sábado, 18 de julho de 2015

NA CASA DOS PAIS

A caminhada foi longa até chegar aqui...Talvez demorou  um pouco mais que podia imaginar. Durante vinte anos, som, vinte longos anos tentei por muito voltar a casa de meu pai...Contudo primeiro foram as mágoas que não deixavam e tive de andar um tempo para retirar esse peso de meus ombros; foi um caminho considerável.
     Mais uns tantos a frente me deparei com minhas desculpas e falhas, que não podia deixar parecer diante deles,pois ainda era muito imaturo e orgulhoso para compreender, que tudo no final vem e passa e só o que fica é a vaidade, e lá se vão mais tantos de caminhada para longe de meus objetivos,
Então na caminhada mais se aproximaram de mim, e começara a contar comigo para buscar e reencontrar o caminho de suas casas e lares e de tanto ajudar os outros a encontrarem seus caminhos, acabei me perdendo, dentro de meu próprio caminho.
     Passou o tempo, tão envolvente e inexorável, em sua rotina e lá estava eu ainda parado no meio de onde me perdi...Mas agora estava mais velho, mais calmo e menos audacioso...Sim, eu descarreguei muita bagagem no caminho, mas seria o suficiente? Não! Algo ainda faltava pra carregar ou aliviar, mas eu ainda não entendia o que era...Passaram-se muitos invernos frios e verões escaldantes e com a luta do dia a dia, mais uma vez esqueci que um dia tinha de voltar, a casa dos meus pais.
      Em meio ao caminho da labuta eu conhecia aquela que iria dedicar meus passos, meu corpo e meu coração, passei a caminhar com ela e dela nasceu uma nova família, a minha família, e esqueci finalmente a casa de meus pais...
     Um dia em meio a uma conversa e encontro com pessoas antigas que conheceram minha família eles contaram que meus pais havia se ido, a algum tempo...Me senti filho ingrato e egoísta! Pensei somente  em minha vida, em minhas causas, em meus interesses, e me esqueci que eu fora dentre tantos o maior interesse deles...Assim como meus rebentos, agora são os meus...Agora mais do que nunca precisava reencontrar a casa de meus pais.
     Pedi licença pra minha família tomei coragem e montaria e segui minha trilha de volta, que mesmo com o umbigo enterrado no pé de entrada da varanda da casa dos meus pais, quase havia esquecido o trajeto paternal e novamente me perdido. Mas dessa vez resoluto, ultrapasso minhas vaidades meus orgulhos e minha muitas vezes maldita razão...Sim a razão que tanto no fundo nos desumaniza, que tanto nos faz por motivos fúteis, mas lógicos, sofrer.
Passeia colina baixa e mesmo com todo aquele mato encobrindo a velha estrada chego em meu lar, tardiamente, mas chego.
      Desmonto e sento na varanda que ainda dela tem seu velho corrimão que tanto brincava e estendendo a mão sobre a coluna de madeira um tanto roída pelo vento e pelo tempo sinto de onde meu umbigo, ainda lateja pulsante com sincronia de meu coração, como que dizendo aos meus ouvidos a muitos cegos pela alma viajante: Seja novamente bem vindo, meu irmão!
Deus! Será que mudamos tanto assim? Será que nos devemos demorar tanto e perder tanto para entender, que sem pais ou família nada somos, como uma única flor que nasce do acaso do vento em meio ao deserto ? Sem saber de onde vim, e quem sou, serei realmente alguém ou algo, qual ainda pertença a esse mundo, o seu muindo?

Sem perceber minhas lágrimas rolam, enquanto a dor da ausência estoura como ferida podre dentro de meu peito! Eu grito e urro com a tremenda dor da falta irreparável, de minha separação talvez eternal...E sem mais nenhuma força caio no chão segurando nas mãos somente a cinza e a poeira que restaram do lar que um dia tanto me amaram...Tudo isso se torna de um momento  único e insuportável, pois quando bato maus joelhos ao chão lembro de meu pai, correndo ao meu encontro pra me levantar, me limpando e abraçando com seu enorme sorriso, só pra me acalentar..
     E agora? Onde estão meus pais, onde estão seus braços, seus sorrisos, meu alento? Onde estão?
Meus pais, meus pais...Porque os abandonei?
Então, em meio ao silêncio, de tremenda agonia, novamente o vento me acaricia a minha testa e meus cabelos, dos poucos que sobraram...O frescor de sua brisa e o calor do sol me fizeram a olhar o horizonte, e entre raios e vultos eu avisto uns dos meus...eram os mesmos andares, os mesmos traços...Não eram meu pais, mas eram meus, que me seguiram a distâncias, parando em cada estancia, procurando por mim, como um dia eu fiz aos meus, que me criaram...Eles também queriam um pai, mas dessa vez eu estava aqui e poderia reparar pelo menos esse erro...Voltaria aos meus e seria um bom pai!
      E quando me levando me apoiando a velha varanda, vejo dois vultos, cada um aos lados meus e em cada ombro pousam suas espectrais mãos, e no entardecer, quando vida e morte estão próximos, quando as trevas e luz se tornam por um momento uma coisa só, escuto a voz deles no vento e me dizem:
      - Vai com Deus, nosso filho amado, com nossas bençãos, pois cumpriste teu encargo, a casa finalmente voltaste, pois não queríamos partir sem o abençoar um última vez: YAJA CON DIOS,
HIJO MEU!


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