quinta-feira, 5 de março de 2015

UMAS HISTÓRIAS DE VALDOMIRO RODRIGUES: CORAL

      Estava sentado a beira de um acalentoso fogo de chão,eme servirão em meio aquela parada um boa xícara de cafe...Sempre nessas noites sem fim, nas horas mais demoradas,o café sempre será o nosso melhor companheiro...
Dentre um gole e outro, só para passar o tempo, se chega ao fogo um homem de pele cansada, com as mãos crispadas,pelo tempo de lida árdua e sofrida. O homem sorri e como pessoa de respeito se apresenta,mantendo distinção. Seu nome era Valdomiro Rodrigues e se dizia antigo tropeiro, que começou a caminhada desde os cinco anos e naquele momento que o destino o colocou junto a nós, nessa encruzilhada da vida já estava com noventa e cinco anos( contudo pela aparência não daria mais do que sessenta anos pelo porte do homem,que se mantinha forte, que nem cambará que de tão velho não se faz notar).
      Em meio a conversa jogada fora e sem muito tino, noto  que parte de seu casaco bota e cinto eram rodeados por umas peles coloridas e brilhantes e por curiosidade com o devido respeito perguntei como conseguiu aquilo tudo...As vezes perguntas simples como essa sempre tem um desfecho inesperado e foi o que ocorreu.
O homem de repente se fixou de olhar no fogo,como que procurando em meio ao fogo,fumaça e braseiro, imagens do passado,que o fizessem lembrar de algo para poder responder minha pergunta.
Com uma voz um tanto trancada mas de tom firme,ele começa a me narrar o que devo entender mais como um ato de fé,pois haverão momentos em que somente a fé dentro de nós ao que as pessoas falam testemunhar,a veracidade de suas palavras.
     A um tempo ainda que o sangue jovem lhe corria as veias e o impossível era nada mais do que um desafio do imaginário, quando vinha de retorno de sua comitiva,já com os lucros da ultima viagem, Valdomiro pediu pouso em um velho sitio,que encontrou no caminho, de uma estrada que nem mais pode lembrar. Quem atendeu era um velho homem, com cabelos e barbas brancas,seguido de uma jovem,que se dizia neta daquele homem velho.
De momento quem não fazia jeito para deixar Valdomiro dormir no galpão, era a mulher,que pelo jeito de falar parecia ser menos certa que o velho homem,que o recebeu de bom grado...
Da mulher ele ouvia que não seria o momento para dormir naquele fim de mundo,enquanto o velho só agradava dizendo ser bem vindo uma vez visitas eram raras por essas bandas, no fim Valdomiro se convenceu a ficar e  velho homem preparou  um ótimo brôdo de galinha,como a muito não havia comido.
     Curioso como ele só,Valdomiro nota que em um dos quartos havia uns soluços e choro infantil e ao se achegar a falar com o velho homem, o mesmo disse que era o seu bisneto...Dizia o homem que a um tempo bem anterior tiveram também uma visita, que não foi tão boa assim.
Quando partiu o visitante deixou sua neta grávida,e não mais voltou,tirando com isso um pouco do juízo dela...Historias tristes, geralmente são contadas em lugares tão longes.
O menino cresceu sozinho, com eles e aprendeu a caçar pegar o que precisasse da natureza para se manter naquele fim de mundo,dizia o velho com uma voz passiva e servil...De tanto mexer como mato o menino virava o mato, completou o idoso.Naquele momento Valdomiro não deu relevância pois descontava na idade e sanidade daquele pobre homem velho.
Contudo quando Valdomiro foi se alojar no galpão o velho lhe da uma advertência dese trancar no galpão e só sair pela manha, pra não ser confundido  com a caça durante a noite!Era para Valdomiro mais um desconto, pra dar,afinal a canseira era tanta e o galpão era melhor que a dormida em céu aberto.
Dado lá pela madrugada, ele ,Valdomiro se levanta,apressado por causa do brôdo e sem hesitar abre o galpão e da de cara com uma cobra imensa passando por entre a casa e o galpão. Sem pensar e de susto pegou sua garrucha e seu sabre do meio amontoado de suas roupas e disparou certeiro dois tiros, que atingiram o bicho em cheio.Então temendo de deixar o animal solto que pudesse vir a atacar aquela família de gente boa, desfechou vários golpes de sabre enquanto o bicho gemia de dor...
Foi aí que ele tirou um pedaço de pele grande de pele da cobra e o pior foi que ela se encolheu e começou a soluçar e chorar, um choro que eleja ouvira e muito bem, naquele quarto infantil!
     Aos gritos clamando por Deus pai ,filho e a Virgem Maria vinha o velho,também em prantos,afagando aquela coisa que não era nada menos que seu bisneto! Valdomiro compreendeu naquele momento da própria maldade que fizera ao julgar pelo seu tino, o que seria certo e errado...
Quando um monstro, deixa um monstro,que sai do sangue de sua neta, ele ainda é um monstro?
Bom, quando aquelas peles,foram dadas pelo velho que seguia a lei da Serra: VOCÊ É DONO DO QUE VOCÊ MATA!
     Valdomiro levou consigo pra lembrar do pecado que cometeu, que ele julgou e vai ser julgado um dia também, como o fez.
Quando o homem se calou de sua história, parando como se uma faca cortasse fundo sua língua,entendi que era hora de seguir...Joguei meu café no fogo e parti,no silencio pesado e asfixiante daquela noite.

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