quarta-feira, 27 de maio de 2015

O MONGE E O GENERAL

    Há muito que penso sobre a teimosia humana, de seus prós e contras...Em minhas andanças estava mais uma vez sentado em um acampamento de meia viagem, dos destinos um tanto insólidos  dentre o que tanto temos e o pouco que conhecemos, e escutei uma história que perpasso a frente.
    Dentro de um longo limite da fronteira do sul, havia um comandante muito tirano, um homem impiedoso com estrangeiros e possíveis ameaças á sua província de controle...dentre tantas das mazelas que tanto fez, tais loucuras chegaram a ouvidos de um monge, muito resoluto, mestre seu mosteiro, que resolveu então faze-lo arrepender-se de seus atos tão abomináveis, deslocou-se de seu mosteiro e em frente da fortaleza daquele general e começou a admoesta-lo ao arrependimento de seus erros.
Revoltado com tais palavras e insinuações com essas de que seria um homem incorreto em sua justiça plena, do certo e errado, o comandante se desvairou e mandou seus soldados trazerem um prisioneiro  e num único golpe o decapita e lança sua cabeça contra o monge que o acerta em cheio e devido a altura e impacto desacorda o mistico homem, que fica deitado e estirado por um longo tempo e então se levanta ruidosamente, retornando zonzo para seu mosteiro...E a suas costas o comandante gargalhava como reposta a afronta daquele homem senil, a sua própria visão de justiça divina.
    Após se curar e refortalecer o monge aparece novamente no mesmo local, pisando no mesmo local em que fora atingido, e dali recomeça o sermão, o que resultou em mesma ação por parte do comandante e mais um prisioneiro foi executado, tão somente para mostrar o poder decisório daquele senhor das terras sob sua proteção e controle...E o mesmo ritual se repetiu durante dias que passaram a meses.
     Agora todo machucado e sem ainda trocar as vestes manchadas de sangue deste os últimos executados, irresoluto o monge se encontrava agora  amparado por um cajado esperando que o comandante já continuasse se ritual preferido, jogando cabeças naquele monge e dando sua gargalhada sarcástica em desaforo ás palavras de arrependimento ás suas atitudes.Ao seu derredor apinhadas juntas, roladas ao lado, tingidas pela necrose negra e putrefata estavam dezenas, talvez centenas de cabeças de homens e mulheres, todas as pés do monge irresoluto, achando que toda aquela teimosia e sacrifício valeria a pena, a fim de "salvar a alma" desse pobre e tolo comandante dentro de sua tola e remota arrogância.
Então o som característico da lâmina lambendo a carne e trincando ossos mais uma vez se viu,e sobre a muralha o comandante fazia tremenda força para atirar a cabeça decepada, em seu pontual momento de ira, por causa daquele monge teimoso e fanático, se achando o próprio Deus dentro de seu mosteiro, que a dor muscular de seu braço pelo tamanho exercício macabro da decapitação o fez por um tempo recuar, para tomar fôlego e acertar o maldito monge para que pelo menos no resto do dia o deixasse em paz para que ele então pudesse descansar, pois ao final da batalha do princípio das leis e ordem, contra a supersticiosa e arcaica fé, era claro que a racionalidade ganharia, e então ele desfilaria pelas aldeias contando como um comandante dobrou a fé de um monge...
Do outro lado da muralha o monge de início deu a estranhar por ainda não te-lo acertado com alguma cabeça de algum infeliz malfeitor, seria um sinal de que sua exortação de fé tenha atingido o coração duro daquele homem sem fé?  Teria o deus dos homens finalmente vencido a lei terrena com a contrição de um coração quebrantado? Imaginando isso já sonhava em abrir o mosteiro e chamar toda a população para contar dessa verdadeira batalha épica de fé e de sua persistência de salvar a alma de um homem ímpio se deus em seu coração...!
     Em meio aos sonhos ilusórios de cada um vendo-se dentro de sua vitória certa, de inicio o comandante levantou a seus olhos a cabeça daquele que acabara de arrancar daquele sentenciado e vê que era de uma linda jovem, que bem poderia ser sua filha pela tão tenra idade e se pensou a pensar o que ela havia feito de tão cruel para que seus soldados tenham a trazido para a morte.
Doutro lado da muralha a demora do ataque do comandante fez o monge olhar ao redor e refletir pela quantidade de cabeças ao se derredor, haveriam tantos criminosos dentro de uma comunidade até um tanto simplória? Afastando umas aqui e outras ali viu crianças idosos, rostos de moradores que conhecia dentre os ritos de seu mosteiro, e que devida a sua ira e exortação contra o comandante não havia se apercebido e lhe lembrava somente da dor da pancada forte contra seu velho corpo lhe causando até ferimentos e muita dor. Uma dor que o cegou a ideologia de a qualquer custo conseguir a alma daquele homem vil dentro de sua fortaleza murada.
     O comandante inquiriu a um dos seus soldados, se aquela linda criança decapitada teria qual crime hediondo cometido, uma vez que irado pela presença afrontante do monge senil seus olhos  se cegaram as faces dos condenados, só pensando em atingir quem dera uma pancada mortal e silenciar aquele monge, ou faze-lo desistir de uma vez com suas tagarelices fanáticas e sem sentidos perante a lei das terras que controlava...O soldado com medo falou que a muito tempo os condenados haviam terminados nas celas, e com medo da ira de seu comandante, começaram a prender os aldeões por banalidades, e quando os homens e mulheres terminaram, pegaram os mais velhos e agora após muitos meses só haviam sobrados as crianças, para serem executadas...E o mais triste essa era a última criança da aldeia que um dia ele e seu comandante juraram proteger e amparar contra qualquer ato ilegal, praticado contra o povo.
Horrorizado pelo que fez, o comandante desce de sua muralha abre as portas de seu castelo e em correria caí aos pés do monge, pedindo perdão por sua arrogância e insanidade de vaidade e ira, pois agora era tão criminoso ou mais quanto aqueles que perseguiu, prendeu e decapitou, diante da lei que tanto fez questão de preservar no local sob seu domínio.
Ao levantar os olhos vê o monge tremulo e com lágrimas escorridas, que também se ajoelha e o abraça pedindo perdão por sua teimosia e vaidade, pois em sua cegueira nem ao menos reconheceu seus fiéis, quando foram atirados contra ele, achando que seriam condenados criminosos que nem deus daria atenção, contanto que trouxesse a seu altar a alma de um homem que ele achava indigno.
     então em penitência o monge se cegou  o comandante cortou suas pernas, oferecendo em desculpas as suas loucuras pessoais e partiram como homens sem rumo pelas estradas da tradição em busca de redenção...
Então compreendi que, tratando-se de teimosia humana, quando isso acontece quem pagam sempre serão os inocentes, e quem dera manter-se na humildade do camponês que aceita a lei, mesmo aquela lhe mate, e a  fé, mesmo que seu pastor lhe falte.

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