sexta-feira, 26 de junho de 2015

A FORCA DO JUSTO

      São grandes as veredas e variáveis que ditam o curso de nossas vidas...O que decidimos e fazemos hoje vai ser um determinante do amanha, mesmo que em muitas vezes não sejamos responsáveis inteiramente por isso...
       Era mais uma manha fria quando nos chamaram de nosso acampamento para as ordens de deslocamento do grupo para uma ronda em um dos vilarejos, que ultimamente começara a ter seus cadáveres dos cemitérios desaparecidos...Seria roubo de túmulos. animais com fome, devido ao inverno? Só saberíamos quando chegássemos no local, mas as ordens foram bem claras: resolvam de vez a situação daquele vilarejo e não voltem sem terminar com tudo isso!
No final de palavras como tropa humanizada só havia o nome para uma boa relação com a população civil, não uniformizada, afinal nós é que limpávamos toda a sujeira para debaixo do tapete, não é mesmo?
      Foi um deslocamento lento por causa do dia que não queria nem ajudar. Havia neve caindo e o vento frio corroía as entranhas mesmo com nossos mantos e agasalhos por que no fundo o aço será sempre frio no inverno.
Chegando no local horas depois, demos de encontro com o intendente da vila, que veio a nos contar que após um tempo de grande frio que se teve notícia a cada mês ou quinze dias os corpos dos cemitérios começaram a sumir. Algo revolvia a terra e os arrancava de seus caixões, não levando mais nada, nem mesmo algum pertence que ficasse com o morto dado pela família como era do costume local. Pedi que me mostrasse os túmulos violados enquanto a minha tropa se acomodava dentro de um salão comunitário usado para reunir o povo do vilarejo.
      Segui lentamente o intendente, que andava timidamente a minha frente, e que vez ou outra olhava com o canto dos olhos, para trás como se tivesse sabendo de algo, se precavendo do invisível?
Dentro dos túmulos haviam caixões espedaçados e nas mais recentes violações dava para ver o arrasto do corpo para a  mata adentro?
- Com certeza podem ter sido os lobos!- pronunciou o intendente, quem sabe para puxar algum assunto, em meio ao meu silêncio em observa a cena do desatino...
- Lobos não usam pás meu amigo! ?Vê as marcas nos caixões? São uniformes demais para serem presas, bem como as laterais do escavo esta rete demais não acha?
- Mas se forem homens, o que querem com cadáveres de pessoas pobres como nós? Não temos nada a oferecer, por que?
- Calma,mas entenda que todos sempre tem algo a  dar ou ser tomado mesmo na sua morte...O que é nada para alguém é tesouro de outrem.
     Saímos do local para um abrigo menos frio, fui me aquecer perto de uma lareira pois o tempo lá fora demasiado frio já afetava as minhas articulações. Em pouco tempo o grupo preparou um bom café quente , de nossas rações, pois se houvesse algo de humano nos atos contra o cemitério bem poderia ser um dos moradores e então aceitar comida da população local era colocar-se em risco até de um envenenamento aleatório e mortal...Bom assim que nos acantonamos , começamos a proteger o local, com sentinelas como manda as regras do combate e recomeço a pensar sobre o caso.
Curiosamente o tempo dá uma trégua a todos inclusive aos campesinos que podem sair finalmente para seus afazeres, então foi ótima oportunidade para conhecer o povo e seu comportamento, suas curiosidades.
Mesmo que não falemos com muitas pessoas o nosso corpo fala e se reflete como água na figura de outras pessoas...Passaram-se dias mais promissores , fizemos rondas no local e nem sinal de lobos ou cães ensandecidos, tudo indicava alguém de dentro do próprio vilarejo...Tento conversar com a população mas acho de que todos sem exceção escondem algo. Então conversando com uma senhora idosa, para conhecer se outrora houvesse casso semelhante, noto que seu olhar para por momentos apreensiva por cima de meu ombro e quando me viro, vejo dois rapazes, empurrando um carrinho de lenha, e vinham da mata.Notei como a mulher ficou muda por um tempo e seus olhos lacrimejaram de medo ou coisa pior.
      Através desse momento mágico de observação, comecei a conhecer com mais detalhes a vida desses rapazes, que sempre foi dura, pois viviam fora, nos arredores do vilarejo, e morar longe da  segurança de vizinhos é por necessidade, ou pra se esconder, ou esconder algo.
Do intendente ele me contou que eram sobreviventes da grande nevasca e frio que se deu uns anos atras, onde muitos vilarejos pereceram por completo, afetando inclusive a própria vida dos mais abastados de Tierra Madre, pois quem pode pagar alguém pra fazer suas obrigações, não precisa trabalhar muito pesado..O problema é que faltou mão de obra e aí muitos agiotas da cidadela se complicaram e muito, e nisso forma raros os momentos que os poderosos precisaram dos mais fracos, então o porque de se lembrarem tanto daquele tempo sombrio.
       Dentro de minhas caminhadas, previ uma guarda no cemitério revesando todo o dia...Como sempre uns homens não compreenderam o teor disso, achando que poderíamos fazer algo mais importante do que guardar os mortos, contudo por ter uma visão um pouco mais adiante que eles, era por isso que eu ser chefe de grupo e não um deles. Aprendi muito com meu pai, que fora caçador e a primeira maneira de pegar um predador é cortar a fonte de comida dele, nesse caso , o cemitério.
Bem, observando mais atentamente os irmãos, me reservei a passar perto deles, para conhece-los melhor, então os parei para conversar:
-Boa tarde, vocês moram no vilarejo?
-Não senhor! Moramos em uma cabana, na estrada abandonada, a uns quilômetros daqui.- respondeu o irmão mais velho comum olhar selvagem, perturbador até.
