito tempo que não sou de andar em família nem mesmo de amizade, entende? Então eu ia de vez ou outra na cidade com tão pouco ouro, e todo mundo me tirava do sério, faziam gozações, aquilo me enchia muito, forma tempos difíceis e tratei mal a menina sem ela merecer...A cada momento eu sonhava em encontrar outro tesouro, pois de momento eu nada sabia do que fazer com o que eu tinha...Então procurava o tesouro dos jesuítas que deixaram nos tempos do império aqui por perto dessas bandas quando o monsenhor deles morreu, e eles enterraram todo ele junto do defunto...A menina sempre foi um doce, mas não queria magoa-la...Então ficava ainda mais tempo longe a procura de um novo tesouro deixando ela cada vez mais sozinha e em meio a um tempo e outro eu ia comprar mantimentos que era para ela e deixava na caverna..Mas ela sempre brincou sozinha com seus bichinhos que ela fazia, e ainda me dava um ou outro de vez ou outra para que continuasse a procurar meu tesouro, aquilo quase sempre me derretia o coração credo!
Bom ele me pegou quando eu deixei a vigia para ir levar mantimentos pra menina, na trilha da mula manca tem uma caverna conhecida como caverna do Janjão...Meu amigo! Estou lhe confiando meu único tesouro, tanto de ouro como de coração, vá procure-a aprenda como lidar com ela...Seu coração é mais frio que o meu e seu proveito pode ser maior...Mas pelo amor de Deus, me escuta, saia dessa maldita cidade, ela é nossa maldição, nossa ruína...Vá para bem longe com sua esposa e seja feliz, pelo menos uma vez na vida!
Então diante desse esforço tremendo Manoel deu seu último suspiro e morreu, num leito humilde da cama de um hospital...Agora lembrando de tudo isso Joel, teria de tirar finalmente a conclusão, pois os capangas vieram com os mapas mais antigos e ele encontrou bem assim como foi falado a caverna do Janjão dentro da velha trilha feita por Pedro Mogés a muito tempo esquecida, desde que as madeireiras chegaram a Saudades...Aquilo sim foi um achado, melhor um presente dado de um verdadeiro amigo, talvez o único em quem Joel pôde confiar