O pobre desgraçado estava praticamente congelado, e tinha ferimentos que se não fosse por causa do frio, já haveria de ter sangrado a muito tempo. O povo quente pelo fogo e o vinho ajudavam mais pra escutar das palavras do balbuciantes o que houver e quem, ou que fera haveria de lhe ter causado tamanhas feridas no corpo, que misturavam a suavidade de uma navalha, com o rigor do rasgo severo do machado, e o laceravam em parte...
Alimentado de caldo quente e raiz forte, uma bebida quente e a boca do homem começou a mexer... De momento sua voz saia fraca e sem sentido e aos poucos foram se acostumando com o sotaque que parecia muito além daqueles cafundós...Ele se dizia ter pertencido a uma equipe de caçadores que vieram pelas montanhas da Serra além dos Altos da Boa Vista e caçavam um animal que havia atacado sua vila e destroçado tudo o que encontrou, de mulheres, homens crianças, ovelhas...!
A fera ensandecida não tinha fome no estômago, mas sede de sangue nos ossos!
Daí dos poucos que haviam fizeram uma comitiva de caça e saíram em busca da fera, de momento se eira nem beira, somente seguindo seu rastro de destruição, e morte! Em meio a eles poucos eram caçadores profissionais, apenas de ocasião, outros eram lenhadores e artesãos, perseguiram o bicho como puderam, mas a fera era esguia e astuta, a ponto de parecer ter até certo nível de inteligência.
O bicho no final acabou caçando e emboscando cada um deles e o que eram caçadores, passaram a ser a caça! E o mais curioso é que essa pobre alma, foi deixada por último, e a fera apenas BRINCOU, com ele, como o gato faz com o rato, só que nesse caso o gato era enorme mesmo!
Como eu disse antes e deve se ter atenção a isso, o frio da Serra desperta tudo o que é de ruim, fora e dentro de você...Dentro da taverna os caçadores mais experientes sabiam de qual fera ele falava e já viram a sua ira, quando provocada, sabiam, também que parte da história não tava contada, pois quando se é rei, você só ataca a escória, quando tentam tomar seu território ou mexem feio com sua família...Embrutecidos pelas bebidas fortes que tomaram, colocaram o amaldiçoado e semi morto homem contra a parede e ele despejou o resto pra fora...
Ele não contou que antes da fera ataca-los ela não havia saído de seu reduto não até um lenhador ousar entrar em seu território e ter encontrado a ninhada de filhotes na toca do bicho, quando os pais
saíram pra caçar, e os matou e fez botas e chapéus de suas peles que esticou e levou ao vilarejo...Então meus amigos, a morte atrai a morte,e muitos pagam pelos erros de poucos e se isso não for consertado com muito sangue, o ciclo continua, como doença passando de aldeia em aldeia, trazendo o inferno na terra, pois bichos como esses, senhores das serras altas não esquecem a maldade que lhes fazem e se deixou o pobre diabo, seguir até a taverna era porque ele queria saber onde haviam mais homens pra se vingar...
Os homens tomados por fúria e instinto de sobrevivência, arras taram o condenado de volta ao frio e amarraram ele, num tronco na entrada da vila, pois não queriam comprar briga com a morte andante...quase despido naquele frio, não duraria muito mesmo.
E quando o homem se amaldiçoava da burrice que fizera, olhos amarelos e grandes o encaravam e aos se aproximar ficaram parados e imóveis até que morresse do frio causticante que fazia lá fora e ficasse duro que nem pedra, e os outro se trancaram na taverna reforçando a porta e todos sentiram quando ela foi batida pela enorme patas cheia de garra, que deixou sua marca atestando sua valentia e majestade daquelas paragens, pois ele seguia a lei da serra, que todos Respeitavam, mesmo sendo fera: SE DÁ UM BOI PRA NÃO BRIGAR, MAS UMA BOIADA PRA NÃO SAIR DA BRIGA!
E naquela noite não houve mais histórias nem música somente silencio e muita bebida pra esquecer e rezas pra aquele Grande Leão Baio, jamais retornar!
Nenhum comentário:
Postar um comentário