quinta-feira, 31 de março de 2016

O LOBO EM PELE DE CORDEIRO.

      Tudo o que tange a Serra não é tão fácil de explicar, e muitas vezes entender, dessas mazelas do destino, então o serrano aprendeu com a vida e a dor a simplesmente aceitar a situação, e em maioria dos casos, sobreviver a ela...Pois avida só pode ser vivida assim de um dia para o outro, quando não se tem mais a certeza, da vida e nem da morte, nesses fins de cantos desse vasto mundo do Divino...
     Um aparte me apareceu em minha busca das histórias do passado desses personagens singulares que cruzaram a tanto tempo, quando ainda as Estradas da Tradição eram a pique e não se escondiam no calçamento de pedra ou asfáltico, desses tempos de hoje.
Nesse tempo os homens e animais na Serra sempre foram muitos próximos, muitas vezes até demais...Mas quem pode julgar o que se é selvagem, do belo e do puro, se tudo é uma coisa só?
essa éa história de Marcos um antigo soldado sem mais seu batalhão pois se perdeu em meio a uma grande batalha defendendo a fronteira, veio parar por perto daqui nos Cafundós, um local de gente boa e tranquila, até demais! Para eles a aceitação era suprema mesmo da morte, ou seja se morreu, simplesmente...Morreu!
     Ferido e um tanto agonizante, veio bater na casa de Solange Kutcha uma linda ovem solteira e sozinha morando em um sítio retirado do vilarejo mais próximo, que se virava como podia, nos afazeres sofridos do plantio...Era uma filha adotada pois o casal já era velho quando a encontrou. E o tempo não marca passo e segue inexorável, mesmo para os pais idosos e um dia a separação era inevitável...Mas como foi criada nos ritmos do Cafundó, as suas mortes se foram rapidamente de sua memória, bem como um segredo que seus pais guardavam e lhe diziam que um dia contariam, mas a morte lhe tirara a oportunidade da revelação desse segredo...Mas como disse tudo justificável, pois esse povo não chora o leite derramado e segue em frente, esse era o ditado que se ouvia lá do pessoal dos Cafundós.
      Marco apareceu em uma noite escura pedindo socorro, sangrando e mal acabado pela batalha em que seus companheiros se foram,bem como com todo o seus batalhão e com o sangue fluindo para fora de si, ele mesmo já se considerava mais um fantasma, do que homem...Solange não mediu esforço para ajuda-lo, pois era uma boa devota da vida, e o tratou como podia por dias, limpando o ferimento, fazendo seus chás que aprendeu de certa forma consigo mesma, uma vez que nunca tivera uma educação mínima, pois seus pais nunca a tiraram dali de seu sítio, nem esmo para ir ao vilarejo mais próximo e lhe diziam que era  um tempo difícil e perigoso, para crianças,mais ainda para meninas e jovens mulheres...Solange nunca questionou isso tudo pois amava seus velhos pais,e sabia que sempre queriam o melhor para ela, enquanto vivos.
      O tempo foi seguindo e lentamente Marcos também melhorava e seus relacionamento com Solange foi se encurtando par algo mais que a amizade, revelando um caso de amor sincero e puro...Então todo aquele tempo de escuridão de dor e sofrimento foi substituído pelos largos sorrisos de Solange e seus lindo olhos negros com a noite sem estrelas, o que lhe dava um sentido místico e quase angelical para essa jovem inocente das maldades do mundo...
E para Solange os dias foram preenchidos pelas histórias do mundo de lá de fora, pois Marcos que fora um soldado por longo tempo, andou por muitos rincões e estâncias para saber quanto grande era esse mundo do amado Divino...Então os dias se passaram por encanto e agora eram mais de 3 anos vivendo juntos, Solange estava na maioridade dos 21 anos e segundo a Tradição poderia casar nos ritos do sagrado logo que pudessem ter um encontro com o clérico em uma igreja  do povoado vizinho, pouco distante de onde moravam... Contudo para Solange estava muito bom assim mesmo, pois o que importava era o que sentia para com Marcos e não que um aliança seria necessário para ter a certeza dele em troca. Para Marcos, estava tudo bem pois compreendia com o passar do tempo o jeito daquele povo singular, de aceitar simplesmente o que a vida lhes dava, sem nunca reclamar das desventura que muitas vezes vinham, bem rápido, a cavalo, de encontro a seus destinos.