- E o que fazem no vilarejo?
-Nós cortamos lenhas para os mais velhos, em torca de temperos, óleo e sal - respondeu o mais novo sob o olhar severo de seu irmão mais velho.- agora o senhor nos dá licença que temos prazo pra entregar essa lenha!
    Eles se mandaram, e pensei comigo: esses moços eram fortes, demais até para um local onde a pobreza era marcante...Teriam de ter muita proteína para digerir, o que era muito raro por aqui, uma vez que o vilarejo sobrevivia mal e parcamente da agricultura local, tendo de completar as suas rendas nos trabalhos em Tierra Madre, na realidade em sub empregos, pois na desgraça não tem quem se aproveite desses infelizes...Bolas! Novamente estou divagando filosofia que não interessa
ao lado de soldado da ordem.Devemos cumprir as determinações e não pensar sobre elas, é o que sempre nos ensinam, e só temos futuro se seguir a regra de ouro ao pé da letra, que seja!
      Agora passaram-se mais de um  mês e tive a  infelicidade de vera aquela senhora com a qual falei passar mal e morrer subitamente, nos meus braços. Em meio a sua agonia ela me puxou ao pé do ouvido e me disse em voz fraca:
- Meu filho...Já vivi muito e chegou minha hora. Por favor, faça um agrado para essa velha?
Queime meu pobre corpo e não me enterre, me queime, não quero sofrer como alma penada no estômago de nenhum OGRO! ....Por favorrr...
Sim , eu ouvi a palavra Ogro! Conhecido pelas superstições locais, a maldita criatura e afanadora de cadáveres e se alimenta deles, violando túmulos, e muitas maleficiências. Mas isso seria possível, um ogro no vilarejo?
     Eram altas horas quando fui chamado pela guarda do cemitério. Como esperava e percebi os cadáveres levados eram recém mortos de maioria e poucos passados do tempo da putrefação, então o sentinela atento viu movimentação no túmulo daquela velha senhora e viu um encapuzado tentando arrombar a sua lápide, quando tentou para-lo ele se interiorizou mata adentro...Agora começava a caçada!
Uma vez pelas minhas suspeitas havia deixado armadilhas perto do cemitério..Em uma correria dentro da mata num frio que cortava nosso pulmões perseguíamos sombras até que uma das armadilhas funcionaram e seguindo em sua direção vimos o encapuzado se escapando das amarras...Sem perder tempo disparei três setas, sendo que uma atingiu seu alvo, pois vimos uma poça de sangue no local onde estava a armadilha desativada por ele.
     Seguindo o rastro demos de encontro com a água fria do rio forte que cruzava nas proximidades do vilarejo, ali até mesmo os cães perderam o rastro e o frio veio repentinamente muito forte e por precaução recolhi a tropa de volta ao acantonamento, para nos recuperarmos e recomeçar de dia mais claro...Confesso que fora uma noite de horas intermináveis, pois era meu intuído terminar logo com esse mistério todo. Então a manha chega e recomeçamos as buscas...Percorremos toda a lateral do rio na sua val direita e esquerda, onde no final encontramos manchas de sangue que levavam de volta a floresta...Claro qeu podia supor onde daria a trilha de sangue e não deu outra: era a casa dos irmãos arrediados do vilarejo.
      Quando chegamos, vi a chaminé acesa da casa indicando que haviam pessoas dentro do local.Então cercamos a casa e com um grupo armado e de escudos entramos na residência onde estava uma cena dantesca.
Sentado na mesa, no centro estava o irmão mais velho, morto.Suas entranhas abertas, e faltavam órgão dentro, inclusive o coração.Notei que meu disparo atingiu seu figado e por causa do frio ele demorou a cair, vindo para na casa, com seu irmão mais novo, contudo não seria um ferimento que levou a morte do mesmo, pois seu crânio havia sido rachado pelo machado de sua casa, pelas mãos do próprio irmão.
Na mesa também comendo um refogado macabro de entranha e pedaços do coração tava o irmão.Ele comia ávidamente, com medo que tirássemos o prato de suias mãos. Então após se empanturrar e até arrotar do excesso ele empurra o prato, me encara e começa a contar tudo.
- A primeira vez que fizemos isso foi com nossos pais naquele terrível inverno. Eles nos alimentaram um bom tempo...Após percebemos que gostamos e nos tornamos mais forte com isso e nem sempre precisava...Um corpo quando eramos pequenos dava para mais de mês, por isso ninguém sentia falta quando íamos nos cemitérios...Contudo o tempo passou, crescemos e nossas necessidades também...
e deu que quase ninguém mais morreu de uns tempos pra cá...O senhor não sabe como é difícil arranjar carne boas em meio aos corpos apodrecidos. Estávamos passando fome, acredite!
Ontem vi meu irmão chegar daquele jeito, igual a mãe, igual ao pai, eu acreditei que fosse um sinal deles, e minha fome era grande, eu não pude esperar ele se ir, adiantei o processo e pela primeira vez a muito tempo eu comi bem, pois ha diferença da carne fresca é gritante, não acha?
      Sem nada a dizer, o levamos a frente da estrada da tradição, encontramos a primeira árvore grossa e galhada. Lançamos as cordas, e o enforcamos, como testemunha passou um idoso, um penitente que parou um tempo vendo o rapaz agonizar e desfalecer, e sem nada a dizer, a não ser pelos olhos seguiu seu caminho, assim como a tropa, que levantaram acantonamento e seguiram de volta ao forte, para um bom descanso merecido, sendo que muitos iriam a taverna para beberem e esquecer tudo.
Quanto a mim, era mais um fantasma que iria acompanhar-me nesses trechos da vida....Eu não comecei tudo isso mas no final, fui eu quem terminou com tudo, e isso vai acontecer sempre mais de uma vez, nos um dia finalizaremos, como finalizamo
 tudo.



