terça-feira, 16 de junho de 2015

O SOLDADO E O DEMONIO

     Quando realmente sabemos que estamos fazendo a coisa certa? Quando realmente sabemos de que o lado pelo qual lutamos, a ideologia que seguimos, o conhecimento que  entregamos  é o mas viável? Quando temos alguém ou alguma coisa para que nos conteste, para que assim possamos comparar, criar um relação e com ela tirarmos a certeza da fundamentação e norteamento de que seguimos, de que estamos no rumo certo...
      Nosso grupo havia chegado de uma incursão penosa, e mesmo sem termos nenhuma baixa, um combate sempre mexerá com seus sentimentos e emoções, certezas e incertezas, e por mais que queiramos dizer de que a história sempre será escrita pelo lado vencedor, mesmo vencendo, para aqueles que participaram do evento, da missão, do embate sempre temores e duvidas os seguirão como fantasmas, que sempre voltam em muitas vezes contra a nossa vontade, inclusive.
Então, havia se passado dois dias daquela situação um tanto incomoda e estávamos dentro de nosso quartel, em meio a uma área de mata, com uma estrada da velha tradição a passar uns 400 metros de nossa entrada...Vindo de uma manha cheia de neblina, havia um caminhante, um homem sem rumo, todo esfarrapado, empurrando um velho carrinho de mão feito de madeira, bem mal pregado por tarugos, também de madeira, ele se aproximou da entrada de nossa fortaleza, chamando a atenção da sentinela, que desperta a guarda sonolenta, ao estado de alerta...Da guarda um soldado vai até a estranha figura que agora era obscurecida pelo estranho nevoeiro, que parecia acompanhar por onde ele seguia.
Com certo cuidado perguntou qual o interesse no quartel, e com uma voz chiada de alguém muito velho, agora comum tom inumano, a entidade responde:
      - Chamem o homem que comandou o grupo que a pouco tempo entrou nessa fortaleza, ele estará interessado em negociar comigo, e se ele não vier falar comigo, e enquanto ele não vier falar comigo e até ele vier falar comigo, ninguém sairá e se teimar em sair, se perderá, e se tentar retornar não voltará...Assim será, até aquele homem vir falar comigo, só, e só comigo!
      A sentinela empalideceu,pois a voz daquele homem não parecia de um demente ou louco tão pouco..Era de alguma coisa muito antiga que perambulava por esse mundaréu a muito tempo e isso dava pra sentir na pele, até nos ossos.
Bom o pobre guarda desnorteado simplesmente passou a mensagem ao comandante em chefe da fortaleza. estávamos dormindo a mais de dez horas pela canseira e exaustão de toda aquela operação inquietante...Meus sonhos eram na realidade, pesadelos ainda não resolvidos do que passamos naquela localidade...Quando foi acordado pessoalmente pelo líder da fortaleza, que me dizia:
      - Alguém te chama lá fora e diz que te conhece, que você o esperava...Que deve ir só ou todos nos se perderemos e jamais iremos retornar, se assim não o fizer...!
Meu líder sabia da história da patrulha perdida,de outro forte e era responsável pelas vidas naquela fortaleza, por todas as almas que ali residiam...Claro que ele não iria colocar uma fortaleza inteira em perigo, por causa de uma única alma,mesmo que fosse a sua própria. Era assim que teria eu mesmo feito se fosse no seu caso.
      Compreendendo o fato e da situação, não mais explicações pois quando se trata com coisas de outro mundo ou de entendimento  complicado devemos lidar com isso com certa discrição.
De meu alojamento sem paradas me desloquei pela frente do quartel, passei o refeitório e a enfermaria, desviei pela área de comando, para não perturbar a paz do cemitério dos heróis, pois dessa vez eles não teriam muito pelo que olhar, uma vez que o assunto não era mais com eles, mas no fundo comigo mesmo, e ninguém mais. Logo me encontrava entre as duas torres da entrada, logo eu também as ultrapasso e com elas a minha sensação de segurança também se vai, a minha frente somente aquela estranha neblina, e mais afrente apenas um breu e o insondável.
     Começo a caminhar em meio a névoa espessa e sem forma.Minhas mãos pedem para que erga meu escudo e saque de minha espada, mas sei que no fundo minha batalha não está mais no plano térreo mas além...
Meu combate agora é com meus temores, receios e duvidas. A cada passo penso do caminho percorrido, de todo o sangue derramado, de toda a causa combatida, de todo o inimigo vencido, das batalhas perdidas, das traições, de meu desespero, de minha dor insana e somente amenizada pela dor de outros, quando pude infligir...Penso na justiça poética e utópica  que me fizeram acreditar de toda a babozeira de certo e errado. Sim agora estou a poucos passos de entender mediante essa presença fantasmagórica que carregava trapos e restos de alguma coisa em cima daquele carrinho de madeira mal reparado ainda com tarugo de madeira, que um dia a muito tempo escutei o seu rangido, que mais parecia um chamado de algo escondido e perturbador, uma melodia da morte pós vida e nunca ao inverso...Estaria a um passo de entender, o "Q" de tudo.
     De frente com meu demônio interior, olhando nos olhos vazios e sem alma do que um dia eu fui, enxergando lá bem dentro de suas entranhas apodrecidas pelos pecadas que cometi dentro dessa guerra sacro santa, dentro de tudo que escondi, tão somente para poder viver entre os normais, os humanos, os campesinos, compreendi: eu era o lobo e não cão! Agora, de que lado mordia, ai era outra história...!




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