Quem já não teve seus sonhos e devaneios de conseguir se dar bem na vida, conseguir vencer e se encontrar em uma posição social muito maior daquela de onde veio? Passam-se as gerações mas esses anseios nunca mudam não e mesmo?
Esse foi o caso de uma menina chamada Samara...Esta vivia com sua família nos finais dos Cafundós, tendo de sobrevivência umas terras humildes, de onde plantavam para sua subsistência. Como disse seus pais, de origem pobre sempre querendo o melhor, para a sua única filha, sobrevivente de uma infância pobre,de mais três irmãos, começaram a ouvira as maravilhas de Tierra Madre, , de como poderiam tornarem-se comerciantes e melhorando de vida dar um casamento e uma vida melhor a sua filha Samara.
Então como todo o visionário o pai de Samara, vendeu tudo o que possuía e juntou um pouco de roupas e trens de cama, mesa e banho e se baldeou com sua carroça em direção a Tierra Madre...Era uma longa viagem, lá dos cafundós, mas sonhos e esperanças se alimentam entre histórias que contavam no caminho, uns aos outros, de quando chegassem em tão grande cidade, o que fariam, o que veriam, vestiriam, comeriam. Foram talvez de toda a vida simples de Samara, os mais emocionantes momentos até então vividos de sua monótona, pacata e simplória vida. Mas como se diz um ditado muito conhecido na Serra: tudo o que é bom dura sempre pouco! E não foi exceção no caso da família de Samara...Próxima da entrada da cidade, a família foi rendida por salteadores, que sempre pegam os desavidas das estradas não seguras, que a ordem não patrulhava, e os sem leis imperavam sempre naqueles locais sombrios....Pior ainda foi os pais terem tentado reagir, para recuperar seus pertences furtados, com enxadas e paus, contra o aço das espadas e adagas. Desse sortilégio macabro, se deu duas mortes, que foram os pais de Samara.
Agora sem sorte, sozinha nesse mundo, sem pertences ou posses, Samara deu graças de ainda ser muito jovem, e os salteadores se compadecerem dela e não a terem matado também com seus pais. Ela andou por um tempo pela mata ás cegas, sem entrar nas estradas sombrias, com medo de que outro grupo criminoso a encontrasse e não ter tanta sorte como da última vez, se é que no fundo foi sorte. Mas aos poucos chegou nas portas de Tierra Madre e sem mais ter onde ir mendigou pelas ruas um bom tempo morando ao relendo, pedindo, o pão pra comer, e roupas velhas pra se vestir...O sofrimento contudo não tirou a esperança daquela menina que ainda sonhava em viver melhor dentro da cidade murada, pois mesmo diante de toda a dor pela qual passava Samara via encantos na cidade Mãe, e o brilho das luzes, o movimento do comércio e das pessoas, ainda a incentivava a seguir em frente lutando por dias melhores.
Com o passar do tempo e por experiências próprias Samara ficava em frente a grande catedral da Mãe Divina, que um dia apareceu entre os homens mortais. Dela só se espera a misericórdia, pois acolhera em sua vida terrena certa vez o Filho do Divino, quando por ali passou, materialmente. Bom era ali que ela recebia as melhores esmolas, e se desse sorte sempre havia uma bondosa idosa, que quem sabe querendo fazer nome com os céus,pois estavam mais com o pé do outro lado, a levavam para um farto almoço ou jantar , em suas casas, lhe aliviando por momentos a dor da fome, que sempre roncava de dentro de suas entranhas jovens.
Todo o dia que ali esperava as esmolas, Samara orava para a Mãe Divina, que intercedesse em nome do filho do Divino, ao grande Pai, que lhe ouvisse seus apelos....Mas sempre ela pedia que lhe fosse guardado o lugar dentro de sua família que foi primeiro aos céus. Pedia que seus pais mortos nunca a esquecessem como filha, que seus irmãos aguardassem que logo quem sabe ela iria matar a saudade, de todos quando também pisasse no céu....Mas agora não.
Um dia, algo especial aconteceu...Uma senhora viúva apareceu, de onde ninguém sabe, nem mesmo Samara, que vivia esmolando ali. Ela parou em frente a menina e nem sequer fez a menção de entrar na igreja, aliás, deu até as costas pra mesma. Então a mulher encara firmemente Samara, com seus imensos olhos negros, escondidos por um véu preto de ébano...Samara inocente apenas sorri de volta um pouco retraída pelo olhar.
- Menina, me diz, olhando dentro de meus olhos, o que mais quer nesse momento, para você, e não pensa muito não, me diz de teu coração! - Aquilo mais parecia uma ordem do que um pedido, mas Samara esboça um lindo sorriso e respondeu, sem pestanejar:
- Madame, se eu tivesse um local quente, pra dormir, comida, e uma muda de roupa pra vestir já me bastava, o resto eu conseguiria trabalhando, de certeza!
- Então, menina não saía daí, que eu já volto, se é só o que realmente quer, terá!
