Mooshradoom havia escapado com certa astúcia do monstro de olhos esfomeados e não quis ficar mais naquele local estranho e possivelmente amaldiçoado, então não se importando coma chuva fria e pesada que começou a cair se mandou rapidamente daquele local e por horas a fio já cansado encontrou uma estrada antiga que dava a um velho casebre abandonado. Lá ele se acantonou acendeu um fogo e esquentou-se um pouco, seu copro gélido pela chuva fria, e logo adormeceu.
Era noite quando acorda novamente , contudo suado e com náuseas. Percebeu que estava febril e devia ter sido por causa daquela bendita chuva fria...Então recorreu á sua bolsa de remédios e preparou um chá, como seus mestres o ensinaram, com ervas do campo, que trazia consigo.Contudo ele também sabia o que viria depois...Eram ervas fortes que abriam mundos internos e esternos durante a cura de sua doença.Assim logo o passado bateria a sua porta como visão realística de hoje.
Não demorou muito para os efeitos tomarem seu corpo, deixado sua visão turva e sua garganta sequiosa. Logo se apresenta á sua frente um homem ríspido , marcado pelos trabalhos forçados,que a muito não o via:
-Meu pai!- exclamou um tanto engasgado o velho monge.
-Sim sou seu pai e tenho nojo do que virou, um pacifista! Esperava mais de ti, mesmo quando te vendi ainda pequeno para a rede de assassinos...Eu esperava que seguisse meus passos e usasse sua adaga, para remontar o nome da família, que a tanto foi esquecida...
- Sim, eu no início o fiz, meu pai. Quando me vendeste aquele clã e me deram a adaga de um assassino para aprender, quando a toquei, parecia já parte de meu corpo, e tudo o que me ensinavam parecia já estar inscrito em minhas veias, pois nelas repousavam o seu sangue!
De início fui o melhor e mais bem pago matador, nenhuma vitima, estava a salva quando me davam seu nome, seu destino já estava selado.
Trabalhei para ricos e nobres, inclusive um rei.Parei de contar meus alvos quando chegaram nas milhares de almas, que do mais negro umbral clamavam vingança e me esperavam ás portas do inferno, impacientemente...Eu pouco me importava pois fazia o que melhor sabia, matar ardil e impecavelmente.Meu caminho foi de trevas e morte, disso eu sei que você se orgulharia, mesmo daí do inferno onde também se encontra...
-Sim, homem de minha carne; sangue de meu sangue...O que não entendo é por que paraste? Eras perfeito com eu sempre sonhei ser mais não o consegui, pois comecei tarde e o tempo não foi justo comigo.Em ti depositei meus sonhos, mesmo sendo os mais escuros, assim como qualquer pai o faz quando tem seu filho, mais querido. Então por que? Me diz, por que paraste afinal?!!! - o som da voz daquele espectro soou com trovão ou fora mesmo o trovão, que caía lá fora? Pouco importava afinal ele Mooshradoom estava febril...
- Meu pai! Todos os que matei mesmo os infantes tinham um motivo, uma maldade, dentro de seus corações. Eram políticos, corruptos, inimigos do Estado..Até aí nada me abalou e seguia a minha sina de assassino impecável. Contudo um dia recebi uma ordem de um rei para matar um desordeiro, que semeava a revolta dos camponeses, daquele reino. Como sempre a riqueza do trabalho me sorria e eu não recusei.
Quando lá cheguei, naquele pobre vilarejo, onde nem comida havia, encontrei crianças comendo terra para aplacar a fome e as mães esquentando a água, para darem aos filhos para dormirem com algo no seu estômago...Quando as crianção deitavam sob o solo batido enroladas em trapos ao lado do fogo, poderia se ver seus ossos salientes por sob uma pele fina, que prenunciava a morte que não tardava a comparecer frente a elas dia menos dia.
Foi então que vi esse homem, velho e cansado vindo com um pequeno saco de doações e esmolas de comida que se fez pedir pelo longo da estrada, e chegando ao povoado dividiu o pouco que havia consigo para cada casa e sem nada para ele mesmo comer, se retira em silencio a uma palafita próxima a entrada de um velho pântano fedorento...Eu o segui e entrei em sua barroca mal construída e encarou-o preparando um golpe derradeiro, mas com um único olhar ele me faz sentar!