terça-feira, 23 de junho de 2015

MOOSHRADOOM:O COLCHÃO DE ESPINHOS

     estava o velho monge andando, durante uma tarde fria pelas estradas da Tradição quando no caminho um pouco a frente deu de encontrar um senhor mais idos, possivelmente mais um penitente, que fez questão em lhe fazer companhia, e quem sabe deixar a caminhada menos dura, com boas conversas para o tempo passar.
     No caminho deram de cara com uma mulher sentada a frente de um campo chorando as mágoas de seu passado, e perguntaram por que tanto chorava:
- estava me lembrando de que sou como esse campo cheio de neve e geada, vazio e morto, pois quem eu amei já não mais existe e de todos que conheci, todos morreram, somente eu sobrei nessa vida sem ninguém por mim e eu por alguém...O que mais tenho desse mundo?
- Minha senhora e amiga a vida segue e nos em nossa idade, temos de lembrar e fazer os mais novos também lembrarem, de como era nosso tempo, de como as coisas foram belas um dia...Assim como você eu  conheço o campo e  também me lembro de que nele na primavera passada havia um lindo mar de flores  das mais diversas e era muito colorido e perfumado. A vida é assim sempre sera, de altos e baixos, de cheios e vazios de calor e frio, mas  somos nós que podemos escolher o qu levar dela...Se enchermos nossos sacos de viagens com coisas boas e lembranças agradáveis nossa caminhada para a frente e até a senhora morte nos chamar será mais agradável e benevolente, não acha?- as palavras daquele velho penitente tocaram fundo o coração daquela mulher idosa bem como de Mooshradoom, que vira algo especial de sua provisória companhia.
      Então caiu a tarde e veio a noite e como penitentes eles tentam dormir sobre um teto quente através da boa vontade do povo que nem sempre é caridoso, mais em especial no vilarejo pelo qual passavam pois vinha de origem de formação de proscritos e ladrões. Dentre deles, dos ladrões havia um naquele vilarejo que sempre fora afamado pelas maldades que praticava em especial, com os penitentes, que por ali vez ou outra passavam, como eram no caso dos dois que o destino mais do que nunca os havia reunido naquela ocasião. Desse malfeitor dos que ainda saíra quase inteiros quando por razão de aumentar a sua fama , ele o deixava, o chamavam de machadão, pois era o instrumento que mais usava para praticar suas barbáries com os viajantes. Então também por destino Moshradoom e seu companheiro de viagem bateram na porta da casa do dito machadão, que com segundas intenções os dá de pousar em sua residência lúgubre.
     Depois de uma sopa parca que ofereceu as futuras vitimas, dando tempo ao tempo machadão pergunta sobre qual penitencia cada um participava nos caminhos da estrada da Tradição:
- Busco o esquecimento de minha vida passada - falou Mooshradoom- fui homem ruim e agora tenho milhões de vidas para aprender a ser um homem, e espero conseguir...
- E você velho homem, o que pede por sua penitência? Conte-me sua história para distrair a noite que sempre demora a partir nas longas de inverno...
- Eu busco o perdão de um ofendido...Mas de tal gravidade, que não menos que o próprio Deus se ofendeu comigo!
      Curioso por saber das maldades do mundo, machadão queria saber qual tamanha ofensa cometeu tão gentil senhor para que o próprio Deus em pessoa pudesse ser o ofendido:
_ Meu filho, vou te contar a minha história para que possas entender melhor o meu pecado e como ofendi a meu Deus com tamanha arrogância.
      Era um homem que procurava a santidade desde moço e me embrenhei nos caminhos da pureza de pensamento e vivência. Com o passar dos anos fui de tal maneira reconhecido pelo Altíssimo, que ele sempre me mandava um anjo me acompanhar em minhas caminhadas em busca de iluminação, que sempre me alimentava ao término e retornava pela manha com um manjar para que recomeçasse o caminho novamente. Certo dia porém, quando andamos um pouco mais que o habitual, paramos a frente de um carvalho velho onde os homens da ordem enforcavam um homem, era mais um rapaz, ainda na flor da idade e quando ele foi pendurado pelo pescoço fui com meus pensamentos e disse que se ele estava sendo enforcado tão cruelmente a sua morte é porque o merecia, que aquele castigo era o que ele merecia em sua plenitude..
Ao término de meu pensamento vi que o anjo que me acompanhava sumiu de meu lado e por vários dias em que saia a caminhar ninguém mais me acompanhava e me senti vazio, como se faltasse algo grande dentro de mim...Rapidamente procurei orientação no jejum e sem comer por vários dias só em minhas orações, me apareceu meu anjo companheiro, com ares tristes e disse que eu errei muito em julgar aquele homem e me colocando acima do Altíssimo achar qual castigo seria justo a quem ou não, e aí não há ofensa maior do que querer ser Deus, quando imperfeito ainda sou, indigno de seu nome e sua presença.
     Atemorizado por ter se afastado de meu Senhor, pedi uma penitência, para que pudesse voltar a sua presença perdoado e livre de meu pecado. Então disse o anjo que deveria andar pelas estradas da Tradição vivendo só de ajuda dos outros no comer e dormir, que não deveria dormir sobre o mesmo teto não mais que um dia e uma noite e de repouso teria de dormir sobre um colhão de ramos de rosinha silvestre e  espinhos, para que lembrasse que nem de meu corpo posso marcar destino e assim o faria até que brotasse flores e verdes dos espinhos que carrego, então saberia que Deus estaria de bem comigo novamente...
E assim tenho andado por anos nesse mundo de Deus esperando tal dia chegar e quão grande será minha alegria, mesmo agora fraco e velho como estou, quando esse dia chegar...
    O testemunho daquele senhor calou a todos dentro daquela casa e tocou fundo nos corações deles principalmente no do machadão, que pensou:
- Meu Deus! Se de apenas ter pensado mal do criminoso que ali pagava seus crimes Deus deu tamanha penitencia para esse homem se redimir, quem dirá eu em minhas tantas e inúmeras maldades? Tenho de me reconciliar com Deus e deve começar agora enquanto tenho forças para isso..
Então machadão revelou suas intenções e pediu perdão aos penitentes, dizendo que mudaria sua maneira de ser ao amanhecer, e tamanha foi a alegria disso que todos se abraçaram e deram muitas risadas e foram dormir.
      Pela manha, dos três homens que dormiram o mais velho não acordou, e morreu em seus sonhos.
Machadão, ao ver aquilo como um sinal de Deus, resolveu tomar o caminho da penitência que seu mentor lhe ensinou pelos anos de exemplo: viveria da estrada da Tradição, comendo e dormindo não mais que um dia em cada casa, quando lhe desse abrigo e comida de bom grado e carregaria seu próprio colchão de espinhos, pois o daquele senhor já não tinha mas ramos e espinho, contudo folhas verdes e flores, um monte de rosinhas silvestres, que são os sinais da redenção dos homens de fé  Deus, seu pai único e detentor de toda a verdade.


