Estava eu a cuidar de minha vida na estrada, quando em uma bifurcação, dentre o agora e o antes, encontro um velho homem, com vestes negras,um tanto maltrapilho, parado ás margens da estrada, com sua carroça quebrada...Havia saído uma roda fora, e como bom caminhante sabia que na Serra a regra era ajudar os que se encontravam á margens das estradas, quando esses ainda quisessem seguir seu caminho.
Notei de que o homem já apresentava uma certa idade avançada e dentro daquela carroça havia um pesado caixão funerário. Quando desci da montaria para ajuda-lo, uma voz cansada, quase espectral ressoa dentro daqueles velhos pulmões/;
- Ah, meu jovem, já não são tantos que param na estrada para ajudar os necessitados, muito menos aqueles que carregam carga tão macabra quanto a minha...Vejo que pelo menos você segue o velho código da tradição. Então ainda haverá esperança para esse mundo e também o vindouro.
-Diz-me velho homem, o que fazes dentro dessa rota um tanto esquecida e com um corpo a transportar, pelo jeito de tão longe.
O homem tenta se erguer, alavancado por uma velha bengala, pois se encontrava sentado sobre uma pedra creio que tão velha quanto ele,pois pareciam completar-se, naquela paisagem poeirenta de beira de estrada. Então caminhou lentamente a borda da carroça, subiu em sua caçamba e tocou o caixão com um gentil afago, como quem acaricia a o rosto de uma criança, e me responde:
- Sou o que chamam de inquisidor...Eu tento no fundo devolver a dignidade de um enterro humano aos corpos dessas pessoas que foram encontrados mortos, nas vielas , dentro e fora de suas solitárias casas, da cidade de Tierra Madre.Esse rapaz que levo deve ser meu último trabalho, pois estou velho e cansado. Foram tantos, perdidos que eu os reencontrei, meu jovem, que já perdi minha conta, e sinto não poder mais fazer isso, o de faze-los se reencontrarem com alguém que um dia os amaram ou simplesmente conviveram,. pela última vez.!
Nossa, pensei comigo, estou diante do inquisidor de Tierra Madre. Sempre ouvi as histórias mais sinistras desses inquisidores, quando era criança. Diziam que eram parentes de ogros e que comiam a carne dos cadáveres, que encontravam sem lar ou família.Eram homens solitários e geralmente tinham o mesmo fim, dos que tanto carregavam pelas vias da cidade: uma cova solitária, sem nome ou inscrição.
- Pode me contar um pouco da história de quem carrega? Assim enquanto conserto a roda de sua velha carroça poderia me fazer o tempo passar mais depressa, não?
_ Ahh! Essa mocidade! Tudo o que querem é que o tempo passe, mas, quando chegam na minha idade já sentem a falta daquele tempo perdido e se fazem a pensar a Deus, que se tivesse mais um pouco de tempo poderia se declarar a um antigo amor, e talvez até pedir perdão aqueles que um dia em sua insensatez jovial, vieram a ofender...Bem, por que não? Aliás isso é o mínimo que poderia fazer tanto por seus trabalhos, quanto por quem, eu carrego...Ele era um jovem aventureiro cheio de vigor que se lançou no mundo, ainda cedo, em busca de fama e fortuna. Durante os anos que se seguiram, cruzou grandes fronteiras e conheceu lugares novos e exóticos, mas nunca conseguiu nenhuma das coisas que buscava, pois para alguns a estrada e os caminhos não são favoráveis a viajarem em busca de seus sonhos.
Não, certas pessoas temem o destino maior sem o saber, e não aceitam por não compreende-lo, ou não querê-lo saber. Há pessoas que devem seguir longe das estradas, dos caminhos, devem apenas seguir seus caminhos cotidianos, do dia a dia, em uma monótona e pacífica rotina.
Mas meu jovem não os desvalorizem, pois essa é a a mais sagrada das missões, pois Deus não destrói os homens por causa de seu compadecimento dos pequenos, aos mais fracos, então o grande milagre esta nas pequenas coisas, nas tarefas do dia a dia, nos pequenos afazeres...Se essas pessoas soubessem desde cedo, quão importantes são para essa vida e a vindoura, seriam os melhores profetas que poderíamos ter, caminhando sobre essa terra!