        Justamente assim que começou a mudança nas vidas desses dois jovens apaixonados, pois no dia seguinte aos 21 anos de Solange, ela começou a ter pesadelos, de que alguma coisa andava rondando a sua casa, o seu sítio...Ela acordava muitas vezes suada e cansada.Sonhara que corria atrás dessa coisa que rondava tentando acha-la, seja lá o que for e manda-la sair dali para que pudessem viver felizes e em paz para sempre...E era a paz o maior tesouro que você procura na Serra, mas tantas vezes é você que dá de encontro com o destino, mas dessa vez era o destino que batia a porta da casa deles, sem perdão do tempo que seguia sem cessar o seu curso, onde ele sera único sabedor e senhor.
      O tempo segui seu rumo insólido, e Solange no desespero de que aqueles pesadelos seriam um augúrio para o relacionamento de Marcos, contou a ele do que estava sonhando a meses, sempre a mesma coisa correndo e buscando essa coisa para manda-la embora de vez de suas vidas e os deixasse em paz...Marcos já andou muito com a morte por perto, para não desprezar nada que o colocasse e agora junto de Solange, novamente no rumo dessa sequiosa e velha companheira das tantas peleias e cruzadas que participou um dia...Disse para ela que ficasse em casa e então se trancasse por dentro e ele faria uma ronda nas terras para ver se realmente seus sonhos teriam algum sentido. Marcos sempre foi de ser precavido e nunca desrespeitar o passado, pois sempre guardara sua armadura e armas, de quando havia chegado no sítio e encontrado com Solange...Homens de batalha são assim apesar de parecerem serenos, sempre estão tensos esperando pela próxima que um dia sob qualquer forma há de vir...Talvez a sua última grande batalha e eles não querem decepcionar a senhora morte com uma morte fugaz, será sempre e de certa forma em campos de honra reais, indiretos, espirituais, emocionais...Sempre serão campos de honra...
      E assim se deu. Chegou a noite turva e escura, enganosa, e disso Marcos sabia bem usa-la pois se for para seu manto sem seu conhecimento de amante sua ela vira sua assassina cruel impiedosa e algoz...Colocou sua armadura, vestiu sua capa preta, manto pesado, que reforça mais ainda sua defesa...Ele se armou beijou Solange e disse: Dorme meu amor e sonha bem hoje pois eu te guardarei, nada vai te pegar nem nos separar eu prometo isso, com todas as forças de meu coração!
E assim Marcos partiu confiante que seu amor seria maior que o próprio poder do destino, com todo o jovem sonhador sempre o faz, vendo só a vitória, que de longe da realidade só se interessa em quem vive e quem morre!
      A noite se aprofundou cada vez mais e parecia mais escura que nunca, seu coração batia forte e ele seguia qualquer som ou movimento suspeito, pois ele sabe que esmo na noite, estranhas sombras se movem, e deve-se ficar a tento aos sinais, se quisermos identifica-las e mais, no final saber de suas reais intenções, sejam hostis ou não...
Então um barulho sutil,que foi difícil mesmo para ele um bem treinado nas artes da peleia pessoal a distinguir e uma voz fria veio direto a sua mente sem se quer passar por seus ouvidos: Nossa você é bom! Pensei que seria fácil, acabar com você para que Solange fique só comigo e mais ninguém...!
       Marcos se arma e se volta par uma grande sombra negra e peluda de olhos brilhantes, esbravejando que jamais isso ocorreria pois amava Solange do fundo de sua alma e ninguém a separaria dela, jamais!
      A criatura agilmente rondou  ao redor de Marcos, e algo selvagem parecia sair de seus olhos brilhantes, algo que um dia Marcos viu, mas não lembra de onde...A criatura hesita e lhe diz: Eu posso deixar passar, se você esquecer dessa promessa tola filho de Noé, você é jovem pode achar outro amor que abafe seus sentimentos por Solange, poderá criar sua família longe e feliz e ainda poderá viver mais um pouco...Eu fui feito para Solange e não tem como impedir isso...Esse era o segredo que seus pais queriam lhe dizer mais não tiveram tempo...Ela é filha da Noite e não de Noé...Somente com os de sua raça viverá em paz e livre e com mais ninguém. Ela esqueceu disso por ser muito nova quando a encontraram e um dia lembrará pois eu a farei lembrar então vá e nunca mais volte e poderá viver!
      Ah, os jovens e seus corações de fogo febril no que acreditam ser o verdadeiro amor, se entregam de corpo e alma a mais estranhas das causas: sentimentos!
