Tem dias que você pensa nem em sair de casa...E tem certeza de quando sair de sua casa algo muito errado pode acontecer...Poucos escutam essa advertência de nosso intimo que não quer encrencas dentro de nosso caminho, muito menos em nossas vidas.Mas como sempre temos nossas desculpas e descrenças que no fundo são a a mesma lorota...E resumo nunca damos ouvidos de imediato a razão e sempre preferimos trilhar o caminho muito mais complexo, e traiçoeiro, porque sempre duvidamos, de tudo, sempre
Foi nesse ato nada pensado que em uma madrugada, úmida e fria resolvi sair em caminhada sozinho, pelas trilhas ainda não claras da manha, pensando que poderia aproveitar o frescor para marchar muito mais que num dia de sol forte...Contudo meus instintos diziam que esperasse pelo menos, a luz do dia brilhar para prosseguir em segurança.
Na Serra temos a crença viva do que chamamos de AS HORAS MORTAS, que é o período que corresponde da madrugada, a alvorada, onde acreditamos ser o limite da passagem do véu entre mundos físicos ou não. Portanto quem sabe da regra e a quebra saindo a vagar nas horas mortas, conforme por onde anda pode não mais voltar.
Então em meio a essas horas mortas, eu vagava pelas trilhas quando tudo fica mais escuro e muito mais frio, era sinal de pelo menos um chuva se aproximando, o que me forçava a procurar um abrigo e fazer uma fogueira para se aquecer. Bem aí vem o pensamento, de que poderia ter ficado dentro de casa pois estaria seco e abrigado quando a chuva viesse...Mas uma vez tomada a decisão não da pra voltar atrás, assumimos a responsabilidades de nossas ações e consequências e seguimos em frente, como tudo mais na vida.
Adentrei a mata fechada á procura de abrigo e curiosamente encontrei um fogo armado já dentro de um velho túnel de passagem a muito fechado, que nunca havia percebido antes por essas paragens...
Bom cavalo dado não se olha os dentes, e eu apenas sentei aproveitando o chamego gostoso daquela fogueira. Então retirei meu velho bule de viagem e fui preparar um bom amigo conhecido de todo o viajante serrano, o bom café tropeiro...Que em um tempo melhor contarei com se faz.
Quando termino de encher meu bule O tempo havia piorado lá fora e nem percebi, que agora tudo fora do túnel era uma negritude total, e depois de dois metros não se via mais nada e mesmo estando um tanto frio não havia mais vento, alias não havia pelo jeito mais nada, pois nem som de ave ou outro bicho se ouvia, tudo estava com os tons negros da morte.
Limpei bem meu copo e tomei o primeiro gole de café com calma, me recosto num das paredes do túnel próximo a fogueira, quando noto algo se movendo em meio as trevas do lado de fora...Era um homem alto, esguio, magro. Suas roupas maltrapilhas lembravam de longe uma roupa de monge, e consigo uma velha mochila de pano surrado, sendo seu cantil, ainda feito de um purungo muito velho e seu copo era uma cabaça...Tudo isso era sustentado por um grande cajado de madeira petrificada do cambuím, que se criava nos pântanos muito ao sul de onde estávamos naquele momento.
Mas não me cabia julgar, ambos eramos viajantes e deveríamos respeitar o espaço, crença e posição de cada um nesse mundo de Deus, pois nem o mundo nos pertencia até então.
- Posso me sentar,o fogo esta convidativo. Melhor que lá fora, com esse frio e escuridão toda, amigo!-Suas palavras eram fracas tal como sua aparência em saúde mas havia um tom de nada humano naquilo tudo, e meu sentido dizia bem alto: se levanta homem, sai dai, enfrenta o frio e a escuridão pois pelo nenos sabe com o que pode tá lutando! Contudo havia preparado uma boa quantidade de café e não ia desperdiçar, de repente uma boa conversa, e com mais desculpas para o meu corpo não padecer lá fora , e de preguiça resolvi ficar, apostando em minha destreza e inteligência para lidar com a situação quer que fosse apresentada naquela hora.
- Bom amigo viajante, de princípio esse acantonamento não é meu, mas tal qual vossa mercê, senti o calor do fogo e me aprochego...O que é meu e posso oferecer é uns bons goles de café, que tal?
- Perfeito amigo! Então vamos juntos, esperar o dono desse acantonamento e esperar que ele divida seu espaço amigável, e senão podemos desfrutar da companhia um do outro nessa estrada lúgubre e um tanto fria, a de hoje. Deixa então me apresentar, meu nome é MOOSHRADOOM, um humilde servo, agora em penitência, em busca de perdão nessa vinda e na vindoura...
-Pois bem Mooshradoom, sou um simples cavaleiro, tão humano quanto posso, mas ainda não me chegou o tempo de penar, pois ainda aprendo no meu dia a dia, aceitando os meus erros como aprendizado e não fardo...
-Ah! Que precioso, um filósofo por essas bandas tão distantes! Vejo que ainda não compreendeu, que não existem acertos e erros mas tão somente o infame destino, que nos ilude com o livre-árbitreo, para que achemos sermos nossos donos e quando saímos de uma linha esperada o chamemos de acas, coincidência...No fundo isso ainda é tão doce pois me lembra de meus primeiro passos, nessa jornada intrigante que nem pagamos passagem e nos meteram nela!!!
Aquilo me pegou de surpresa, pois o homem maltrapilho mostrava de repente uma faceta nada esperada, devido aquelas circunstâncias .
