Dentre as caminhadas de idas e vindas, sempre fazemos amizades que se desenrolam, para anos e talvez uma vida inteira, podendo ser encontros casuais ou que meios premeditados por forças alheias as nossas vontades. Quando encontramos pessoas que chegam a ponto de abrir as portas de suas casas para nos hospedarem, pelo simples e divino fato da amizade, é ali que encontramos verdadeiros santuários em cima da terra de nossos pais, que devem ser honrados como tal...Um amigo íntimo pode ser considerado como um irmão de alma, gerados da mesma centelha divina...
Foi numa dessas minhas rondas e trilhas, que encontrei no caminho um mouro, muito peculiar de nome Babá, considerado por muitos um louco, por outros um profeta , Babá vivia um mundo de paradigmas e contrapostos, que se não fossem engraçados em sua maioria das vezes seria um tanto curioso...Bem o dia que eu o encontrei estava discutindo com um de nossos líderes de tropa, quanto ao que deveria ser passado pela fronteira ou não ( ah! Esqueci de lhes dizer que Babá se diz comerciante, mas ta mais pra trambiqueiro de contas e "missangas").
Pois bem haviam tantas mercadorias para serem averiguadas, que tomaria tempo demais do líder encarregado da entrada do portal da cidade de Tierra Madre, que num ato de prepotência ele resolveu deixar passar apenas metade dos pertences de Babá, o que lhe trairia um enorme prejuízo pois sua viagem foi longa e demorada...Muitas vezes temos um impasse entre os interesses e o comodismo e temos de gerenciar essas situações da melhor maneira possível. Contudo ambas as partes não quiseram ceder e estavam indo ao conflito aberto que em tal ponto da conversa o meu líder disse: Você sabe quem eu sou? Do que sou capaz? Pois lhe direi mouro, sou um homem capaz de enfiar nessa sua barriga minha espada sem dó nem piedade, e olhar você morrer, sem um pingo de remorso ou pestanejar meus olhos!!!- Gritava em berros o meu líder aos ouvidos do mouro...Babá para não ficar pra trás também ergueu sua voz e lhe disse:
E você devoto cavaleiro, sabe quem eu sou ou do que sou capaz? Eu sou aquele maldito mouro que você vai enfiar a espada na barriga e não vai ter um remorso de morrer, mas eu sim vou lhe encarar de olho no olho e não piscarei um segundo!
Houve então um mortal silêncio entre os dois homens e com dois copos na mão me interponho entre os dois lhes dizendo:
- Os cavalheiros distintos ainda aceitam uma bebida? - Quebramos o gelo, com uma imensa gargalhado dos três, e nos abraçamos rindo da infantilidade que causamos a nós mesmos quando deixamos nossos interesses falarem mais alto que nossa razão e consciência...Dali para a frente nossa amizade foi cada vez mais interligada a ponto de Babá muitas vezes me ceder santuário em sua casa.
Babá tem uma vida particularmente fascinante por que ele vive o que diz, sus palavras são suas ações e enfrenta situações familiares tão bema quanto as públicas de seu serviço do dia a dia...
Certa vez quando me encontrava na casa para um almoço enquanto esperamos a refeição Babá pede a sua mulher, que nos preparasse um bom chá mas quente o suficiente, como sua mãe sabia lhe fazer ( a mãe de Babá não mais morava com eles por discussão com a nora e cada vez que tocavam na lembrança da pessoa dela a mulher de Babá aprontava uma maldade com o homem discretamente, era hilário pois Babá sabia e a provocava para que assim fizesse, "temperando " melhor seu casamento). Assim que terminou de fazer o chá a mulher nos trouxe em dois copos sendo que o copo de Babá era mais grosso, a ponto de esconder a água em fervura que ainda borbulhava no recipiente e numa piscadela da malandragem disse a Babá: Eis meu querido esposo, espero que a temperatura da água lembre muito a minha "sogra querida".
Babá tomou um gole forte e viu que era tarde somente quando já passava da metade da garganta abaixo...Aquele chá lhe desceu tão quente que ele se segurou forte na almofada, fechou os olhos se avermelhando, a ponto de escorrer uma única lagrima de dor pelo ato impensado, mas não deu um único grito ou maldisse a mulher...E ela retorna olhando a lágrima escorrida e diz com voz de gata mansa:
- Espero que não tenha se queimado, pois vejo uma lágrima entre seu olho?
Babá sorri maliciosamente para mim e respirando fundo responde:
- Que nada amada esposa, a lágrima é de emoção! Tu fizeste tão bem ao gosto de que mamãe sabia fazer o chá, que me correu foi uma lágrima de "saudades", de quando morávamos todos sob o mesmo teto...Mas que não fique só na minha palavra, eis toma um bom gole de teu chá e mediz se não tenho razão...
A mulher sem opção e para não admitir a sabotagem premeditada no chá de Babá também toma do gole pelante que desce queimando a sua sensível garganta, e no mesmo gesto que Babá, se encolhe toda fecha os olhos toda avermelhada e escorre também uma lágrima de dor. Babá retruca:
- E então queria esposinha, por acaso a água esta muito quente para você?
A mulher toma fôlego e num suspiro responde:
- Não meu querido marido, você tem razão mesmo! Olha o chá tá tão bem feito que me lembra totalmente de sua querida mãe e essa lágrima é de saudades que comecei a ter sobre ela...Foi isso!
A esposa se retira e após um tempo Babá me dizia que era dentre tantas coisas pela qual ele se casara com a sua esposa, pelo ímpeto...As pessoas de ímpeto mostram suas intenções reais e não as escondem, pelo tanto são bem sinceras...Então quando enfrentamos as adversidades com humor, disparos trocados não doem tanto e mais unem do que separam, é assim que opostos geralmente se atraem, sem motivo aparente inicial e peculiarmente, os mantém indefinitivamente unidos.
Assim, pela primeira vez comi, com um largo sorriso, juntamente com os dois melhores amigos uma refeição fria, a fim de acalmar as brincadeira quentes desse lindo casal...Sim ali era um verdadeiro santuário do divino e eu pude compartilhar de sua felicidade por longo tempo.
terça-feira, 14 de abril de 2015
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