Esta noite, vem fria e cheia de nevoeiro. como tantas, aqui na serra, mas nem todo mundo tem o prazer de se dizer sortudo, de nada a acontecer, numa noite tão maldita com essa...Sem estrelas ou luar, uma luzinha pra nos guiar sequer. Tão somente escuridão...Que nos envolve, nos perturba, se delicia com isso, e depois pra se satisfazer completamente, nos consome!
Jefferson e Merdeiros, sempre foram homens da lida de campo, nunca se preocuparam muito com os estudos, pois nasceram fortes e com saúde, tanto que nos primeiros anos de ensino estava mais para valenões da escola do que se preocuraprem se serem boas pessoas com profissões rentáveis...Lá se conheceram, no mesmo colégio, e na mesma turma, e unindo forças , dentre os mais fracos criaram um império ilusório de medo e temeridade entre as crianças de mesma idade, cobrando merendas e dinheiro de lanches, dos atazanados que cruzavam seus caminhos, inevitávelmente.
Muitas crianças que atentavam ás suas mordomias causadas pelo terrorismo escolar que impunham, muitas vezes, sem reação, simplesmente não pagando os estelionatários infantis, sentiam suas iras, que eram sempre em dobro, e eram espancados até a inconsciencia e jogadas em algum canto a saída da escola ou vielas adjacentes á ela.
Num desses casos um menino fraquinho, pequeno, que gostva de insetos e morcegos, foi vitima deles...Que o espancaram e o jogaram numa manha fria em uma poça de agua gelada...O tempo da inconsciencia e o frio da serra na quele menino, dentro da poça de água, foram impiedosos com ele, que acabou passando muito mal, a ponto de chegar muito próximo da senhora morte...Todos sabiam que foram eles que fizeram aquilo , mas o medo foi grande, que nada foi dito pelos alunos daquela escola, e os malandros passaram liso...Daquile incomodo.
E a vida foi aos poucos cobrando a negligencia que fizeram de seus estudos e foram perdendo oportunidades que cobram uma certa qualificação, que nem sonha quiseram aprender...Como a comunidade da Serra é sempre a mesma, o tempo foi passando e Jefferson e Medeiros acabaran trabalhando para alguns dos mesmos meninos que atazanavam, nos sítios que agora eram proprietários. depois que se formaram na vida e assumiram as terras e negócios de seus pais...
Foi num desses dias que eles trabalhando, com limpeza de terreno, onde faziam roçadas de campo, foram chamados por um antigo proprietário daquele lugar para limparem seu terreno...Eles tinham um velho carro, era um fiat pálio antigo e juntos se mandaram , como faziam sempre, tudo juntos.
O homem tinha uma fazenda de campo reto sem morros, o que era dificil de encontrar dentro daquelas paragens, e por isso seu gado era o melhor da região. A casa principal ficava bem no centro do terreno onde ele controlava tudo o que entrava e saía de sua propriedade, que era totalmente cercada e até aí tudo normal, para os dois quando adentraram para acertarem o serviço, e também o valor do pagamento desse.
Mas o que estranharam era o tanto de cruzes que havia ao redor da casa e pendurado nas cercas da propriedade, inclusive no portão de entrada da fazenda. DE momento o homem lhes tratou bem, sendo educado e justo no preço do trabalho, e que poderiam começar logo, tendo estadia e alimentação de graça enquanto estivessem limpando o campo pra que pudessem plantar outra semeadura de azevéim , para alimentar o gado, que servia pra corte.
Os dias passaram, e os dois nem acreditavam, que o serviço era bom demais pra ser verdade: um bom dinheiro livre da comida e estadia pagando somente a gasolina da roçadeira e o preço da viagem até ali era bom demais , o lucro...O interessante era que somente o fazendeiro e mais alguem morava naquela propriedade, sem capataz ou demais empregados, pela quantidade de gado, nem cavalo de manejo tinha, sim aquilo era esquisito mas quem recebe, não reclama, é o ditado por aqui.
