Eram longos os dias passados, em que em uma das tantas viagens que fiz, por esses vastos interiores, de tantos modos, com e sem almas, que apeei de meu baio e parei em uma pousada.
Era um local como outro qualquer e ao esmo tempo também,não...
Via uma senhora sentada na porta de entrada, em meio recostada de soleira, seu olhar parava o tempo,pois quem sabe ali não havia nem o próprio tempo para se medir..? De tanto tão vago e no silencio de quem me acompanhava só pela parada,já não suportando o encarar frio e sem vida daquela mulher pedi um rango reforçado,pois havia me desdobrado muito nos entremeios dessas trilhas, que muitas vezes nos enganam de tão parecidas que são...
Sentei próximo a porta em uma mesa de canto, arejada por uma velha janela daquela pousada, que cheirava a séculos de imobilidade, tipicas do sitio e interior dessas paragens.Bem,não demora muito para aparecer um prato fumegante de cheiro gostoso,e de junto, uma bebida refrescante a fim de molhar a garganta seca de tanto andar.
Curiosamente a mulher, entrega a comida e não se vai,continua me encarando,com aqueles grandes olhos de morto, agora por estarem bem bem próximos vi que eram escuros e sem brilho, como as noites nubladas sem lua ou estrelas de aqui da serra...Com uma voz fraca,aparentando muito mais tempo do que o próprio rosto daquela mulher, ela puxou conversa dizendo que era muito parecido com o tal Zeca Rafael...Mas afinal quem era o tal?
Sem muito por que não? Uma conversa puxa a outra, o tempo segue e logo sera amanha.No amanha tudo pode ser refeito acertado e assim continuar viagem, o que mais me importava...Interessado na prosa, que mais parecia um causo pois era só um que falava, e contava,sem querer nem interromper para entender melhor do fato, aquela mulher me conta, Zeca sempre foi um homem de sorte que morava noutra paragem e como tantos veio a parar naquela pousada...Se achando mais esperto que muitos dali, achou que aqui seria um bom local pra começar um trabalho de compra e venda, de acertos e trocas....Zeca havia trazido uns cobres na botija e se assentou por perto começando com uma vaquinha e um galpão, com um amontoado de terra barata mas boa de roça...O homem plantou, colheu,vendeu comprou mais terra e manteve esse ritmo anos a fio, morando sempre mais na pousada
até conhecer um bom cambicho e unir seus trens com ela,que se deram bem e logo tinham uma boa fazenda. Claro que não demorou para aparecera criançada e aquele canto que ficou, foi o melhor canto que ele poderia querer: trabalho,mulher,filhos e casa...Bom demais!
Mas o tempo nosso caminhante impaciente não espera por ninguém e se mandou também, deixando o Zeca Rafael pra trás, velho, quase despachado, de vida cheia...Cheia demais!
Zeca não esqueceu das viagens do passado e das outras paragens que um dia menos dia bateu na saudosa vida simples daquele homem...Desconsolado de ter perdido as estradas da vida,voltava de vez em tanto novamente na pousada para beber quem sabe lembrar de algo esquecido nesses tantos anos de paração num canto tão bom quanto foi o seu...Na duvida do deixado e do perdido,em meio as visitas aquela pousada Zeca encontrou uma moça nova de volteio,que também começou a parar na pousada, de vez enquanto,quando vinha para a colheita de safras das fazendas locais.Muito mais bonita e cheirosa,com sede grande de romance e aventura, ela acendeu um braseiro a muito acizentado no peito de Zeca.
Do ocasional,passou a habitual...E os laços daquelas fagulhas amarraram de jeito o Zeca Rafael
Aquilo enlouqueceu Zeca de tal maneira que deixou mulher filho e até netos...Ele dividiu o se cantinho em pedaços,pegou sua parte e por um tempo viveu como fogo na palha a intensidade
do amor algo novo....Agora deslocado,o tempo,malandro arteiro prega uma peça em Zeca e o faz definhar enquanto sua aspirante companheira apenas desabrochava para a vida, e a correria da idade foi tão rápida que logo Zeca ficou pra trás, enquanto olhava sozinho em um canto lá no fim do mundo sua amante junto a outro também mais jovem a procura de um novo amanhecer, um romance,e quem sabe uma aventura...
Bem o resto da história do Zeca Rafael se perdeu com o tempo, esquecido nas brumas dos descaminhos dessa nossa vida...Então pra mim também amanheceu, e o ontem também se foi e me mandei dali o mais rápido que pude...! Daquele local não pus mais meus pés, nem paro mais, passei!
Talvez tenha ainda medo do assombro do Zeca Rafael me encontrar quando eu realmente quiser parar de caminhar, mas acho que o que mais me assustou ainda é o fato de haver aprendido algo dentro daquele lugar morto e esquecido de si mesmo:
QUE A MAIOR DESGRAÇA QUE PODE ACONTECER PARA UM HOMEM VELHO E UMA MULHER NOVA!!!
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