Era uma vez um homem idoso, um policial aposentado de uma força militar, que vivia em uma localidade há mais de cinquenta anos. Todos os dias, durante sua carreira, ele fazia o caminho até sua unidade operacional a pé, passando ao lado de um centro agroveterinário. Nesse trajeto, ele notou algo curioso: um pica-pau que o seguia de perto, observando-o entre as árvores.
Inicialmente, o homem achou aquilo uma simples coincidência. No entanto, à medida que o tempo passava, a ave se aproximava cada vez mais dele, chegando ao ponto de acompanhá-lo pelos muros enquanto ele seguia até seu destino. Intrigado, o homem decidiu conversar com seu pai sobre esse fato, pois ambos seguiam a crença dos antigos, que dizia que nada acontecia ao acaso.
Seu pai explicou que algumas criaturas da natureza recebiam um dom especial e se tornavam verdadeiros espíritos vivos, embaixadores do divino da natureza. E ele, na forma desse pica-pau, havia acabado de conhecer um desses embaixadores. Assim, o homem guardou esse segredo entre ele, seu pai e a ave.
O tempo passou, e a ave continuou a acompanhá-lo. Quando o homem se sentia triste ou angustiado, o pica-pau se aproximava e pousava em seu ombro, como se estivesse o consolando. A vida do policial aposentado era repleta de desafios e momentos difíceis. Sua carreira militar no ramo policial o expôs a situações de injustiça e atos desumanos, que o faziam questionar sua própria humanidade.
No entanto, seu embaixador sempre estava lá para tentar levantar seu humor. O tempo passou, muito mais do que para um pássaro comum. Gerações se passaram, mas curiosamente aquele pica-pau ainda vivia ali, imperceptível para a maioria, simples e insignificante. Mesmo após tantas perdas ao longo dos anos, o embaixador permaneceu ao lado do homem.
O significado de tudo isso ainda era desconhecido para o homem, mas ele seguiu sua vida. Casou-se, teve filhos e compartilhou com o pica-pau todas as experiências, tanto as boas quanto as más. O pica-pau parecia transmitir essas histórias para algum lugar distante, sempre no final do trajeto próximo ao centro agroveterinário.
Trinta e um anos se passaram desde o dia em que se conheceram, e agora o segredo era guardado apenas pelos dois amigos. O homem, já aposentado, preocupava-se muito com seus filhos e raramente saía de casa. Mesmo assim, o pica-pau esperava por ele no horário habitual. E, mesmo quando não aparecia, voava para o céu e desaparecia no horizonte.
No entanto, o cenário ao redor do centro agroveterinário mudou ao longo do tempo. As fachadas das árvores foram cortadas para modernizar o local. Mesmo assim, o pica-pau continuava a aparecer, esperando por seu amigo quehavia muito tempo não retornava e não via mais. O homem, atormentado pelos problemas do cotidiano, com o acúmulo de contas e as preocupações com os filhos, lembrou-se de seu amigo de penas. Em um esforço para sair daquela rotina sufocante, decidiu largar tudo e partiu rapidamente, sem olhar para trás, em direção ao centro agroveterinário.
Ao chegar lá, deparou-se com uma cena triste: o pica-pau, seu fiel companheiro, havia sido atropelado por um dos carros dos administradores modernos do centro. A emoção encheu os olhos do homem ao ver seu amigo ali, na entrada do lugar onde costumavam se encontrar.
Sentindo-se o maior traidor, pediu licença aos administradores e, com cuidado e reverência, enterrou o embaixador próximo às árvores onde costumava se sentar para esperá-lo por mais de trinta anos. Agora, o segredo só era guardado por ele, um homem já marcado pelo peso da idade.
Em meio ao seu lamento, o homem decidiu revelar-me, a mim e a outros conhecidos, seu segredo mais íntimo. Transmitiu-me uma mensagem, que agora compartilho com você: quando a natureza cria algo divino, algo que não poderia morrer, o único que pode destruir essa divindade é o homem.
A partir desse momento, cabe a nós guardar e passar adiante esse segredo. O homem acreditava que devíamos aprender a respeitar e preservar as maravilhas da natureza, os embaixadores do divino, que nos acompanham silenciosamente ao longo de nossa jornada. E, mais do que isso, ele nos alertava sobre a capacidade do ser humano de destruir aquilo que é sagrado e belo.
Assim, deixo a você a responsabilidade de compartilhar essa história, de honrar a memória desse pica-pau e de refletir sobre a importância de preservar e proteger as maravilhas da natureza. Que essa história seja um lembrete de que somos parte de algo muito maior e que devemos ser guardiões daquilo que é divino e precioso em nosso mundo.
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