domingo, 21 de junho de 2015

OS IRMÃOS CHULÉ

    Eram irmãos inseparáveis que viviam em um vilarejo pobre das imediações de Tierra Madre. Como todos os vilarejos menores, seus pais tinham de deslocarem-se a trabalho para a grande cidade quando eles ficavam sozinhos cuidando da pequena choupana, e meio a uma estrada velha abandonada longe da antiga Tradição, pois nem mesmo no vilarejo os pais dos irmãos, que eram dois tinham dinheiro ou posses para viverem dentro dele seguramente.
     Aqueles sempre foram tempos difíceis, e mais ainda para quem não tinha a proteção de seu vilarejo, morando próximo dos vizinhos, que podiam acudir a qualquer descaso que ocorre-se no meio do caminho de sus vidas já tão sofridas...
Os meses se passaram e o inverno chegou naquele tempo forte e cruel, pois além do frio causticante, havia também o vento forte do sul que naquela época foi  mais implacável do que nunca...Em meio a um dia de vento e neve forte os pais dos dois irmãos demoraram a sair da cidade de Tierra Madre e perderam o horário de saída das conduções que deslocavam nas estradas da Tradição e se houvesse porventura, alguma que deslocasse antes após do horário, hoje não o faria por causa do vento e da neve que caía forte lá fora.
     Foi uma caminhada difícil e mortal para os pais daqueles meninos, que sempre esperavam os mesmos chegarem para poderem comer algo, pois naqueles tempos, trabalhava-se no dia para poder comer á noite. Dinheiro, recursos e comida eram escassos, pois o clima não fora muito amigável,naquela época do ano, com nas demais. Foi um momento de espera e fome que, com certeza fez o irmão mais velho sair a procura em meio ao vento e ao frio, dos pais, que pareciam nunca chegarem, e foi o que houve...
Como disse o tempo não ajudou em nada nem a ninguém. Foram quarenta e cinco dias implacáveis de vento, chuva, geada e neve...Largava um e pegava outro clima.Quem podia ficou em casa sem sair para nem espiar lá fora, uns diziam que era a mais terrível temporada de inverno que poderia ter tido nos últimos dez anos...Muitos morreram dentro de suas casas, daquele pobre vilarejo de frio e fome.
     Vimos corpos ressequidos, encolhidos nas residências sem ter nem ao menos condições de acenderem um pouco de fogo, para se aquecerem, pois a fraqueza não deixava-os sair sequer da cama ou canto quente que se alojaram, havia alguns que se encolheram juntos aos seus com a intenção de se aquecerem um último momento, ou que sabe na hora derradeira de pelo menos morrerem ao lado dos seus, dos que se importavam, de quem amavam. E assim foi em maioria das casas que os sobreviventes do vilarejo passaram, procurando vida, qualquer sinal que fosse, uma mínima vida, para salvar e continuarem a viverem, sobrevivendo.
      Assim ainda passaram mais quinze dias até que alguém lembrou dos irmãos chulé, que ficaram esse tempo todo sozinhos, sem pais que nem haviam conseguido quem sabe partir da cidade grande onde trabalhavam como servos, por um parco salário e sobras das mesas dos seus senhores mais abastados, que ainda reclamavam com certeza de haverem de pagar os serviços braçais dos quais já não tinham intenção de fazerem por simples vaidade de posição social, e de ter o renome de poderem requisitar empregados, para mostrar uma abastância que não era tanta assim, afinal do porque de seus reclames, não?
Todos os que podiam ainda andar, sem muitas das queimaduras de frio para tratarem foram a casa nos fins da rua esquecida da velha Tradição, já temendo o pior, pensando em ter de prepararem duas covinhas, em terra rala e pobre donde moravam, infelizmente.
    Ao chegarem encontram os meninos saudáveis e viçosos, com poucas queimaduras, e por quarenta e cinco dias, conseguiram manter o fogo aceso e se alimentaram...De momento achavam que era um milagre de algum padroeiro do casal, que sempre foram devotos dos assuntos celestes e espirituais. Contudo chegando mais dentro da residência, entenderam de momento que de benção não havia nada, mas como tudo na Serra era simplesmente a mais pura sobrevivência.
Em cima do fogo viram a carne cortada em tiras, para secar e nos cantos do tacho até os ossos quebrados para arrancarem o tutano, conhecido por muitos como caracú dos ossos...Da pele fizeram sapatos, ou enrolaram seus pés para poderem cortar a lenha lá fora dentro do frio caustico. Dos cabelos arrancaram o escalpo cuidadoso para fazerem tocas e mesmo dos cérebros usaram ele para amaciar outras tiras de pele para enrolarem nas mãozinhas, para saírem lá fora pegar a água no poço.
Sim, seus pais lhes ensinaram muito bem a se virarem, na ausência deles, mesmo que faltassem poderiam ainda assim ter uma chance de viver, e assim o fizeram, pois era um momento de total necessidade, afinal quem não o faria em tais condições?
     Encontramos as carcaças de seus pais descarnadas com todo o cuidado para poderem aproveitar o máximo que podiam tirar, de proveito deles...O irmão mais velho com certeza encontrou os pais congelados na entrada da estrada que dava acesso á casa dos irmãos e os trouxe para dentro. Com o tempo não melhorando e cada vez pior os irmãos tomaram a única decisão de se manterem vivos através dos restos de seus pais...E se você fosse os pais dos irmãos chulé, por acas os reprovaria? Não é assim que um pai tem de fazer por seus filhos, se possível dar as suas vidas para  que possam viver?
Pois eles deram sim, através de sua carne ,gordura e ossos, seus filhos puderam viver e continuar...Sobrevivendo.