Esse homem, rodou meio mundo para retornar sem nada e ninguém, para comer e dormir embaixo de uma ponte, que dá entrada a nossa cidade. Durante anos ali, passava um homem bom e de cima da carroça todo o dia lhe dava o que comer e muitos outros contestavam incentivando um estranho a mendigar na entrada da cidade.Os noas passaram o bom homem casou-se e continuava a jogar-lhe sempre que possível um saco de viveres, para o agora velho aventureiro.
Um dia, quando a carroça do bom homem fazia o mesmo trajeto chovia muito e o rio se tornou forrte e perigoso abaixo da ponte. Então, ou preconceito ou simples ódio alguns dos reclamadores do ato daquele bom homem propositalmente espantaram o cavalo que empinou a carroça fazendo-a cair no rio. Ora pois que o bom homem estava levando sua esposa grávida para dar a luz na cidade porque ela passou mal e estava atrás da carroça que caiu no rio...
O velho aventureiro sabia que aquilo era o mais cero a fazer, e talvez o próprio Deus o colocou ali para isso nesses anos todos. Sem hesitar, saltou no rio violento e lutou com todas as forças, contra toda a correnteza, contra todos osa pedaços de madeira, galhos e detritos, para resgatar aquela mulher grávida, pois acima de tudo ele também seguia a velha tradição da Serra, pois nem mesmo os causadores quiseram ficar pra ajudar.
Foi assim que ele selou seu destino.Com suas últimas forças ele resgatou a mulher e só pediu a ela que encomendassem seu enterro junto da mão que tanto sentia falta dentro de seu coração partido pelos arrependimentos de nunca ter conseguido cumprir seus sonhos e se assim o fosse voltaria a seus braços para lhe dar maior conforto, e naquele momento jovial nem imaginou que o maior conforto de uma mãe sempre será a presença de seu filho, o quanto puder pois quem pode ditar o futuro, não é mesmo?
E por fim aqui estou eu, levando esse menino de volta a seu vilarejo, e a sua mãezinha, para ficarem juntos pelo menos na vida vindoura...E por conseguinte a roda dessa velha carroça caiu e você apareceu, cavaleiro, para me ajudar e também quem sabe ser minha testemunha também no céu!
- Como assim?- perguntei curioso quando colocava o último pino quebrado na roda agora consertada.
_ Nós inquisidores acreditamos trabalhar em prol da benevolência, apesar dos falatórios, acreditamos que muitas vezes não podemos fazer muita coisa em vida por pessoas, que nunca cruzamos...Contudo mesmo na morte tem benevolência. Assim se vive como vive, mas se morre com dignidade ao menos.
Então meu jovem, testemunhe isso a quem encontrar, para que não nos entendam errado.
A MORTE SERA SEMPRE BENEVOLENTE QUANDO ENCONTRAR UM ÚNICO ATO DE BONDADE GUARDADO DENTRO DE SEU CORAÇÃO, APÓS SUA ULTIMA BATIDA.!
Agora que você consertou minha carroça eu devo ir, adeus jovem, que um nossos caminhos se cruzem...Mas não agora!
Escutei algo que não havia ouvido a muito tempo, era o velho cumprimento da tradição...E no noitecer esse homem segue em direção ao por do sol, com suia carroça levantando poeira e se dissipando com ele junto...Esse por do sol é o mesmo para onde vão toas as lendas, e eu conheci uma!
-Sim velho homem, adeus, que nossos caminhos um dia se cruzem,
mas não agora...!
sexta-feira, 3 de abril de 2015
Assinar:
Postar comentários (Atom)
SEXTA 13!
Chegou a sexta-feira 13! Muitos levam como crendiuces as sextas 13... Uns fazem até simpatias para sorte ou amor. Mas aqui na Serra as ...
-
Muito tempo se decorreu desde a grande catástrofe, quando os mortos se elevaram da terra fria e seca das estepes da Serra, então todos os...
-
O inverno esta chegando...As viagens de rotina estão cada vez mais difíceis devido ao clima frio...Por muito tempo passamos parados ent...
Nenhum comentário:
Postar um comentário