A mulher de preto, dá as costas para Samara, que ao escutar com seus pequeninos ouvidos as palavras da velha mulher, cheia de entusiasmo, não se continha e dava pulinhos e palminhas de alegria, colando um largo sorriso de alegria...Então repentinamente, de sua sua caminhada a velha para, de costas a Samara...Ela parecia por momentos uma estátua de um gárgula negro e encurvado, as pequenas encurvadas das costas, davam a pensar em asas, bem encolhidas ao corpo para disfarçarem dentro da roupa...Nesse momento o coraçãozinho de Samara quase parou, de medo: será que a madame de preto, se arrependeu, será? A mulher se volta um pouco pra trás e joga a cabeça em meia viagem, ainda de costa, novamente fitando com seus olhar penetrante, os olhinhos de Samara e lhe faz mais uma pergunta:
- Só mais uma coisa menina...Para você conseguir o que você quer, o quanto está disposta para isso acontecer? - Samara respira aliviada, ela não desistiu de mim, pensa amenina e por instinto esperando fazer jus ao esforço daquela mulher, lhe respondeu:
- Estou disposta a fazer tudo o que for possível para que isso ocorra madame!
- Era só o que eu precisava ouvir, criança! - então a mulher segue em seu destino misterioso, com passos um tanto robóticos, como que ensaiados. E Samara esperou,esperou, e esperou.
Eram, pra frente da hora do galo cantar quando já escuro, vem a velha senhora com um casal de pessoas vestindo também trajes finos, juntamente com o pequenino filho que traziam pela mão um pouco mais jovem que Samara...Todos vestiam roupas finas em ébanos, tal qual a mulher de preto, o que chamou a atenção de inicio de Samara, mas foi logo esquecida pelas palavras que prosseguiram, de seu interesse daquela velha mulher...
- Vai com eles, menina! Lá lhe darão roupa, comida, um teto pra morar, e se trabalhar na casa, ainda poderá ter algum dinheiro, para gastar, a medida que fazer as tarefas, digo do quanto puder aguentar trabalhar...Contudo tenho uma ressalvas pra fazermos esse "ACORDO"...Primeiro, você não vai mais pisar aqui em frente a catedral, por intenção nenhuma, pois eu não sou crente e só aceito como verdade o que vejo e o que "SOU"...Segundo, é que quando comer do pão, beber do vinho e provar do sal da casa em que vai viver que diga em voz sempre alta: "AGRADEÇO AO MEU NOVO MESTRE, DESSA OPORTUNIDADE", como respeito daqueles que se importaram realmente com você e te abrigaram, dentro do seio de sua família, concorda?
- Claro que sim, e por que não? - diz fulgurante pelo acordo feito com a senhora de preto, a pobre Samara, que agora via em suas ilusões e devaneios uma luzinha aparecendo finalmente no fim desse túnel, tão escuro.
Assim Samara foi com aquela família...E como foi dito, foi cumprido. Ela finalmente comeu, dormiu em uma cama decente, vestiu algo muito simples, mas muito melhor que os trapos que residiam em seu corpinho desde que perdera seus pais, a muitos meses. Ela também começou a trabalhar na casa, como podia, e para cada tarefa realizada uma moeda acalentava seu coraçãozinho angariando o sonho de em um dia não muito longe ter sua independência e seu próprio lar. Contudo também foi colocada em sua posição de serva e os patrões não trocavam palavras com ela, que o fazia era uma governanta chefe da limpeza e afazeres da casa, mas para alguém que vivia nas ruas pedindo o que comer, estava muito mais que bom!
O tempo se seguiu, e como prometera ainda inocente a cada refeição, Samara agradecia ao seu novo Mestre pela oportunidade recebida e por medo de que tudo terminasse se ela não honrasse seu acordo, jamais cruzou em frente catedral da Mãe Divina...Quem sabe se o fizesse e a mulher de preto estivesse passando por lá e a visse? Cruz credo! Jamais!
Samara então se acomodou com aquela vida, e sempre se encantava com o brilho das luzes da cidade, mesmo quando ia ao mercado a trabalho comprar mantimentos para a casa, o fazia feliz, mesmo quando voltava quase arrastando a pesada sacola de alimentos frescos, que eram sempre servidos aos patrões...Eles que comiam separadamente dos empregados viviam exclusivamente de carne fresca e só quem poderia preparar suas refeições era a governanta, que também os servia, só ela...
Claro, que se fosse pensar um pouco, haviam certas extravagâncias, que poderia ser perdoado pois eram família de pessoas ricas e poderosas, e sendo serva quem era ela para questionar o que quer que fizessem, fora do contato dos demais empregados da casa? Assim estava muito bom!
Os anos continuaram se passar na vida de Samara, que nunca reclamou, por mais que fosse duro seu serviço ou empreitada fora e dentro da casa...E quem começava a notar, também aquela boa disposição toas era o menino dos patrões, que sempre aparecia escondido nos cantos observando a todo instante, nesses anos todos, a boa vontade e disposição daquela que se transformou numa linda e bela garota, Samara.