terça-feira, 16 de junho de 2015

O SOLDADO E O DEMONIO

     Quando realmente sabemos que estamos fazendo a coisa certa? Quando realmente sabemos de que o lado pelo qual lutamos, a ideologia que seguimos, o conhecimento que  entregamos  é o mas viável? Quando temos alguém ou alguma coisa para que nos conteste, para que assim possamos comparar, criar um relação e com ela tirarmos a certeza da fundamentação e norteamento de que seguimos, de que estamos no rumo certo...
      Nosso grupo havia chegado de uma incursão penosa, e mesmo sem termos nenhuma baixa, um combate sempre mexerá com seus sentimentos e emoções, certezas e incertezas, e por mais que queiramos dizer de que a história sempre será escrita pelo lado vencedor, mesmo vencendo, para aqueles que participaram do evento, da missão, do embate sempre temores e duvidas os seguirão como fantasmas, que sempre voltam em muitas vezes contra a nossa vontade, inclusive.
Então, havia se passado dois dias daquela situação um tanto incomoda e estávamos dentro de nosso quartel, em meio a uma área de mata, com uma estrada da velha tradição a passar uns 400 metros de nossa entrada...Vindo de uma manha cheia de neblina, havia um caminhante, um homem sem rumo, todo esfarrapado, empurrando um velho carrinho de mão feito de madeira, bem mal pregado por tarugos, também de madeira, ele se aproximou da entrada de nossa fortaleza, chamando a atenção da sentinela, que desperta a guarda sonolenta, ao estado de alerta...Da guarda um soldado vai até a estranha figura que agora era obscurecida pelo estranho nevoeiro, que parecia acompanhar por onde ele seguia.
Com certo cuidado perguntou qual o interesse no quartel, e com uma voz chiada de alguém muito velho, agora comum tom inumano, a entidade responde:
      - Chamem o homem que comandou o grupo que a pouco tempo entrou nessa fortaleza, ele estará interessado em negociar comigo, e se ele não vier falar comigo, e enquanto ele não vier falar comigo e até ele vier falar comigo, ninguém sairá e se teimar em sair, se perderá, e se tentar retornar não voltará...Assim será, até aquele homem vir falar comigo, só, e só comigo!
      A sentinela empalideceu,pois a voz daquele homem não parecia de um demente ou louco tão pouco..Era de alguma coisa muito antiga que perambulava por esse mundaréu a muito tempo e isso dava pra sentir na pele, até nos ossos.
Bom o pobre guarda desnorteado simplesmente passou a mensagem ao comandante em chefe da fortaleza. estávamos dormindo a mais de dez horas pela canseira e exaustão de toda aquela operação inquietante...Meus sonhos eram na realidade, pesadelos ainda não resolvidos do que passamos naquela localidade...Quando foi acordado pessoalmente pelo líder da fortaleza, que me dizia:
      - Alguém te chama lá fora e diz que te conhece, que você o esperava...Que deve ir só ou todos nos se perderemos e jamais iremos retornar, se assim não o fizer...!
Meu líder sabia da história da patrulha perdida,de outro forte e era responsável pelas vidas naquela fortaleza, por todas as almas que ali residiam...Claro que ele não iria colocar uma fortaleza inteira em perigo, por causa de uma única alma,mesmo que fosse a sua própria. Era assim que teria eu mesmo feito se fosse no seu caso.
      Compreendendo o fato e da situação, não mais explicações pois quando se trata com coisas de outro mundo ou de entendimento  complicado devemos lidar com isso com certa discrição.
De meu alojamento sem paradas me desloquei pela frente do quartel, passei o refeitório e a enfermaria, desviei pela área de comando, para não perturbar a paz do cemitério dos heróis, pois dessa vez eles não teriam muito pelo que olhar, uma vez que o assunto não era mais com eles, mas no fundo comigo mesmo, e ninguém mais. Logo me encontrava entre as duas torres da entrada, logo eu também as ultrapasso e com elas a minha sensação de segurança também se vai, a minha frente somente aquela estranha neblina, e mais afrente apenas um breu e o insondável.
     Começo a caminhar em meio a névoa espessa e sem forma.Minhas mãos pedem para que erga meu escudo e saque de minha espada, mas sei que no fundo minha batalha não está mais no plano térreo mas além...
Meu combate agora é com meus temores, receios e duvidas. A cada passo penso do caminho percorrido, de todo o sangue derramado, de toda a causa combatida, de todo o inimigo vencido, das batalhas perdidas, das traições, de meu desespero, de minha dor insana e somente amenizada pela dor de outros, quando pude infligir...Penso na justiça poética e utópica  que me fizeram acreditar de toda a babozeira de certo e errado. Sim agora estou a poucos passos de entender mediante essa presença fantasmagórica que carregava trapos e restos de alguma coisa em cima daquele carrinho de madeira mal reparado ainda com tarugo de madeira, que um dia a muito tempo escutei o seu rangido, que mais parecia um chamado de algo escondido e perturbador, uma melodia da morte pós vida e nunca ao inverso...Estaria a um passo de entender, o "Q" de tudo.
     De frente com meu demônio interior, olhando nos olhos vazios e sem alma do que um dia eu fui, enxergando lá bem dentro de suas entranhas apodrecidas pelos pecadas que cometi dentro dessa guerra sacro santa, dentro de tudo que escondi, tão somente para poder viver entre os normais, os humanos, os campesinos, compreendi: eu era o lobo e não cão! Agora, de que lado mordia, ai era outra história...!