Marco deu seu brado de guerra e avançou sem medo contra a criatura que entendeu que a libertação de Solange viria de qualquer forma, mesmo com sua morte, ou a de Marcos, ela não compreendia mas sentia e também urrou e avançou...Foi uma luta cruel, como todas as em que dois entramem peleia, mas só um saíra vivo, e quem sabem até que não...Demorou-se momentos eternos para quem disputa pela própria vida e além mais, a vida que para ambos eram importantes: a de Solange
      Ambos os inimigos eram formidáveis, garras e dentes, pelo duro e grosso, instintos naturais de um predador, contra a armadura de manto pesado espada e e adaga de aço, que forjaram um corpo a matar  em centenas de batalhas como essa...Afinal tudo parecia um empasse, mas como meu pai dizia, uma briga entre um cão e um lobo, quem perderá será o lobo, por mais feroz que seja o lobo não é matreiro que nem o cão da Serra, um mulambo...Nem lobo,nem cão...Mais que lobo, mais que cão.
Marco era um cão de guerra da Serra e venceu atingindo mortalmente uma ferida no peito da criatura e decepado uma de suas patas dianteira...Mas tudo isso custou caro para Marco que também saiu gravemente ferido e sem forças para se levantar e perseguir a fera para um golpe de misericórdia final, pois no fundo fora valorosa em lutar destemidamente, e merecia isso: luta digna, morte rápida, esse era o lema das peleias na Serra...
Ele descansou, fechou com bandagem feita de seu manto, os seus ferimentos, acendeu uma fogueira par manter  outras criaturas longe pois ainda cheirava a sangue. E se velou a noite inteira com sempre fazia após cada combate, somente assim sobreviveria dentro de sua mente também, a mantendo intacta, não enlouquecendo. seus ferimentos agora eram somados as muitas cicatrizes de outros ferimentos que nem valiam tanto assim a batalha, mas era mandado e lutava pois era feito  para isso...
      Mas agora pela manha e renovado, compreendeu que essa batalha em especial, foi talvez a maior de todas pois havia destruído a única coisa que lhe separava de sua verdadeira felicidade: Solange!
E mesmo com dores das feridas abertas seu sorriso era largo e aberto, pois voltaria a ver aqueles olhos...Brilhantes!
Deus, pensou Marcos, os olhos daquela criatura..Sim!Deus! Já os vi sempre...
Apavorado pelo temor frio da realidade que corria por cima de sua espinha como geada queimante, ele olha para a mão decepada no chão, e era a mão mais conhecida por ele, então.
Era aquela mão que o salvou, que ele amou, que ele beijou, e que lhe afagou tantas vezes maciamente seu rosto...Era a mão de Solange!
       Sem mais se importar pleos ferimentos abertos e sangrando mais, mesmo de quando conheceu Solange, ele corre desenfreado para a choupana de seu sítio onde seu amor residia, dormindo...Ele fazia juras ao Divino, que não fosse a realidade que tanto temia; que a poupasse e  ele até iria embora como queria a criatura, que nada mais era  lado da noite que a própria Solange desconhecia...Pois seus pais nunca contaram que na maioridade a noite chama seus filhos para viverem com ela, como mãe protetora que sempre o é, para com os seus e ninguém mais, até agora!
Mesmo as juras e promessas não escondem ou mudam o destino de dois seres de mundos opostos, jamais dia e noite poderão se encontrar, todos no cafundó aceitavam isso, menos Marcos.
       Então deitada ainda na cama revirada, sem a mão e de  ferida mortal entre os seus seios alvos, jaz Solange vazia e sem vida, o sangue de seu corpo foi drenado para fora do ferimento fazendo dos lençóis de sua  cama uma mortalha rubra e carmim...Aquilo era demais Para Marco, um sonhador que pensou que poderia esquecer das mortes, da guerra, nos braços de um amor quase perfeito, e impossível...Novamente a Senhora morte brincou com alguém, em seus jogos mortais e dessa vez pediu ajuda ao destino, pois assim com chegou Marcos também saiu: sem nada!
Antes de partir colocou fogo no sítio todo, soltou os animais, e se embrenhou na mata em busca de algum final pra essa história,  e quem sabe o encontre.
Marcos chegou quase um fantasma, voltou a ser homem e agora nada mais resta dele, apenas um espectro sem alma, um Vagante...
Que um dia nossos caminhos se cruzem, mas não hoje!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

SEXTA 13!

     Chegou a sexta-feira 13! Muitos levam como crendiuces as sextas 13... Uns fazem até simpatias para sorte ou amor. Mas aqui na Serra as ...