Claro que haviam alguma regras que eles tinham de seguir, que também não eram tão complicadas assim...A partir de escurecer o trabalho tinha de parar e eles deviam se trancar no seu alojamento, somente saindo pela manha, porque segundo o dono da fazenda ele soltava o seu cão de guarda, pra evitar que lhe roubassem a fazenda a noite e não queria que eles se machucassem, com o animal solto a noite, na vigia...Além do mais no alojamento tinha de tudo de bom, cama e comida, um radinho de moda, por que deveriam se arriscar com uma fera lá fora? Estava udo de certo e bom e o tempo continuou...
Vez ou outra eles escutavam umas corridas fortes lá fora mas as janelas eram de madeira e não sereia prudente abrir, só pra espiar a fera, que nos dias que passavam pela rotina aguçava a curiosidade dos dois...Que tipo de bicho ta cuidando de nós lá fora? Se for bravo, que esteja do nosso lado,pensavam..
Um dia , na labuta, após a roçadeira dar pane eles retornavam al galpão, pra um conserto quando viram o dono sentado na varanda vendo um velho albúm de fotos e chegaram pra uma prosa rápida, quando perceberam que uma das fotos do albúm era do menino fraquinho que a muito tempo zoaram e espancaram deixando-o quase a beira da senhora morte. De momento os dois silenciaram quando o proprietário contou que depois de uma malvadeza da escola aquele que era seu menino nunca se ajeitou mais na saúde, e ele teve de fazer de tudo pra que o menino não partisse pro outro mundo, indo ficar com a sua maezinha, que havia se ido antes...Ele comentou que foram tempos difícieis, pouca comida e dinheiro, por isso o menino era fraquinho...Só com o pai, e situação financeira difícil...
Mas o pai do menino então se enche o peito de orgulho e diz que tem males que vem pra bem, que depois de ter arranjado um jeito de seu menino ficar com ele nesse mundo tudo mudou, a fazenda prosperou, e mesmo que muito trabalho o gado cresceu triplicou e começou a dar tando que nem milharal e agora ele pode ter mais conforto, depois disso.
Os dois foram quietos pro alojamento...E repensaram nos atos de errados que fizeram naqueles tempos, e em meioa a correria daquela fera que parecia cada vez mais perto do alojamento, a cada vez de ronda que passava pela fazenda...A gente era sem juizo mesmo dizia Jefferson arrependido de momento, mas de um instante foi retrucado por Medeiros que dizia maldosamente, que o tampimha tinha de sofrer porque era fracote mesmo, e se gabava de ter dado uns bons murros e chutes pra desacordar o menino, e quando lembrou de como o coitado se estribuchou, igual saco de batatas na poça de água fria naquela manha gélida, os dois começaram a rir alto de suas marvadezas...Mas que foram silenciados por um baque forte, na prede do quarto do alojamento em que estavam. era o bicho que passou na ronda e escutou que falaram mal de filho do patrão e ficou tiriva com eles, como pode?
Os dias começaram a se complicar depois desse deslize, dos dois. Toda a noite o bicho batia vezes forte na parede do quarto do alojamento, a cada ronda que fazia e eles mal dormiam direito do medo que isso dava...Parecia algo grande demais pra ser um cachorro. Eles até tentaram fazer um acerto com o dono da fazenda pra saírem antes do termino do acerto mas o homem falou que tudo tava empenhado pra pagar no tempo que eles acertaram e não tinha volta, se quisessem desistir ele teria de chamar um novo pessoal e eles perderiam tudo...Jefferson sabe o que acertou e sabe qua na Serra apalavra de um homem pode valer sua vida e não mais questionou...Contudo ele sabia que o homem de tempos em tempos ia na cidade, buscar mantimento e pagar as dividas...Ele saía de noite e ficava o dia todo fora...Eeles teriam a chance de se mandar nesse momento, comentou então tudo com Medeiros.
Os dias se passavam e o medo e a insonia aumentaram com os avanços do bicho ressentido de certo das marvadezas que fizeram ao filho do dono da fazenda...As batidas eram mais fortes a ponto de começar a rachar algumas tábuas do quarto do alojamento...E como contar bem certo a história pro dono da fazenda? Isso nem pensar!!!
Então o dito dia chegou e o proprietário comunicou que seguiria pra cidade mas logo voltaria...Medeiros e Jefferson esperaram o homem sair e premeditaram tudo! Primeiro foram na casa após a primeira passada do bicho que corria toda a fazenda pra voltar ali de novo, e limpara tudo num saco, o que havia de valor na frente de seus olhos por que não iriam sair de mãos vazias dali e daí se meteriam dentro do fiat pálio e se mandariam num rastro de poeira pra nunca mais voltar...