terça-feira, 9 de junho de 2015

ENCONTRANDO UM BLADESSARI

       A momentos que entendemos de que somos tão pequenos quanto sequer podemos imaginar...Então também compreendemos de que pessoas pequenas, que querem ser grandes fariam qualquer coisa para atingir essa grandeza, pois são inconformados, com sua natureza mínima...E em meio a esses míseros e pequenos há ainda os que se precipitam, e antes de alcançarem a grandeza da qual sonham se revelam, e ousam desafiar e provocar aqueles que se encontram quietos em seu canto...Há um ditado que não é muito familiar na Serra: cuidado mesmo devemos ter com os mais quietos, esses são os mais selvagens!
      Caminhava eu me meio meu acampamento, junto ao grupo de tropas,quando notei algo curioso e ao mesmo tempo bizarro. Dentro do grupo de incursão florestal um líder se destacava, não pelo seu brio ou força mas pelo seu tamanho e peso...Ora porque isso chamou minha atenção? Simplesmente porque o grupo de incursão é um grupo rápido que se deslocava como batedor, e sem contato direto com o inimigo sua missão principal era trazer as informações a nosso líderes para que tomassem as decisões em tempo real ou quase total de batalha, portanto eram homens esguios e seu suposto líder era na realidade par mais um porco recheado de banha, só para dizer no mínimo, uma aberração dentro daquele grupo coeso.
Sem nada eu dizer e de imediato, aquela montanha de banha se aproxima de mim e retruca em tom áspero:
     -O que tá olhando chefe de grupo?Encontrou algo interessante pra observar?
     - Na verdade sim senhor...Me veio a questão do deslocamento de sua tropa..- retruquei quando o homem me deu chance, me interpelando erroneamente.
      - Como assim, nosso deslocamento na mata? O que quer dizer com isso?
       - Vou direto ao ponto senhor: acho curioso seu grupo se deslocar com o senhor no comando da ação pois esses homens no mínimo teriam de carrega-lo mata adentro a fim de não produzir ruído pelo seu tamanho e peso...Por outro lado também me questiono se sem o senhor ir a lidera-los, ficando somente na sua tenda, qual seria a presteza de suas informações, pois não estariam a nível de informações viáveis e confiáveis, para mudarmos o curso da batalha a nosso favor, garantindo a nossa vitória com o mínimo de sacrifício dos homens que estarão de frente para o combate, homens iguais a mim e de meu grupo, que deverão enfiar a cara dentro daquele sangue todo, cegos e orientados somente com a s informações que vocês colheram, que tal? Isso não lhe parece justo, por eu estar olhando?
     Notei que uma vermelhidão subia pela pele rosada e elastificada daquele homem gordo e desajeitado...Esperava que reagisse e assim comprovasse a minha afirmação...Ele se apega ao cabo de sua espada e firma seu punho , enquanto eu o encaro como tigre pronto para golpear antes que desembainhasse a sua espada...então mediante minha postura ele recua e com voz trêmula tenta se firmar dizendo:
     -   Você duvida que homens como eu possam liderar e se preciso sangrar pela tropa que comanda, chefe de grupo?
     - E o senhor sangraria agora por seu posto e posição? - provoco um pouco mais, para ver no que vai dar..
     - E você chefe de grupo o quanto sangraria agora? - Estávamos entrando em um jogo infantil de palavras, o que mostrava a incapacidade daquele homem gordo e desajeitado para o combate.
Assim, sem pensar muito saquei de minha faca de combate, arregaço  minha manga da malha e cortei em meu antebraço o numero de minha unidade, deixando o sangue escorrer um pouco, pingando ao solo. Daí giro a faca no ar, segurando pela lâmina e lado cego e entrego ao gordo desajeitado, que ao ver o meu sangue escorrendo empalidece quase amarelando, e lhe digo calmamente:
     - Sua vez...!
O homem agora cercado pelos homens dele e dos meus pois era uma clara disputa de honra e devoção aos seus pelotões, toma a faca sangrenta, e para não deixar o pouca da moral que tem a lhe cair por terra diz:
    - O que faço, não precisaria, mas mostro meu comprometimento ao meu pelotão!
Então muito timidamente ele leva minha faca tremula a ponta de seu dedo e procede um pequeno corte superficial, deixando cair três gotas de sangue na terra..Nesse momento claro de comprometimento a sua equipe, escutei os urros de satisfação e de meu grupo, que me ergueram e me levaram a primeira taverna para comemorar, pois somente quem sangra por seu grupo e o defende com a alma pode ser digno da confiança dele...E quanto ao gordo desajeitado? Para o destino dele foi desprezado pelo seu grupo, perdendo posto de comando de campo e se tivesse sorte estaria em algum forte trabalhando na papelada administrativa,pois era justamente o que suas três gotinhas de sangue valiam.





