segunda-feira, 6 de junho de 2016

OS SETE FILHOS

     Ainda nem havia levantado a geada da manha, e a fogueira que era mal dormida, nem sido reacendida,quando no acampamento aparece um homem ferido, sangrando, com um saco ensanguentado em sua sela...Sim ,ele apareceu apeado em um tortilho negro, também ferido e todos que se encontravam, em suas tendas se levantaram, um tanto receosos, uns com facas , espadas e até adagas empunhadas, afinal quem não se precave quando se vê e sente o cheiro de sangue no ar?
     Então quem é da Serra sabe, é melhor se explicar bem rápido, pois o sangue vertido logo pode ser o seu se juntando ao que se encontrava já em céu aberto:
      - Os moços não se apoquentem pois o sangue é de justa causa e antes de vosso veredito, quero apresentar a minha parte, pois e justo que se ouça as duas partes de um conto antes de tomar a verdade por suas mãos...
      O homem se aproximou da fogueira, e foi com um gemido de dor que ele desce do tortilho negro, assim que o animal fiel ao seu dono sente que ele se encontra a salvo, o animal desaba no chão vencido pelo cansaço e ferimentos, que se abrem e desaguam mais sangue a cena, a transformando, pois o aperto do coração do Serrano será sempre quanto a lealdade, seja de qualquer um,homem ou animal, a palavra dada deve ser cumprida a todo custo.
Contudo e esmo assim ninguém toma jeito de ajudar o homem ferido, ainda não, até que saibam que prenda macabra tem dentro daquele saco na sela, do falecido tortilho negro.
     O homem tira um bandana de seu alforje, após saca-lo do tortilho e enrola o  ferimento ferimento maior de seu tronco, caminha lentamente  a fogueira que agora de brasas, acesa, estala, convidando o sofrido a se esquentar, aliviando um pouco o sofrimento daquele homem que de nada sabiam os que o rodeavam ainda na expectativa de explicações sinceras e verdadeiras. Então recostado e depois que uma alma caridosa dentre os desconfiados lhe serve um café quente, mais descansado o homem prosseguem em sua fala:
      - Sou o sétimo filho, de uma família que vive na Serra do Corvo Branco...Lá nossas terras são de perder de vista e só fazem divisa, com as terras de Santa Barbara, província dos Rafaéis...Uma família de nobres e descendência além mar, o mar que nunca vi, que apenas ouvi falar.
De meus irmãos o sexto estava apaixonado pela filha única dos Rafaéis...E a paixão era tanta que não dava mais pra se relevar como coisa de criança, mas de dois jovens apaixonados, a tal ponto que meu pai foi falar com Dom Rafael o pai da menina, e patrono da família, que se ajeitasse um bom casamento entre as famílias, unindo os dois apaixonados, como devia de ser.
    Ao chegar ao casarão dos Rafaéis, está que já tem outro Missioneiro interessado do lado dos ilhéus, da família Wass...Isso na situação era inesperada, e para se resolver, marcaram uma corrida, uma carreira onde o mais corajoso das famílias participaria e quem ganhasse teria a mão da menina em casamento, porque somente quem ama se arrisca até a própria sorte pelo amor de sua pretendente...
     De meu sexto irmão já sabia de seus sentimentos, e sabia que ele aceitaria de bom grado tal prova...Mas também conhecia a fama dos ilhéis dos Wass. Eram oportunistas e pra não chamar a atenção do Estado, resolveram casar u dos seus antes de ter de tomar as terras dos Rafaéis pois haveria mobilização das tropas, das ordens, e os cavaleiros colocariam todos a correr. Eu teria minhas mais profundas duvidas disso e tentei argumentar com o nosso pai, para que ele levasse uma comitiva de segurança, mas o homem sempre honrado, disse que seria apenas dois, ele e se filho pretendente da moça, com que se deveria, mostrando boas intenções quando ao casório...
Tá lá meu povo, que no passo de entrada da Serra do Corvo Branco, emboscaram meu pais, mais meu irmão e mataram os dois para que não houvesse mais pretendente se não a casa dos Wass...E mandaram de volta os cavalos com os corpos de meu sangue...E pra piorar a malvadeza toda arrancaram a cabeça de meu pai e levaram para adornar a casa dos Wass, como um maldito troféu, dos infernos!
      Tomado pela dor ,meu primeiro irmão, enterrou meu sexto irmão, mas não meu pai e falou que se ele foi inteiro, deveria voltar e ser enterrado inteiro! Então numa jura de sangue nos despedimos de nossa mãezinha, pedindo a benção do Divino, pra toda aquele empreitada justa e partimos em busca da cabeça de nosso velho pai, para que pudesse ser enterrado em paz, pelo menos no espírito...