Claro que a natureza fala por si e aos poucos o menino, pelo seu jeito acabrunhado e tímido de ser, começou a chamar a atenção de Samara, de início, de uma amizade, que se conquistou aos poucos, apesar da regra severa do não contato, entre empregados e patrões, naquela casa...Eram escapadas durante as compras, que que o menino fingia ir brincar no quarto e simplesmente acompanhava Samara, muitas vezes se divertindo com o simples carregar da sacola, coisas de crianças!
Agora, não eram mais crianças, eram jovens, incendiados pelo fogo da paixão, endossada por um quê de proibido, imaginem por mais sério que fossem, quem resistiria a tentação? Começam os namoricos fugidios, os beijos escondidos e secretos, as lindas juras de um amor impossível, mas ainda assim infantilmente fantasioso, entre o casal de jovens...E quanto mais se embriagavam dentro desse fogo de paixões mais se arriscavam, aos olhares dos outro empregados, que começaram a desconfiar dos ares que rondavam a casa. Os dois chegaram ao ponto de fugirem durante a noite, para andarem sob o luar, no bosque de onde fizeram um grande tanque, para os moradores ricos de Tierra Madre se refrescarem, nos tempos de calor...Ali sem mais nada a os impedir concretizaram suas juras, em amor proibido, ou não, mais no mais puro amor.
Tudo o que é bom dura pouco, é o que diz nosso ditado Serrano, e assim o foi, para o casal enamorado...Sob suspeita, a governanta, começa a seguir disfarçadamente Samara e os flagra as escondidas, em vários momentos de seu amor intenso e único. Agora sem ter nenhuma dúvida, ela corre aos ouvidos dos pais do rapaz, e quando chegam as notícias pelos ouvidos, que era em uma noite escura e sem lua, o grito de dor da mãe do rapaz, mais parecia um rosnar de uma fera, do que um ser humano....Rapidamente o pai do rapaz despachou os empregados a procura dos enamorados, e os fez procurarem no bosque e os trazer a força para dentro da casa grande, área central do terreno da família rica e respeitada de Tierra Madre. Por gerações os casamentos deles eram feitos com mulheres que eram trazidas de outras fronteiras estrangeiras, e dentro do que demanda a sua casta social, eram apresentados as famílias dos mais poderosos da cidade, onde escolhiam geralmente ficarem, numa das mais antigas propriedades dali, que era o casarão. E num costume extravagante os pais, mais velhos, partiam para uma viagem sem volta para conhecer o mundo além fronteiriço, tudo isso dentro de uma grande festa dando adeus ao casal aristocrático e recebendo os novos senhores do casarão, sim tudo isso com merecidas pompas, que ninguém questionava pois era a tradição dessa família, que nutria muito bem os cofres públicos, com seus negócios de além mar.
Agora em um ato impensável de um menino mimado e tolo, tudo poderia se por a perder? Jamais!
Com esse pensamento ferino, o casal fazem os empregados trazerem ambos a força, e trancam Samara no porão de mantimentos. O rapaz fulo da vida, resolve tirar satisfações com os pais, e na sala principal, a família se tranca, para discutirem esse assunto sério de família, comas as pesadas portas de carvalho fechadas aos ouvidos dos de fora e empregados.
- Eu a amo! Eu a amo, será que não podem compreender isso? Eu não vou me casar com ninguém que não conheça, que não ame realmente, entenderam? - gritava o rapaz esbravejando, agitando, seus braços no ar...
-Menino tolo! Quem é você para dizer que realmente conhece o verdadeiro amor? O amor que faz com que você viva e morra pelo que realmente ama? Um amor que extrapola inclusive o desta família, e tudo mais que você possa imaginar? - a mãe do rapaz irrompe dentro de uma ira, que nem mesmo seu filho havia visto até então...
- Do que minha mãe esta falando? Sandices por acaso?
- Falo tolo garoto, daquele que lhe deu tudo e haverá de lhe dar muito mais. Daquele que nutre grande parte da fome dessa cidade, cheia de pecados sangue e vidas miseráveis, em sua maioria...Daquele que nos provém de tudo, do ouro que temos, das roupas caras, dos servos que trazemos a essa casa a nos servirem, das casa e sua própria alma...Do "NOSSO MESTRE"!!!
Com todas aquelas palavras sombrias, o rapaz debulha-se em uma cadeira, pesadamente, o pai do garoto sempre fora o mais sóbrio da casa, e puxando uma cadeira lhe diz, o que ninguém em sua situação deveria ouvir, assim, tão jovem:
- Meu filho, era ainda muito cedo para termos essa conversa, mas agora é preciso, e você dessa nossa família não é a exceção...Ouça seu pai e aquieta seu coração pois algo de terrível sombrio, mas maravilhoso deve ser dito!
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