segunda-feira, 8 de junho de 2015

O VAMPIRO DE ALMAS

      Ah, a doce juventude! Quanto maravilhoso era ter a vitalidade e o tempo a seu favor? Quem não se lembra, dos desafios, da rebeldia? O mundo havia mudado e era nosso, não era mais dos velhos, muito menos do passado...O mundo era jovem porque éramos tão jovens!
     Contudo em meio ás novidades, ás festas, as baladas, algo pernicioso e velho acompanha o doce frescor da vitalidade juvenil...Um mal tão antigo quanto o próprio mundo, se alimentando de nossas crianças, de nossos filhos, vivendo dos mais vivos!
Dentro da grande cidade de Sierra Madre, podemos encontrar de tudo, e até mesmo o que nunca foi visto...Uma onda frequente nessa juventude rebelde tomou conta da cidade e em forma de festivais clandestinos montados em locais duvidosos. sombrios e esquecidos, simplesmente para dar mais "clima" a festa. Dessas festas clandestinas eu me apego, levando vocês a conhecer uma dessas crianças rebeldes que chamarei de Cassandra...Desde cedo a vontade de Cassandra em viver a vida era notável...Desde pequenina, ela era quem corria mais, quem brincava mais, quem queria sempre mais. Cassandra cresceu se tornou moça e sua avidez pelo inesperado pela emoção foi aumentando também em proporção..Corridas rápidas em montarias, natação desportiva e outras mazelas saudáveis já não a satisfaziam, seu mundo parecia cada vez menor pois muito cedo ela saboreou todos os frutos bons e também os proibidos...Há um ditado dentro da Serra que nos diz manter o tempo sempre no seu passo certo, quem se apressa muito sempre comerá o fruto ainda verde e que não está pronto para saborear seu verdadeiro  sabor e gosto. Assim se como uma maça antes do tempo o que posso ter no gosto se não o que for amargo e azedo?
     E assim se tornou a vida de Cassandra, aos poucos, agora mesmo jovem, já com um filho nos braços que ela nem sabia mais de quem era o pai, nada mais parecia ter sentido nesse mundo, tão...Amargo! Por isso Cassandra procurou o diferente, muito longe do casual, Cassandra saiu em busca do obscuro, de poções e elixires que poderiam fazer de sua vida algo novamente especial. E eram nas festas escondidas, onde aparentemente não teriam controla dela e seus novos amigos que ela poderia realmente ser feliz e viver novamente? Bem pleo menos ela o quera pensava...
Então como o pai era um homem de tradição e portanto ultrapassado, para Cassandra não havia mais conversa co ele e de tanto discutirem sobre o que cada um achava de certo e errado, o pai abandonou o lar deixando ela com sua mãe, que a tudo parecia concordar, por mais absurdo e errado que pudesse ser, afinal mãe será sempre mãe...
Um dia Cassandra entediada de seus estudos e de sua vida de mão solteira, resolveu passar o final de semana se divertindo com seus novos amigos sombrios e saíram a noite as festas normais, que para eles não tinham, tanta emoção mais assim e em meio as passagens de bares e salões de bailes eles encontram outros amigos sombrios que indicam a eles uma festa especial chamada de COLINA AZUL...Nossa só o nome já era muito chamativo!
     Eles se mandaram com suas montarias, para dentro da mata longe das áreas seguras das estradas da tradição, e em meio a um caminho tortuoso e escuro, repentinamente em meio a uma clareira havia uma festa acontecendo com uma estranha iluminação azul profundo...Aquilo era algo que Cassandra esperava a muito tempo: emoção diferente e sem limites! Ali as pessoas,jovens como eles se embebedavam, tomavam várias poções, seus elixires e ninguém poderia contesta-los, ali havia a juventude que tanto anseia, longe do mundo velho e tradicional, de um mundo seguro e sem graça.
Assim passou-se o tempo...Cheia de bebidas e alucinógenos, sua vida parecia ser completa...Então em meio a multidão ela viu uma sombra um tanto disforme se mexendo, de uma maneira descompassada, inumana. Primeiro Cassandra se achou estar dentro de um sonho ou alucinação e por assim dizer começou a curtir muito mesmo...Chamando a criatura e em dança insinuante mostrava toda a volúpia de seu corpo jovem, deixando a criatura mais desejosa, do que ela tinha a oferecer, ou pelo menos era o que ela pensava.
      A brincadeira começou a perder a graça quando a criatura com grandes e enormes olhos vermelhos se aproximou, rastejando, se esfregando com seu pelo rijo e eriçado, mostrando seu interesse por Cassandra...Seu pavor tomou conta quanto a criatura abriu sua enorme bocarra e saindo dela uma língua molhada de saliva pegajosa e fétida, e que lhe começou a lamber seu rosto como um doce suculento.
Cassandra correu, batendo em todos que encontrava pedindo ajuda mas como todos estavam em mesma situação ou pior que o estado dela achavam que a moça estava viajando tanto quanto eles dentro daquela festa.enquanto isso a criatura se entreverando nas sombras, ladina, chegava mais e mais perto de seu suculento petisco...Um petisco vivo, quente macio e tão jovem!
      Em seu desespero Cassandra foge para dentro da mata escura, um ledo engano uma vez que as sombras eram a casa e lar de monstruosa criatura...Ficou longe das luzes azuis que no fundo foram colocada a muito tempo pelos velhos e ultrapassados antigos avisando a todos, que aquele terreno era maldito deste que seus sacerdotes aprisionaram tal abominação para mais nenhuma alma inocente levasse do povoado que um dia virou a cidade grande de Sierra Madre...Então em um rufar de asas forte como o vento ela foi arrancada do chão e nas alturas em meio ao tamanho pavor sua juventude, sua vitalidade lhe foi tomada, como quem suga uma uva e deixa só a casca e um mínimo de suco, sem dó ou piedade, pois para tal criatura ela era apenas alimento,para alguém que havia a eras ficado se se alimentar...
Depois como bagaço ela foi atirada para próximo da festa e a criatura se retira, sumindo na escuridão.Jogada na grama fria do campo, Cassandra lembra dos familiares...Lembra do pai que a amava e nunca quis ouvir, da mãe atenciosa e amorosa e que por seu amor a tudo dela perdoava...De seu filho que teve e nunca deu tempo suficiente para entende-lo e ama-lo, como os seus pais o fizeram com ela, um dia.
Cassandra lembra de seus amigos chatos que agora devido ao horário estavam dentro de seus lares, quentes e amados, esperando um novo amanhecer para viver mais um dia...Sim o mesmo amanhecer que ela luta agora, com o pouco de vida que lhe ainda pertence para pelo menos ver aparecer...
      Bem a festa termina e seus amigos sombrios veem ela caída quase inerte e em desespero se mandam para um hospital, qualquer um que  encontrem a tempo de salva-la. Para Cassandra pouco pode aproveitar dessa tentativa, seu corpo quase nada mais sentia, enquanto o tempo parecia parar, sua mente e olhos enturvavam, caminhando para a escuridão...Novamente o pavor vem aos seu peito arqueado e com dificuldade já em respirar...O terror ainda não haveria de passar e no mínimo era só o começo, pois ela começa a escutar o mesmo rufar de asas, daquelas negras asas que a subjulgou e que agora retornaram para buscar o pouco que ainda sobrou, pois nessa hora mesmo o pouco que tiver lhe sera também tirado...!
     Então jovens rebeldes um aviso: segurem a onda vão com calma, aproveitem o dia conforme ele se achega e acima de tudo fiquem longe da COLINA AZUL!



