Nessa terra fria, onde o forte sobrevive e o fraco arqueja, muita coisa de estranho a gente vê...Coisas sem entendimento mas com uma moral muito forte e vivaz. Então quando de meus tempos de menino, morava no interior de um vilarejo onde todos eram muito mais que conhecidos, e nós por detrás das línguas compridas sabíamos de muitas verdades oculta das vistas de cada um, no tal de diz que- diz que, que corria entre as alamedas finas , entre espaços de uma casa a outra.
Muito dos comentários se dava nas rodas de bebedeira, que se faziam dentro dos armazéns de onde íamos a mando dos pais buscar partes das refeições do dia, e pendurando na conta no fiado, marcado em uma pequena caderneta de dívidas que no final do mês só de comida comiam mais que a metade de nossos ´pobres salários de interior...
Dentre essas rodas haviam um homem muito sombrio, e que sempre tava jogando um carteado a dinheiro, e parecia que dinheiro nunca lhe faltava pois sempre perdia e continuava jogando, muitas eram apostas até um tanto altas para nossa pobre vila...E nem se via esse homem trabalhando, e uns o chamavam de MALDITO GUILHERME, pois havia o comentário de que ele se usava de roubar dos mortos do cemitério seus pertences e vender para conseguir dinheiro para as suas jogatinas sem fim. Uns diziam que o cara era tão malandro que até os dentes de ouro daqueles que se foram, por mais bons que tenham sido em vida ele não os respeitava e pior quando tocavam no assunto ele se dava a fazer ares de deboche, dando claramente a entender sua culpa.
Bem na via sempre teremos o verso e seu inverso, ao contrário de Guilherme, João Maria Branco era um homem de forte índole e caráter, e se ele falava algo a fazer, pode escrever, ele fará...Jõao Maria Branco teve sempre uma vida humilde no campo, um homem temente a Deus, e um coração de um touro! Todos os seus parentes mais amados já se foram, e ele estava ara a semente a anos além do esperado...Um dia porém se sentindo muito mal veio a ter com o médico do Pronto Socorro do Tito Bianchini, de outra aldeia, e ele disse que seus dias não passavam de sua mão direita, em todos os seus dedos...
Pois foi dois dias disso que estava indo comprar uns a mais pra reforçar o jantar de nossa família, no armazém do seu Juca, quando vi novamente o maldito Guilherme se gabando de um "grande Negócio" que ia fazer em breve...Nisso a porta e esgaçada pela entrada de João Maria Branco, que de imediato encara a Guilherme e lhe diz com todas as letras:
- Sei muito bem que você anda urubuzando a minha morte, desgraçado! Agora eu quero que escute bem o que lhe direi, que todos também ouçam pra depois não se fazer de mal entendido...Se você for me roubar depois de eu morrer eu juro pelo mais sagrado que MATO VOCÊ!
E dizendo isso, João Maria Branco saiu como a ventania que veio e a porta se bateu toda atrás dele..Todo mundo ficou uma tanto assustado e até o maldito Guilherme deu uma braqueada, mesmo dando aquele sorriso amarelo pra disfarçar.
Aquilo tudo me chamou muito a atenção e falei para meus pais o que vi e eles pediram para que não contasse mais a ninguém, pois as maldições de um que está a beira da morte nunca devem ser desprezadas...E assim eu fiz.
Claro que não demorou muito para o óbvio acontecer e foi um lindo enterro...E no velório que havia participado, entendi as palavras de ameaça do João Maria Branco...Dentro de seu paletó fúnebre havia um lindo relógio de bolso feito deu cordão com uma trança bem arrumada de crina de cavalo...E adivinha quem tava de olho, meio de longe, também? Pois é o maldito Guilherme!
Meu pai dizia que no final das contas, a genge que cava a própria sepultura...Uns cavam de colherinha de chá e demoram pra morrer,outros como o maldito Guilherme, cavam de pá de rodo e fazem questão de que seja bem funda mesmo!
Após o enterro de João Maria Branco, não vi mais o maldito Guilherme por nossa aldeia...Uns disseram até que ele havia tomado jeito e encontrado um emprego decente em outro vilarejo, mas eu achava difícil aquilo e o tempo passou, até que um dia como era costume no vilarejo, foram abrir a tumba de João Maria Branco para colocar seus ossos numa caixa de ossário, para liberar espaço no cemitério afinal ninguém cuida de túmulo de pobre, quando ele é só por si, não e mesmo?
Bom naquele dia foi um alvoroço só...Primeiro os coveiros correram ao intendente, o tal que cuidava da vila, e ele chamou a volante, aqueles que prendem gente e verificam crimes...Daí a notícia se espalhou e até eu fui lá ver, e gente tava lá, o corpo do tal maldito Guilherme mortinho da silva, deitado sobre o corpo do joão Maria Branco, com o pescoço todo enrolado no cordão do relógio dele...Ambos eram quase carcaças, que dava os anos que o homem tinha sumido. A volante disse que o maldito Guilherme decerto tentara roubar o morto e acabara ficando com o pescoço enroscado, no fio do relógio do João Maria Branco...Até aí tudo bem, mas se o maldito Guilherme abriu a cova do defunto, naquele época, e fez tudo isso quem a fechou, com tampa de caixão e tudo?
O que ficou marcado em minha memória foi que não se brinca com a palavra de um homem morto
pois até hoje por essas bandas a história toca mais ou menos assim, e quem escutou diferente que conte a outra...
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