Estava paralisado, nunca senti tamanha força e só naquele olhar.
- Sei quem es...O grande assassino dos reis, e me espanta a tu me dar a honra de tua visita, afinal não sou de tanta importância assim...Mas também sei que um grande assassino como você não pode nunca dizer que não terminou um serviço tão fácil como esse. Agora de-me o tempo de contar o porque foi chamado a minha morte, para que tudo se siga em seu fluxo, como o deve ser.
Esse rei que me encomendou, usou todos os homens e os jovens mais fortes desse vilarejo em suas minas e guerras, com um único propósito de exterminar o povoado a fim de usar essas terras para um palácio de verão, pois seria muito incômodo para um rei deportar pessoas para o bel prazer.Foi dado ordem aos outros vilarejos para que ninguém os ajudassem e suas mortes não demoraria menos que um inverno...A mim foi dado a ordem de início de garantir que isso viesse a ocorrer, e não desobedeci meu rei, o mesmo que lhe contratou.
Mas como um homem poe ver um povo morrer lentamente de fome doença, fraqueza, e não fazer nada, afinal somos homens não?
Por meses saí a pedir comida e o pouco que consigo eu ainda partilho, pois estou de consciência limpa tentado, mas estou fazendo algo.
Meses se passaram e o povoado não pereceu, pois ninguém se entrega facilmente a morte por mais benevolente que ela possa, em um momento desse, pois esta em nossa natureza de seres humanos...Então o rei percebeu que seu único obstáculo é meu desejo de ajudar...Por isso você está aqui assassino. Assim deve cumprir o meu destino e com ele o povoado. Deixemos que o fluxo corra e as leis da Serra sejam seguidas. Mas o que realmente quero é que repense o que realmente está fazendo e o que realmente importa dessa atitudes que assumir tomar, das suas responsabilidades a sua consciência, a sua própria alma.
Bem naquele momento, eu como assassino fiz o que bem sabia fazer e esperei após sua morte todo aquele povoado perecer...As mulheres, os idosos, as crianças...Cumpri com meu dever.
Então após queimar todas as casas e enterrar todos dentro do pântano, vesti as roupas maltrapilhas daquele santo guerreiro e me pus em peregrinação onde encontrei um mosteiro e lá encontrei minha iluminação: deveria encontrar alguém que me mostrasse meu destino final e ir nesse local procurar a redenção de meus atos.Enquanto isso teria que seguir o caminho dos viajantes, seguindo as leis da Serra, e os caminhos da velha tradição.
Afinal o que me motivou a tudo isso foi repensar não de fazer meu trabalho, mas de repensar do porque faze-lo...Fazemos algo sempre mecanicamente e não nos perguntamos se devemos realmente fazer isso, e se o fizermos temos de assumir a responsabilidade de tal ato, pois iremos com certeza ser cobrados de cada ação desmedida que fizemos. Então em troca de vaidade , fama, conforto e excessos qual é o preço que realmente pagamos, e se pagamos valeria mesmo o preço?
Se fossemos para nascer assassinos, não nasceríamos com presa e dentes? Não urraríamos antes de chorarmos? Não atacaríamos com tremendo ódio,quando na verdade é o medo que nos move?
Não meu pai, no fundo nossa família nunca foi de assassinos, mas de covardes, com medo da vida, em todo o seu aspecto. E o que eu fiz agora foi encarar e viver a vida, assumindo a responsabilidade de meus erros, e reparar o máximo que puder antes que minha hora chegue, pois nada e tão tardia que não possa ser iniciado ou recomeçado. Assim, sua antipatia não me interessa, seu nojo eu não reconheço, mas te ofereço o meu abraço e digo-lhe sei como se sente, pois um dia também já tive medo...Agora não mais!
Novamente amanheceu e curado, Mooshradoom parte e segue o caminho da velha tradição, agora mais feliz pois pode fazer as pazes com parte de seu passado e era menos peso para carregar, ainda mais quando o sol se levantava deliciosamente quente para aquela manha um tanto fria...
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