terça-feira, 23 de junho de 2015

MOOSHRADOOM:O COLCHÃO DE ESPINHOS

     estava o velho monge andando, durante uma tarde fria pelas estradas da Tradição quando no caminho um pouco a frente deu de encontrar um senhor mais idos, possivelmente mais um penitente, que fez questão em lhe fazer companhia, e quem sabe deixar a caminhada menos dura, com boas conversas para o tempo passar.
     No caminho deram de cara com uma mulher sentada a frente de um campo chorando as mágoas de seu passado, e perguntaram por que tanto chorava:
- estava me lembrando de que sou como esse campo cheio de neve e geada, vazio e morto, pois quem eu amei já não mais existe e de todos que conheci, todos morreram, somente eu sobrei nessa vida sem ninguém por mim e eu por alguém...O que mais tenho desse mundo?
- Minha senhora e amiga a vida segue e nos em nossa idade, temos de lembrar e fazer os mais novos também lembrarem, de como era nosso tempo, de como as coisas foram belas um dia...Assim como você eu  conheço o campo e  também me lembro de que nele na primavera passada havia um lindo mar de flores  das mais diversas e era muito colorido e perfumado. A vida é assim sempre sera, de altos e baixos, de cheios e vazios de calor e frio, mas  somos nós que podemos escolher o qu levar dela...Se enchermos nossos sacos de viagens com coisas boas e lembranças agradáveis nossa caminhada para a frente e até a senhora morte nos chamar será mais agradável e benevolente, não acha?- as palavras daquele velho penitente tocaram fundo o coração daquela mulher idosa bem como de Mooshradoom, que vira algo especial de sua provisória companhia.
      Então caiu a tarde e veio a noite e como penitentes eles tentam dormir sobre um teto quente através da boa vontade do povo que nem sempre é caridoso, mais em especial no vilarejo pelo qual passavam pois vinha de origem de formação de proscritos e ladrões. Dentre deles, dos ladrões havia um naquele vilarejo que sempre fora afamado pelas maldades que praticava em especial, com os penitentes, que por ali vez ou outra passavam, como eram no caso dos dois que o destino mais do que nunca os havia reunido naquela ocasião. Desse malfeitor dos que ainda saíra quase inteiros quando por razão de aumentar a sua fama , ele o deixava, o chamavam de machadão, pois era o instrumento que mais usava para praticar suas barbáries com os viajantes. Então também por destino Moshradoom e seu companheiro de viagem bateram na porta da casa do dito machadão, que com segundas intenções os dá de pousar em sua residência lúgubre.
     Depois de uma sopa parca que ofereceu as futuras vitimas, dando tempo ao tempo machadão pergunta sobre qual penitencia cada um participava nos caminhos da estrada da Tradição:
- Busco o esquecimento de minha vida passada - falou Mooshradoom- fui homem ruim e agora tenho milhões de vidas para aprender a ser um homem, e espero conseguir...
- E você velho homem, o que pede por sua penitência? Conte-me sua história para distrair a noite que sempre demora a partir nas longas de inverno...
- Eu busco o perdão de um ofendido...Mas de tal gravidade, que não menos que o próprio Deus se ofendeu comigo!
      Curioso por saber das maldades do mundo, machadão queria saber qual tamanha ofensa cometeu tão gentil senhor para que o próprio Deus em pessoa pudesse ser o ofendido:
_ Meu filho, vou te contar a minha história para que possas entender melhor o meu pecado e como ofendi a meu Deus com tamanha arrogância.
      Era um homem que procurava a santidade desde moço e me embrenhei nos caminhos da pureza de pensamento e vivência. Com o passar dos anos fui de tal maneira reconhecido pelo Altíssimo, que ele sempre me mandava um anjo me acompanhar em minhas caminhadas em busca de iluminação, que sempre me alimentava ao término e retornava pela manha com um manjar para que recomeçasse o caminho novamente. Certo dia porém, quando andamos um pouco mais que o habitual, paramos a frente de um carvalho velho onde os homens da ordem enforcavam um homem, era mais um rapaz, ainda na flor da idade e quando ele foi pendurado pelo pescoço fui com meus pensamentos e disse que se ele estava sendo enforcado tão cruelmente a sua morte é porque o merecia, que aquele castigo era o que ele merecia em sua plenitude..
Ao término de meu pensamento vi que o anjo que me acompanhava sumiu de meu lado e por vários dias em que saia a caminhar ninguém mais me acompanhava e me senti vazio, como se faltasse algo grande dentro de mim...Rapidamente procurei orientação no jejum e sem comer por vários dias só em minhas orações, me apareceu meu anjo companheiro, com ares tristes e disse que eu errei muito em julgar aquele homem e me colocando acima do Altíssimo achar qual castigo seria justo a quem ou não, e aí não há ofensa maior do que querer ser Deus, quando imperfeito ainda sou, indigno de seu nome e sua presença.
     Atemorizado por ter se afastado de meu Senhor, pedi uma penitência, para que pudesse voltar a sua presença perdoado e livre de meu pecado. Então disse o anjo que deveria andar pelas estradas da Tradição vivendo só de ajuda dos outros no comer e dormir, que não deveria dormir sobre o mesmo teto não mais que um dia e uma noite e de repouso teria de dormir sobre um colhão de ramos de rosinha silvestre e  espinhos, para que lembrasse que nem de meu corpo posso marcar destino e assim o faria até que brotasse flores e verdes dos espinhos que carrego, então saberia que Deus estaria de bem comigo novamente...
E assim tenho andado por anos nesse mundo de Deus esperando tal dia chegar e quão grande será minha alegria, mesmo agora fraco e velho como estou, quando esse dia chegar...
    O testemunho daquele senhor calou a todos dentro daquela casa e tocou fundo nos corações deles principalmente no do machadão, que pensou:
- Meu Deus! Se de apenas ter pensado mal do criminoso que ali pagava seus crimes Deus deu tamanha penitencia para esse homem se redimir, quem dirá eu em minhas tantas e inúmeras maldades? Tenho de me reconciliar com Deus e deve começar agora enquanto tenho forças para isso..
Então machadão revelou suas intenções e pediu perdão aos penitentes, dizendo que mudaria sua maneira de ser ao amanhecer, e tamanha foi a alegria disso que todos se abraçaram e deram muitas risadas e foram dormir.
      Pela manha, dos três homens que dormiram o mais velho não acordou, e morreu em seus sonhos.
Machadão, ao ver aquilo como um sinal de Deus, resolveu tomar o caminho da penitência que seu mentor lhe ensinou pelos anos de exemplo: viveria da estrada da Tradição, comendo e dormindo não mais que um dia em cada casa, quando lhe desse abrigo e comida de bom grado e carregaria seu próprio colchão de espinhos, pois o daquele senhor já não tinha mas ramos e espinho, contudo folhas verdes e flores, um monte de rosinhas silvestres, que são os sinais da redenção dos homens de fé  Deus, seu pai único e detentor de toda a verdade.


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