Ha tempos em que nada parece ajudar nem mesmo a própria sorte, chamo esses tempos de chuvosos, pois eu me lembro de uma trilha que ha muito percorri em meio ao terror de uma chuva forte, ao trovejar e clarões dos relâmpagos, onde tudo era cinza e negro, dentro da mata uma única passagem que era domínio do inimigo...Clima hostil terreno hostil, tudo contra. Então, como sair dessa senão pela sorte e oportunidade?
Caminhávamos em fila com o pântano traiçoeiro sob nossos joelhos, o deslocamento era difícil e também reduzia drasticamente qualquer tipo de reação...A chuva começou forte e depois de um tempo piorou, por horas. Foram as horas das mais mortais que passamos, por aquele pântano. Andávamos como se fosse em terreno escuro, tateando o fundo do lodo com os pés, deslizando para não cairmos em algum canto fundo daquele fim de mundo, nossas roupas pesadas pela chuva, além do equipamento, apesar da chuva nos fazia suar muito...Em pouco tempo o choque térmico poderia nos trazer fraqueza, doença exaustão...Mas tínhamos de prosseguir, estávamos muito além da metade do caminho, portanto não haveria forças para voltar.
Logo escureceu e a bendita chuva ainda abatia-se sobre nós, ainda forte e já sentíamos seu açoite nas costas no roste e pernas.Paramos sem abrigo e a noite caiu fria, gélida e vinha tentar encarangar os ossos e músculos dos homens já fatigados no caminho que não parecia ter mais um fim.Sem condições de uma fogueira nos recostamos em um amontoado de carne e trapos, a fim de preservar o pouco calor que restava de nossos corpos.Durante a noite os tremores eram com que uma corrente elétrica que, quando percorria em um homem ressoava, em outros como calafrios...Todos mesmo assim conscientes de suas tarefas e obrigações, sempre armados, esperando o inimigo que teimava em continuar escondido, sem jamais dar fim a nossa missão. Nesse jogo de sombras vence quem tiver maior determinação, medo e disciplina.
Mesmo que tenhamos treinado e nos preparado para situações como essa é somente passando-a que realmente veremos se nossas expectativas atendem á situação ocorrida. Mesmo os homens que se destacaram dentro dos treinamentos em áreas controladas, fazem surpresa diante do inesperado e nem sempre respondem como se espera, enquanto que aqueles mais tímidos dentro das operações ensaiadas quando fazem da ação real sua situação de risco mortal, saem-se muito melhor que muitos poderiam também esperar...Portanto cada caso sera um caso à parte, e por ser único em seu momento deve ser analisado com os meios de fortuna do momento por um bom líder compensando ou descompensando, pelo valor imediato de seus homens dentro do campo de batalha...Mas me desculpo por ser tão tedioso nesse momento pois em ação me apego aos detalhes e no final a vitória está neles e em nada mais...!
Pois seguimos em mesma velocidade de marcha, intercalando nossos homens de frente aos que chamamos pontas de lança, a eles o serviço mais arriscado de incursão e reconhecimento. A maioria que deve ir á frente são os homens solteiros e sem famílias a fim de preservar os outros para que possam criar seus filhos se possível, para que um dia também a mãe pátria se usufrua de suas mentes corpos e almas, gerando um novo ciclo de ordem e controle, como o deve ser, pelo menos ,penso que seja assim, pois somos tolos em achar que existe uma total liberdade, pois não há...Ninguém está totalmente liberto ou totalmente escravizado, estamos sim todos completamente comprometidos, com algo, alguma coisa.
Assim o que poderia uma bendita patrulha toda encharcada, dentro do pântano até aos joelhos, surrada pela chuva, cansaço, fazer para beneficiar a continuidade dessa ordem, desse ciclo contínuo que mantém sua casa, seu lar e suas famílias, as mulheres, as crianças, os pais , as mães, todos, seguros e salvos? Disso de nada sei mas temos de acreditar que o que fazemos em tempos chuvosos sem visão de começo ou fim desse tormento tem uma razão própria, e muitas vezes sem o haver mesmo assim temos de acreditar.
Perseguindo inimigos fantasmas, ou fantasmas dos remorsos e maldades de nossos comandantes, perseguimos-los pois essas eram nossas ordens em benefício dessa ordem, desse ciclo...Então quando as forças nos faltam, são as ações de grupo único que nos fazem prosseguir, portanto nessa verdadeira razão de ser o primeiro, que deveria ser vencedor, está fadado ao morticínio pois estará sempre só, assim juntos e somente juntos podermos passar por tempos chuvosos somente assim sobreviveremos.
Portanto, quando os tempos chuvosos chegarem ao lado de vocês, acolham-se aos seus, as pessoas que conquistaram, com carinho e amizade ao longo de sua existência e quem sabem juntos também poderão transpor o tempo chuvoso e seus trovões, com seus raios e clarões, pois mesmo a chuva mais forte, um dia ela tem de parar.
terça-feira, 28 de abril de 2015
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