Contudo o tempo aos poucos se mostrou diferente para o padre, pois desde a última conversa com aquele estranho, sua mente lhe cobrava tanto, quanto a penitência pesada de um pecador...Ele sabia que deveria naquele dia fatídico ter se pronunciado, mas era novo na igreja e precisavam de atitudes fortes, para que a igreja se tornasse forte como sempre a será! Agora vem o baque de seus medos, quando percebeu que no futuro o homem não seria mais digno de Deus, e seria condenado por ele a extinção! O que fizemos? Como chegamos a isso? Claro que eram perguntas de retórica...No fundo o padre sabia que a muito tempo que andamos a paços largos para o fundo do poço!
Nosso egoísmo de pensarmos no máximo em nossa família e amigos, e o resto que se exploda; a avareza de querer sempre ter mais e mais; a imbecibilidade de misturar políticas sujas com a religião; nossa falta de compaixão, com excessos de conceitos e muito mais de preconceitos...Deus! E tudo isso não tem como parar, por mais que odiasse pensar, mas sim Deus nós somos ...Humanos!
Claro que não foi de se admirar, que os sermões do padre na capela, se tornassem cada vez mais ácidos e amargos, de se engolir...O homem tentando fazer sua parte, tocava fundo na ferida de cada falta, que no fundo sabia de cada qual. Com isso os devotos começaram a sumir lentamente, afinal até então era apenas uma brincadeira e até uma vaidade, participar daqueles sermões...Agora que param de brincar e se voltam a falar sério, sobre a danação e o pecado, lembrando que além do paraíso também tem um inferno, e que cada um tem mais chances de arranjar um cantinho escuro, pois vivem no erro por que querem? Não, isso não é nada agradável de se ouvir...Pois é , a verdade sempre dói!
Até mesmo os amigos do padre notaram seu amargor e num certo momento Silveira foi ter com ele uma prosa e tentar entender toda aquela acidez nas palavras e convidou para um café no restaurante da cidade... E parece que o padre de bom grado aceitou. E no restaurante conversaram trivialidades até que Silveira espeta a ferida e pergunta ao padre se algo o incomodava, ele sincero abre o jogo.
-Amigo Silveira, desde aquele nosso resgate homérico das palavras daquele estranho, que tenho isso, entalando na garganta...Não consigo acreditar que nossa destruição seja total e vinda do Nosso Senhor, credo!
- Mas padre...Você mesmo não acredita no apocalipse? O final dos tempos? Não é o que a igreja prega?
- Claro, sou um bom cristão! Mas mesmo nessa tribulação está escrito que haveria esperança para aqueles que se arrependessem, que a salvação nos era garantida pelos nossos atos...Mas pelo que entendi, fomos condenados de maneira genérica, e pela nossa espécie...? Será que não merecemos ser separados, os certos dos errados? Por Deus homem, todos fomos lançados a condenação eterna! Até mesmo as crianças, isso é uma loucura!