sexta-feira, 4 de setembro de 2015

ALMA AMALDIÇOADA

     O Vagante anda por caminhos obscuros e só, sem nada a comprometer nem mesmo seu próprio passado...A frente dele esta uma estrada da tradição que ele segue simplesmente por ir...A rente dele não muito distante depois de um longo tempo de caminhada, próximo a uma bifurcação, parada a entidade de uma alma feminina, obstruindo seu caminho...Possivelmente o que restou de algum desalento do passado de alguém que não terminou assuntos pendentes nas terras da Serra.
     A entidade sem falar ou advertir simplesmente ataca o vagante e com seu tremendo golpe desloca o corpo dele a metros do solo....O impacto é forte, seu corpo se estatela no chão, a dor é tremenda e sua mente é deslocada,por essa dor até ao seu passado, quando ele fugia junto com os animais de uma floresta de um incêndio  e deu de cara com um criminoso que fugia desenfreado em sentido contrário ao dele, sem saber que se ele entrasse por aquele caminho o malfeitor morreria assado... O homem também nem ao menos quis saber de ouvi-lo e se atracaram em um combate corpo a corpo enquanto o fogo os tentava maliciosamente encobri-los..Não haveria tempo para as devidas explicações, mais ma vez a natureza, o destino, seja lá o que for o coloca em xeque e nada mais se torna do que matar o morrer e o nosso vagante se mostra instintivo de maneira automática, sem pensar reage...E sobrevive!
      Sim ele entendeu bem cedo de que algumas coisas são porque tem de ser e não se pode em momentos de ação ponderar e pensar muito sobre tais desígnios e destinos, somente temos de sobreviver a cada golpe, a cada impacto, por mais forte e doloroso que possa ser, mesmo que tenha de se retirar forças, energias de dentro de suas entranhas ou de sua alma você tem de sobreviver!!!
Agora transportado para a realidade e de imediato perigo, suas forças saem em dobro das margens do rio do  passado...Sim, não seria a primeira e nem tão pouco a última vez de que ele iria por fim nesse combate...Assim encrespou sua mão na espada, velha mas sempre fiel ás suas batalhas da vida e sobre um salto desferiu golpes derradeiros que o colocaram a altura da entidade que entendeu, naquele momento que seu destino também estaria selado ao do vagante, dali somente sairia um e mesmo a entidade torcia para que fosse o vagante, pois em seus pensamentos fragmentados, enevoados pela dor da morte física ela lembra de sua dor, de sua perda...Marido e filhos por atos de violência que não a deixaram seguir em diante, sempre em busca de vingança no mesmo lugar que os malfeitores havia silenciados os seus maiores amores...E então mesmo saciada com o sangue dos algozes o tamanho ódio a fez continuar atacando a quem passasse no encruzo, até a chegada de alguém que colocasse fim em sua segunda e tortuosa vida...Mesmo quem sabe por um vagante,pois tal alma não era luxuosa aos desígnios.
      dentro de uma batalha sempre haverão dois lados da mesma moeda, mas sempre tenderá a cair para cima o lado que mais motivado e empenhado estiver com o embate...Novamente a sorte caiu sobre o vagante que apos um tempo eternal e longo crava seu punhal e espada no peito daquela pobre alma amaldiçoada pelo ódio e a violência, dando uma final paz a ela e quem sabe o encontro merecido aos dos seus...O vagante  recolhe suas armas e se pôs frente novamente a sua estrada , a seu caminho, então próximo ao primeiro passo de continuar uma jornada sem destino ele olha para trás por entre os ombros, o corpo falecido, estirado bem no centro do encruzo, da bifurcação...Não, nem mesmo ele poderia deixa-la assim, afinal era uma jornada sem tempo, sem ida ou vinda.
Então ele a enterra as margens da estrada, e lhe faz uma rústica cruz de madeira de cambará que durará muito tempo, que se testemunharia como um sinal de paz final aquele corpo atormentado, sim, paz!
       Afinal ele segue e no somar das contas ele é que se sente o perdedor e não o vencedor, e por um breve momento ele inveja o tumulo fresco...Então quando sua imagem vai sumindo no calor da estrada, uma rosa branca nasce e sobe, rapidamente enlaçando a cruz de cambará, e sim ela finalmente encontrou a paz...








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