Após feito a limpa da fazenda eles pegam o carro como haviam dito e no portão da fazenda notaram que a cruz da porteira era feita de prata e Medeiros secando os olhos no valor, desprezou as rezas que estavam incrustadas na porteira e na cruz e arrancou, deixando a porteira aberta, quando arrancavam com o carro, fazendo uma volta, pra saírem daquele fim de mundo...Foi em meio a poeira que viram aqueles grandes olhos amarelados, de enormes caninos arfando e encarando eles de frente...Sim, não era um cahorro e não...Não era humano! Seu jeito meio que lembrava aquele menino fracote, e deu uma centelha em Jefferson que entendeu tudo no final...Seja o que o fazendeiro deu jeito de salvar o menino dele da senhora morte ele virou naquilo que tava á sua frente e foi a força dele, que o fazendeiro usou pra erguer sua fazenda e por anos ele ficou confinado ali trabalhando com o pai sendo o braço forte da fazenda, fazendo o velho homem prosperar tão rápido assim...Por isso os campor eram retos , porque foi ele que lavrou todos aqueles morros pro pai, e nem precisava de empregados pros boi pois aquela coisa fazia tudo sozinha!
Medeiros sentou o pé no acelerador enquanto Jefferson embasbacado apenas pensava e a criatua começou a correr atrás deles e mesmo que corresse bem nada seria mais veloz que um carro pensou Medeiros e nao poupou motor naquele momento de sobrevivencia
Eles correram por dentre aquelas estradas de chão como nunca, e pelo que parecia deixaram a criatura a ver poeira...Estava amanhecendo, mas como a noite foi serrada o nevoeiro demoraria a desmanchar e na beira da encruzilhada pra chegar ao asfalto deram uma parada pra urinarem, pois estavam se borrando as calças, depois de tudo que viram e de momento os dois riram muito se achando mais espertos que aquela coisa, e até tiraram sarro da condição daquele que um dia foi o menino que zoaram muito. Então JEfferson sentou-se no banco do passageiro esperando que seu amigo terminasse sua parte e sentiu um vento forte sobre o carro que lhe gelou as espinhas! Quando tem nevoeiro na serra, não tem vento, então o que era aquilo?!!!
Desceu do lado do carro a criatura e no vulto do nevoeiro Jefferson notou que ele tinha asas! E uma das mãos acima do pulso havia uma espécie de osso retrátil, cortante, como unhas de gato...Pois num instante ele se abriu e o apunhalou várias vezes, mal deu tempodele gritar para o amigo Medeiros fugir e salvar a própria pela, pois a dele logo teria dono com a senhora morte. E enquanto sua vida se esvaziava lentamente pelas punhaladas do bicho ele viu o mesmo destino do amigo Medeiros, e pensou que seria mesmo sina deles estarem sempre juntos, mesmo nessa ultima hora, então tudo se apaga, pra ambos...
Amanaheceu e ninguem ainda havia saído por causa do nevoeiro, da ultima noite fria, na estrada só apareceu uma caminhoneta do fazendeiro, que trouxera os mantimentos...Ele passou e viu tudo, com uma calmaria que só vendo!
Com cuidado sem deixarmarcas pegou o saco do que que haviam roubado, em sua casa e se mandou pra casa repor tudo no local novamente , inclusive a cruz de prata que impedia do seu menino saira das cercas de seua propriedade que estava na porteira da fazenda, que os afoitos nem leram nas rezas que estava na cruz e na porteira, esse tempo todo, pois o menino só podia sair á noite como todo o povo das sombras que moravam perto de sua casa e agora que as terras lhe pertenciam prometera deixar-lhes na paz em troca da vida de seu filho...Contudo o nevoeiro impediu o sol e o chupa sangue pode se vingar, sem que pai soubesse, porque aqui na serra dizem um velho ditado : quem bate esquece mas quem apanha , nunca !
Então quando ficar perdido nessas noites frias de inverno, cheia de nevoeiros, sem estrelas ou luar, da serra pense bem se nao tem alguma pendenga por essas banda ,pois elas aqui custam caro...
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