Foram dias de cavalgada que me perdi de tantas léguas, havíamos feito. Seguimos nos dizeres de cada caminhante que por ali passava, e nos indicavam a direção, até que apontamos na trilha dos ilhéus, a trilha dos wass...E gente, eu olhei com minha humilde vista o mundaréu de terras que haviam comprado, tomado, roubado...Nem em meus sonhos imaginei uma só família dona de uma vale inteiro, até aonde a vista alcança, finalizando na entrada do grande mar...Finalmente via aquele tanto de água, que nunca havia visto, que se o Divino permitisse nunca veria se tivesse de trocar por meu pai e irmão de volta, a nossa família, vivos e inteiros.
      E na frente do casarão dos Wass, não houve choradeira, lenga-lengas, apenas cruzaram-se espadas, facas, lanças, e adentramos com a força da vingança em nosso coração, e como trigal do campo a ser colhido,cada Wass envolvido na morte de nossos queridos foram caindo, até chegarmos na sala do casarão e encontrarmos a cabeça de nosso pai em cima da mesinha de centro, dentro de um cesto, se fazendo de decoração, aqueles malditos gananciosos. Lutamos com honra e peito firmes como bons serranos e vencemos, pois nossa justa era de direito...Estamos todos feridos, mas inteiros e quando subimos a serra pelo passo, que fomos, demos de cara com os Rafaéis, nos esperando....
Era a mais injustas das idas da vida, que passamos, pois a filha dos Rafaéis já havia casado com o primogênito dos Wass...E era a vez deles de comprar a briga de sangue, porque foi o primeiro dos Wass que arrancou a cabeça de nossos pais e foi o primeiro a perecer em nossa justa.
Foi a mais duras das batalhas, pois além de feridos, estávamos em minoria, eram cinco Rafaéis contra um de meus irmãos...Foi um dia de onde se derramou muito sangue em um só dia, de justas de ambos os lados,por causa de um infame e ganancioso clâ, que tendo mais que podia abraçar, causou tanta desgraça, só pelos olhos que a terra haverá por certo de come-los !
      De todos eu estava caída a mingua da morte, agarrado a cabeça de meu pai me lamentando que não podia enterra-lo, quando da névoa vermelha que se levantava ao entardecer apareceu a Senhora Morte em busca de seus prêmios do dia, que foi bem produtivo naquelas paragens....Mas pra minha surpresa, ela se deteve em minha frente, e pacientemente escutou meu apelo, que podia me levar, mas que desse tempo de enterrar meu pai completo em casa, para que ficasse junto a minha mãe, senhora sua esposa, e e pelo menos aplacasse assim a dor de uma mãe sem mais marido ou filhos, rezando todo o dia em sua sepultura.
    A Senhora Morte no fundo é piedosa e me entendeu bem, pois falei com o meu coração....Ela me deixa viver, pra cuidar do enterro de meu pai e o enterro de minha mão quando ele vier, que eu enterre os juntos , lado a lado, como deve ser, e até lá cuidasse dela pois seria muito injusto uma mãe perder o marido e todos os filhos...Mesmo pra Senhora Morte, seria muito injusto.
     Montei em meu tortilho negro, fiel companheiro e me mandei cumprir a vontade de meus irmãos, de minha mãe e da Senhora Morte, e meu cavalo despencou aqui e creio, que foi interesse da Senhora Morte que soubessem vossas mercê dessa história, e que contassem adiante desse jeito que contei pois acima de tudo não é a história de dor e sofrimento, mas de amor, de seus filhos por seus pais, de fazer o impossível, para que sejam ao menos felizes...O amor verdadeiro do Serrano que é sua família...Disposto disso se nada têm mais contra mim, peço um cavalo pra seguir caminho até minha casa, e cumprir finalmente o dever de um filho que ama seu pai e sua mãe, do fundo do coração!
      Silenciando os murmúrios, os Serranos abrem passagem para o homem ferido, que nem seu nome souberam, lhe trataram as feridas, lhe deram mantimentos e cavalo e quando ainda a sair, um jovem errante de nome MARCO, resolveu acompanha-lo, como guarda, e quem sabe também com esse gesto de bondade, eliminar um pouco dos fantasmas que habitavam sua alma solitária, e sofrida com de muitos serranos, que se libertam aos poucos ajudando a quem precisa na Serra dentro das Estradas da Tradição...
























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