terça-feira, 17 de março de 2015

O FRONT ETERNO

      Percorro agora mundos dos quais poucos tem afinidade, me encaminho ás visões do passado...
Mergulho dentro do mais profundo tártaro. A escuridão e o frio me acompanham, quando de início sinto a lama sob meus pés. Mas não ha tempo de pensar , apenas o momento de reagir: retornei mais uma vez ao meu front de batalha!
     Como em todo o front, há o lado oposto, que em maioria não vi rosto ou qualquer indício, que se assemelhasse, a  algum ente conhecido. Alás, no fundo eu não queria ver, não podia pensar no meu inimigo como alguém igual a mim, que também podia verter uma emoção miníma, que desse a entender que poderia também ter uma alma....Não, naquele momento o que escutava era gritos e grunhidos incompreensíveis...Apenas me fixava no lado em que estava, nas bandeiras, e cores de nosso uniforme.  Lançávamos  nossas setas a esmo mas em direção certa, o que atingisse era lucro, era sobrevivência...Haviam então muitos gritos.
Eram gritos de dor, eram gritos apenas para mostrar que permanecíamos vivos e em pé lutando esbravejando!
Mas havia um grito em especial que soava mais alto, e era o de medo da morte, pois enquanto eu ouvia de um lado uma voz dizendo para mim você tem de morrer, eu gritava bem alto: - mas eu quero viver!!
     Então no final, ficou apenas a determinação prevalecendo acima de todos, de qualquer coisa. Já não contava o que era certo ou errado, daquele que servia a lei ou ao crime,mas tão somente pela determinação de quem quer realmente viver!
No clima mais alto olhei ao meu lado e pude contar os que se encontravam de pé, e vi que muitos não eram bons homens, mas tamanho era sua vontade de continuar que não os julgava mais, não me sentia indigno de combater ao lado deles.Se eram sujos, eu o seria também, a batalha nos fez um só corpo e independente de qualquer sentimento infantil e altruísta queríamos continuar de pé, e quando caíamos mãos se apressavam anos erguer...E nenhuma dessas mãos perguntou ou quis saber de meu passado ou procedência, muito menos da cor de minha pele, e das posses que  teria naquela vida ou anterior a ela...
Eram mãos que se estendiam para que continuasse a lutar a seu lado. E, confesso, Deus como é bom se erguer sob tamanho apoio. Sentir-se parte de algo único de momento também único...
Poderia tranquilamente dizer que se morresse ali naquele fim de mundo, em tantas vezes que a terra nem me pertencia, mesmo ali estaria satisfeito, pois encontrei iguais a mim, com o mesmo sangue e ideal.!
    Então quando os abutres estavam já festejando a chegada prematura de nossos corpos em meio a fatiga ao cansaço, já sem qualquer pensamento de futuro vindouro, bem ao longe escutamos o clarim, o toque de avançar conhecido.Eram nosso reforços se aproximando...Deus que sensação gloriosa!!!
Em meio ao sangue, corpos intactos ou não, você se ergue e sente o verdadeiro sentimento de dever cumprido, e se exalta quando ver seus inimigos correndo, se retirando do campo de combate como podem, e ainda se podem, não olha mais para trás, devido ao pavor e a determinação que encararam dentro dos olhos daqueles que batalharam, e mesmo caindo mil a direita e dez mil a esquerda , mesmo assim permaneceram, ali e em pé.
Sob o abraço de meus novos irmãos de batalha esperamos o reforço chegar e quando chegam, eu é que me despeço deles.Já é hora de partir, retornar.
     Eu me projeto em um impulso alado ao céus e subo novamente pela escuridão e frio profundo, recolho minha respiração, para passar o angustiante tártaro ao Olhar para baixo levemente os vejo acenarem em um até mais breve , mas nunca um adeus.
Em meu mundo o que chamam de real, não sou ninguém e ninguém me conhece...E quem me conheceu, finge não conhecer. Perambulo, como um cão sarnento e abandonado, me chamam de pária...Quando caio, ninguém estende o braço, sequer sua mão, para me erguer; quando eu caio ainda por cima  me chutam, espancam e pisam para que fique caído lá...Ninguém se importa, de quem fui, de que lutei pela liberdade deles, que salvaguardei seus berços de ouro, enquanto sabiam tão somente se encolherem em seus lares, como ovelhas a espera do matadouro. Fui o leão que protegeu as ovelhas...
Vi meus irmãos viverem e morrerem, então por nada pois o povo que não reconhece seus heróis não merece viver...O povo que não sente o sangue de seu próximo derramado sobre si, como lava quente em sacrifício pátrio, e não queima suas entranhas até a alma, os fazendo urrar com a dor da perda , esse povo não merecer ser chamado de povo e muito menos  gente!
    Assim, quando passar o tempo, e  minha alma novamente enfraquecer Eu saltarei novamente nas memórias de meu tártaro, dentro do lamaçal de meu front, e sob os braços e mãos de meus irmãos fantasmas, arranjarei forças para aguentar mais um dia nesse mundo cão, onde lobos não tem vez...
Assim não desistirei, não cairei pois eles, meus irmão não queriam isso...E não os devorarei pois eu não quero lhes dar esse prazer, de expor minha animalidade, como fraqueza, e não forças real e renovadora.
      Eu continuo me erguendo agora nesse novo front onde ainda vence que mais determinação de viver...E quando escuto, os cães dizerem, que sou como os dinossauros, que estou extintos só que ainda não sei....Eu me lembro feliz que pelo menos eu vivi num mundo, que um dia dinossauros pisaram a terra, e lá fizemos a diferença, não passamos a historia, nós fomos a própria história.



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