- Não me diga velho homem, que com sua idade ainda acredite nessas baboseiras de destino e sina? O uso de tuas palavras foram profundas, para um supersticioso...
- Quão amável e inocente...Agora de que lado da moeda estamos falando? Cara ou Coroa? Ambas ão faces da mesma moeda, não? Sem julgar, ambas representam o valor a que pertence aquela peça de ouro..Para o erudito são os número, e para o leigo, seus desenhos, mas o ouro é igual em valor, em qualquer, das linhas de cunhagem, não!
Mais um baque..Palavras curiosas demais para serem, acaso. A maneira como ele falava parecia teatral e redigida...Ele então se serve de uma boa cabaça de cafe e toma sofregadamente, como se houvesse muito tempo de que não desfrutava tal prazer. Dai se assenta ao lado oposto ao meu se recostando na parede do túnel, para aproveitar melhor o calor do fogo.
- Meu amigo! Se estás ainda incrédulo deixa e adiantar alguma coisa, pense comigo! Se o destino fosse escrito, seria como um livro. Um livro que contaria a história e estórias de cada um, a fim de confundir sua derradeira verdade, de que tudo o que pensamos, sonhamos, conquistamos e perdemos já estava escrito, com rumo traçado...Não posse ainda responder se assim o fosse, por quem, contudo, voltemos a premissa...Uma vez escrito, por que não podemos ler esse livro, e se pudermos lê-lo, por que não adiantarmos a leitura em alguns capítulos que seja?
Quem sabe como agora, em que ambos chegamos aqui nesse acantonamento, já pronto e ainda não chega seu dono? Ou quando você pensa que tudo o que se apresenta agora parece ser teatral, de uma forma quase redigida?
Aquelas palavras me confundiram, e me pareciam nada concebível. Então ele tira de sua mochila maltrapilha um livro negro, de desenhos e gravuras estranhas encravadas na capa, em vermelho sangue, com uma grande pedra vermelha centralizada na sua frente. Há um lacre na capa...
O homem curiosamente morde seu dedo indicador, fazendo-o sangrar e pinga na abertura da fechadura daquele lacre, uma nevoa cinza começa a sair da escuridão, e o vento frio começa a soprar novamente, um pouco fraco arras tando a nevoa para dentro daquele túnel de saída fechada pelo tempo. A névoa continuava indo para dentro do túnel como se tivesse uma aragem, como se não estivesse mais obstruído...Ele vira as páginas e lê em silencio, por um tempo e me diz:
- Que tal conhecermos nosso misterioso anfitrião, que se encontra no final desse túnel. Quando em vida toda a noite ele preparava a fogueira, se escondia nas sombras dentro desse túnel de passagem e quem por ventura sentasse, para descansar e adormecesse amanheceria, com seus pertences roubados e sua garganta cortada...Tanta foi sua maldade, que sem pagar o preço de igual vidas ceifadas, agora bem cuidada,nem a morte o queria...Viu meu amigo, penitencia!
Peguei uma tocha que montei naquele fogo e me mandei até o fim do túnel com a espada em minha mão, esperando algum ardil daquele monge louco...Já passara por combates antes e se assim o fosse não seria a primeira vez, e se o fosse teria a vantagem da experiência e qualidade de minhas armas, armadura e escudo, que reforçavam minhas costas caso um ataque traiçoeiro.
Contudo, quando chego no final do túnel encolhido, e joelho, um corpo seco, mal visto pela tênue claridade esperava paciente, o dia raiar para apagar a fogueira e limpar o acantonamento para o próximo viajante que chegasse..Sim era a pura lei da compensação: quem faz mal hoje fará penitência amanha, de uma maneira ou outra, pois essa era a lei da Serra.
- Viu amigo, penitência..Escrita sua penalidade nesse livro, cada segundo,cada minuto, dia,semana, mês,ano, geração e época. Foram os poucos os curiosos que encontrei , que ao menos não quiseram saber o dia de suas mortes. Mas vejo dentro de ti um sinal diferente e por isso escrevi esse encontro, pois mesmo sendo dono disso tudo, de todo o destino. O destino de todos, ainda assim não sou dono de meu próprio, pois não posso escrever nada relacionado a mim, nem ver escrito o dia de minha morte...E então eu pensei que você pudesse faze-lo por mim...
- Se o que me diz é a verdade monge estranho, por que não leu o desenrolar desse desfecho? Lerei ou não, seu mais ainda estranho livro? e Porque deveria faze-lo, se no fundo tudo aqui foi armado de uma forma teatral, será que foram essas suas palavras, de verdade sobre tal criatura angustiada lá dentro e no final desse túnel, ou mais um ardil para coisa pior, do que você realmente aparenta?
Em meio a a confusão trouxe mais confusão tentando encontrar a razão disso tudo.
-Sabes que tens razão amigo! Como podes confiar em mim se nem me conhece? Acho que temos de acertar mais encontros que com o tempo falarei de mim, do que vi e sei...Assim no final caberá teu juízo decidir minha solicitação. Portanto descansa e segue teu caminho.
Dito isso tudo se desfez, a escuridão a bruma, o corpo seco, ficando somente a fogueira. Haviam se passado as horas mortas, amanheceu. Nem imagino se lesse aquele bendito livro...
Bem o que sobrou, foi meu velho café me esperando, para tomada de seus últimos goles, para seguir jornada, agora pelo túnel, que encurtaria meu caminho...
Quando adentro ele penso ser realmente um túnel ou mais uma artimanha desse meu mais novo e esquisito amigo? Bem, logo logo já vou ficar sabendo...
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