sexta-feira, 5 de junho de 2015

A MALDIÇÃO DOS MOGHES

     O inverno esta chegando...As viagens de rotina estão cada vez mais difíceis devido ao clima frio...Por muito tempo passamos parados entre os acampamentos, esperando uma abertura da neve e do frio para continuarmos. Em certo momento pare perto do quatorze, uma localidade no inteiror da Serra, um vilarejo muito antigo, tanto quanto as estradas da velha tradição...
Eram muitas as histórias que se contam lá e uma delas,a que mais tinha a haver com o momento que passei por lá era a história da família Moghes.
     O patriarca daquela família era Pedro Moghes, um homem duro e materialista, que só pensava no lucro e na riqueza...Eles mantinham uma terras na banda do sul do Quatorze e pouco vinham ao vilarejo, para comprar algo ou ainda para alguma interação amigável com algum conhecido, coisa que nenhum dos Moghes tinha por aquelas vizinhanças. Com a chegada do inverno, os Moghes não paravam de trabalhar na lida do serviço, mesmo para os animais de carga era difícil acompanharem o ritmo louco de trabalho daquela família...Com o tempo e o cansaço nas sombras dos homens da família os filhos mais velhos dos Moghes, começaram a morrer, por acidente e doenças, já da fraqueza de alguns. Contudo o patriarca Pedro Moghes, já além da meia idade ainda se mantinha sempre firme e resoluto, e assim quanto mais tinha mais ele queria para si...E mesmo com tamanha sede de riqueza, Pedro Moghes se vestia com trapos e roupas velhas, o que era sempre um contraponto e também dava muita história dentro do vilarejo: o que era feito do ouro dos Moghes?
     Co o tempo ficou apenas um filho adotado e deficiente mental, morando com o casal Mohes, seu nome era Jorge e era o único que aparecia de vez ou outra no vilarejo para comprar sempre um pouco de óleo e sal grosso, que eram as únicas coisas que não produziam na fazenda dos Moghes...E então uma mulher muito ladina sabedora de que Jorge era o único herdeiro de toda a fazenda e também do possível tesouro guardado dos Moghes começou a fazer graça, para Jorge que inocentemente se encantou com a mulher.
Então a cada visita mais e mais ela se aproximava de Jorge e em meio de suas investidas o rapaz mesmo com problemas mentais, ainda assim um homem feito engravidou-a e para o inicio da desgraça familiar teve de ir morar com os Moghes. Bem a desgraça se anunciou quando a criança que a mulher esperava nasceu, agourando segundo os moradores do Quatorze ainda mais aquela família estranha.
Então a mulher dentro da familia, começou a tentar seguir o patriarca que a todo o momento ia  para dentro de um velho cafundó e não saia senão pelo anoitecer...Ela queria muito saber se era ali que o Pedro Moghes  guardava seu tesouro. Então a ladina mulher armou mais m plano diabólico para garantir sua parte ao menos nesse lucro todo..Lentamente e como cobra sibilosa começou a seduzir o patriarca, inclusive tomando banho nua no rio perto do cafundó justamente na hora que ele ia adentrar no cafundó...Então um dia ela se lançou aos braços do velho Moghes, que ainda estava incendiado de desejos criados por ela mesma. E em meio aos amores, quem viu tudo foi a velha mulher de Pedro, que não aguentando da dor de tamanha traição, resolveu se matar enforcada no beiral da entrada da casa, que um dia a abrigou do frio e da chuva, procurando um pouco de paz ao se despedaçado coração!
Uns dizem que ao galopar com Pedro Moghes, a mulher viu quando a suicida aparece e com um sorriso macabro, a encarou até aos últimos momentos de seu cavalgar, numa afronta ainda maior.
       Pedro Moghes nem ao menos deu a mulher dele um enterro decente , jogando-a em uma vala funda só pra não gastar com o enterro...E então por tempos muitos aquele estranho e pecaminosos triângulo amoroso se deu a ponto de nascer uma criança que ninguém sabia de quem seria, ou do patriarca ou de seu filho adotivo...
A criança quando aparecia no vilarejo,mais parecia um animal selvagem, com sede de sangue logo causou problemas a ponto dos moradores o expulsarem, com medo de seus ataques de fúria contra seus filhos, sem mais nem menos. Parecia que nada sairia daquele ritmo amaldiçoado, quando,  então após toda a noite começou a aparecer uma fantasmagórica figura por entre as ruas do vilarejo, e um dia um homem com muita coragem encarou o fantasma perguntando o que queria...Ele disse que apenas enterrasse ele e ou seus que não teria paz, enquanto não tivessem uma sepultura digna e que não se preocupasse em pagar pois sua mãe o esperaria na casa com o dinheiro certinho para o enterro!
     O homem seguiu a aparição que se deu conta em direção a terra dos Moghes, e quando ele entrou na casa dos Moghes, uma cena aterradora o fez retornar correndo para o vilarejo do Quatorze: ele viu a família toda morta sentada ao redor da mesa da cozinha, sendo que a mulher causadora de tudo estava , deitada na mesa da cozinha destrinchada e preparada como uma galinha, com recheios e temperos colocada nas partes intimas amarrada e assada, como tal...Na ponta final da mesa jazia um cadáver mais velho, apodrecido de uma velha senhora, que sentada e recostada numa cadeira segurava uma botija de ouro, em uma mão e noutra uma faca ensanguentada de trinchar...Na botija de outro havia dinheiro somente para três enterros de jazigo.
E assim os moradores fizeram, enterrando os Moghes nos jazigos como quisera o fantasma, mas a mulher e seu filho foram para o morro dos suicidas e rejeitados, em uma vala comum, tal qual fizeram com a matriarca Moghes, pois haviam rumores de uma maldição se juntassem todos novamente em mesmo campo santo.
     Até hoje eles comentam que as terras amaldiçoadas dos Moghes abrigam dois fantasmas, um seria a mulher que tenta encantar qualquer visitante para ajudar a achar o tesouro que tanto procurou ter em vida e outra é avelha dos Moghes, que atacaria quem se aventurasse pelo cafundó em busca do tesouro da família...E ela haverá de trincar e preparar o pobre encantado como fez com a mulher, tal qual uma galinha trinchada.
      E então quem estaria disposto a encarar tal maldição, em busca dos tesouros dos Moghes?













SEXTA 13!

     Chegou a sexta-feira 13! Muitos levam como crendiuces as sextas 13... Uns fazem até simpatias para sorte ou amor. Mas aqui na Serra as ...